Pescar sempre foi uma grande diversão pra mim. Desde quando menino, passando férias em Maués, Amazonas, na casa de meus avós maternos, eu aprendi a pescar. Preferia linha, embora usasse frequentemente o caniço artesanal. O tempo passou e esse meu “hobby” me acompanhou por onde eu fosse. Até que em 1991, em plenas férias escolares com meus filhos, na praia do Murubira, a bucólica ilha de Mosqueiro, Belém, Pará, este fato aconteceu:

Em um belo dia, final da tarde, já escurecendo, fui eu e meus filhos pescar na praia do Murubira, que era a mais perto de casa. A maré estava vazando. Me acomodei em uma cadeira de alumínio e comecei a preparar o anzol para a pescaria. Era de linha com um único anzol. Um balde plástico colocado ao lado da cadeira serviria de depósito para a esperada farta pescaria. Isquei com minhoca o anzol, soltei a linha na areia e lancei a primeira linhada! Aguardei atento com o sensor nos dedos ligados. Alguns minutos depois a linha deu uma fisgada. Esperei alguns segundos. De novo, mais uma fisgada. Então eu dei um puxão vigoroso, uma fisgada competente e senti que tinha pego alguma coisa. Puxei toda a linha até a areia. Sim, tinha fisgado um peixe. Um peixe de pele, tamanho médio pra grande. Decidi ficar com ele. Depositei alegremente no balde. Identifiquei rapidamente o dito. Era um bacu também conhecido como abotoado, armadillo, bacu pedra, botado ou roque-roque. Empolgado que fiquei, renovei a isca e lancei novamente a linha na água. Mais alguns minutos depois, nova fisgada. Ops! Parece que a pescaria vai ser boa! – pensei alegre e feliz. Dito e feito! Mais um bacu. E outro. E mais outro. Quando o balde já estava cheio, umas 2 horas depois do início da pescaria, resolvi encerrar a vitoriosa empreitada. Retornamos para casa. Planejei: Vou colocá-los no freezer e amanhã preparei uma bela caldeirada!

No outro dia, bem cedo, tirei o balde para descongelar os peixes e começar os pré-preparos para a culinária original e saborosamente ansiada. Pra começar vou tirar as tripas dos peixes. Usando uma afiada faca de cozinha fiz um cuidadoso corte no ventre do bacu. Por um descuido providencial o corte alcançou a tripa do bicho e em um brusco movimento, uma coisa pulou de dentro: um tolete de fezes humana! Não quis acreditar de imediato no que estava vendo. Coloquei o peixe de lado e parti para outro. Agora, deliberadamente fiz o corte profundo da tripa do outro bacu. E novamente novo tolete apareceu! Não teve jeito! Peguei “corda” e decidi descartar todos os peixes que tinha alegremente pescado na véspera! A caldeirada tão aguardada foi pro brejo, ou melhor, pro lixo!

Na hora do banho, ainda com a maré vazando, retornamos à praia do Murubira. Desta vez só para tomar banho e se divertir. Nada de pescaria! Mesmo assim, eu muito curioso e invocado que estava, resolvi tirar a prova dos nove. Comecei uma atenta caminhada pela linha da maré observando o que tinha na água trazida pela maré. Desgraçadamente alguns passos adiante, vi com os meus olhos que um dia a terra irá de comer, uma coisa que rolava compassadamente, indo e vindo na areia molhada na linha de maré: um tolete, dois toletes, três toletes! Se por um lado me decepcionei em constatar que o homem está poluindo o ambiente com seus dejetos, por outro fiquei feliz em saber que o bacu está tentando eliminar essa mesma poluição ao ingerir os toletes humanos. Esses foram os grandes motivos de encerrar a minha diversão como pescador e também como banhista nessa praia! Nunca mais quis saber de pescar ou tomar banho de praia, pelo menos nessa bucólica praia…