O fim de um pescador e banhista inveterado
Publicado em 13 de agosto de 2021 por Carlos José Esteves Gondim
Pescar sempre foi uma grande diversão pra mim. Desde quando menino, passando férias em Maués, Amazonas, na casa de meus avós maternos, eu aprendi a pescar. Preferia linha, embora usasse frequentemente o caniço artesanal. O tempo passou e esse meu “hobby” me acompanhou por onde eu fosse. Até que em 1991, em plenas férias escolares com meus filhos, na praia do Murubira, a bucólica ilha de Mosqueiro, Belém, Pará, este fato aconteceu:
Em um belo dia, final da tarde, já escurecendo, fui eu e meus filhos pescar na praia do Murubira, que era a mais perto de casa. A maré estava vazando. Me acomodei em uma cadeira de alumínio e comecei a preparar o anzol para a pescaria. Era de linha com um único anzol. Um balde plástico colocado ao lado da cadeira serviria de depósito para a esperada farta pescaria. Isquei com minhoca o anzol, soltei a linha na areia e lancei a primeira linhada! Aguardei atento com o sensor nos dedos ligados. Alguns minutos depois a linha deu uma fisgada. Esperei alguns segundos. De novo, mais uma fisgada. Então eu dei um puxão vigoroso, uma fisgada competente e senti que tinha pego alguma coisa. Puxei toda a linha até a areia. Sim, tinha fisgado um peixe. Um peixe de pele, tamanho médio pra grande. Decidi ficar com ele. Depositei alegremente no balde. Identifiquei rapidamente o dito. Era um bacu também conhecido como abotoado, armadillo, bacu pedra, botado ou roque-roque. Empolgado que fiquei, renovei a isca e lancei novamente a linha na água. Mais alguns minutos depois, nova fisgada. Ops! Parece que a pescaria vai ser boa! – pensei alegre e feliz. Dito e feito! Mais um bacu. E outro. E mais outro. Quando o balde já estava cheio, umas 2 horas depois do início da pescaria, resolvi encerrar a vitoriosa empreitada. Retornamos para casa. Planejei: Vou colocá-los no freezer e amanhã preparei uma bela caldeirada!
No outro dia, bem cedo, tirei o balde para descongelar os peixes e começar os pré-preparos para a culinária original e saborosamente ansiada. Pra começar vou tirar as tripas dos peixes. Usando uma afiada faca de cozinha fiz um cuidadoso corte no ventre do bacu. Por um descuido providencial o corte alcançou a tripa do bicho e em um brusco movimento, uma coisa pulou de dentro: um tolete de fezes humana! Não quis acreditar de imediato no que estava vendo. Coloquei o peixe de lado e parti para outro. Agora, deliberadamente fiz o corte profundo da tripa do outro bacu. E novamente novo tolete apareceu! Não teve jeito! Peguei “corda” e decidi descartar todos os peixes que tinha alegremente pescado na véspera! A caldeirada tão aguardada foi pro brejo, ou melhor, pro lixo!
Na hora do banho, ainda com a maré vazando, retornamos à praia do Murubira. Desta vez só para tomar banho e se divertir. Nada de pescaria! Mesmo assim, eu muito curioso e invocado que estava, resolvi tirar a prova dos nove. Comecei uma atenta caminhada pela linha da maré observando o que tinha na água trazida pela maré. Desgraçadamente alguns passos adiante, vi com os meus olhos que um dia a terra irá de comer, uma coisa que rolava compassadamente, indo e vindo na areia molhada na linha de maré: um tolete, dois toletes, três toletes! Se por um lado me decepcionei em constatar que o homem está poluindo o ambiente com seus dejetos, por outro fiquei feliz em saber que o bacu está tentando eliminar essa mesma poluição ao ingerir os toletes humanos. Esses foram os grandes motivos de encerrar a minha diversão como pescador e também como banhista nessa praia! Nunca mais quis saber de pescar ou tomar banho de praia, pelo menos nessa bucólica praia…