O fraco rei
Por josé maria couto moreira | 03/03/2016 | CrônicasO fraco rei
José Maria Couto Moreira*
Não vamos, leitores, discorrer aqui sobre rei algum. Tampouco sobre reinos, pois que temos assuntos de maior relevância para tratar neste Brasil enfermo. Seria o caso, então, de envolver o presidente, mas este não existe já por um período longo, cinco anos, visto que os arquétipos de nosso regime republicano são todos do século masculino. A exceção ficou para o século XXI, mas, a eleita, ainda que por dramática diferença de votos, não aceita o valor ou o predomínio da gramática. É que, apesar de advertida pelos melhores filólogos do país, não aceitou o gênero que lhe cabia, igualmente de presidente, mas, muito afrontosamente, designou-se “presidenta” (aqui, já uma original pedalada na “última flor do Lácio”), e impôs o tratamento aos palacianos e a cercania que reside (ou opera ?) em Brasília. Às favas com a gramática ! E às favas foram, de cambulhão, a ética, a verdade, o interesse público e outras quimeras que povoam os pesadelos dos brasileiros que se importam com tais valores e com o bem do país.
Por lembrar pesadelo, imaginem os leitores os pesadelos por que anda penando a senhora “presidenta”. Não sabe se vai ou se fica, está encarcerada num remoinho que, pela manhã, a favorece, à tarde, a aterroriza. E motivos há, ela bem o sabe. A petição arrazoada por mestre Bicudo não é, de imediato, de se jogar às favas. Existem ali fincados o relato de fatos absolutamente inconfrontáveis. E mais: não há voto secreto, que sempre foi a alegria de muitos e o desassossego de outros.
Não podemos esquecer que a distinta senhora mandou e desmandou nesse pobre país, sabia de tudo, tal como o companheiro (e a inteligência do governo ?), e há muito tempo, desde o mensalão, depois o petrolão e, ali entremeado, o infeliz episódio de Pasadena, (a ruiva, codinome que lhe deram os cúmplices). Estava visivelmente enferrujada. A “presidenta” era, a este tempo, também “presidenta” do Conselho da companhia orgulho nacional, citada e cotada em Wall Street e outras praças internacionais. Não, desta vez a poeira não vai, mais uma vez, para debaixo do tapete. Todos nós queremos a retirada desta sujeira, e queremos assistir a limpeza feita e acabada.
Então, está ela agora diante do tribunal do povo. É a Câmara dos Deputados que vai, primariamente, lançar um semiveredito, a ser legitimado pelo Senado Federal, ondes as bases do PT estão claudicando.
E agora, a “presidenta” tem pressa. É preciso. A pressa é preciso. O barco está à deriva, sem rumo, e já fazendo água pelo chão. O juízo da circunstância em que vivemos é tirado da monumental obra de Camões, o épico Lusíadas, que enumera naquele memorável canto o sortilégio da história portuguesa, sua coragem, sua energia, seus fantasmas e suas derrotas.
Temos pressa. Não é mais possível a economia e seus agentes viverem numa indisfarçável dúvida, e com um futuro tão incerto como agora, tudo pela tibieza de uma mandatária errática e enfraquecida. Sim, enfraquecemos. “O fraco rei faz fraca a forte gente” !
*Advogado