O fim da memória ? Eugenia Meyer

O texto "O fim da memória" da autora Eugenia Meyer, acarreta a utilização da oralidade na construção da história, suas pesquisas consiste na realização de entrevistas gravadas com pessoas que podem testemunhar sobre acontecimentos passados para a construção dos fatos.
A autora revela um dos pontos que o historiador é permitido usar na captação de dados: " o historiador precisa de imaginação e inventividade; caso contrário, estará vencido antes mesmo de começar a cruzada" ( MEYER, Eugenia. 2009: p. 33). Ou seja, é um trabalho que requer astúcia, para driblar algumas "verdades escondidas", que muitas vezes são encubadas, riscadas, esquecidas, com o intuito de confundir ou manchar parte da história, que em muitas vezes essas "verdades escondidas" se chegar a tona são inconvenientes na construção de algumas ideologias.
O texto descreve um pouco da vida da autora em sua batalha para retratar a história através de suas experiências de trabalho, depois de perambular com o gravador na mão, de escutar, indagar, perguntar, questionar e procurar saber de sim mesma qual o verdadeiro sentido da tarefa histórica. Ou seja, a autora passa a provar um pouquinho do próprio veneno. Foi a partir da década de 60 e princípios da década de 70, que começou a planejar e maquinar de que maneira poderia formular um projeto de resgate de testemunhos diretos dos velhos revolucionários a partir da metodologia da historia oral. Seus relatos deixam claro a enorme importância de considerar, respeitar, e aprender outras formas de pensar e atuar, valorizando cada um daqueles indivíduo que compartilharam seu passado.
Em sua trajetória de relatar os fatos, conheceu um médico e se comprometeu em reconstruir sua história de vida. Depois de meses e meses de sessões semanais, finalmente teve a versão escrita, e ao levar até o médico, ele pediu que ela lesse as quase duas mil páginas, e ao ouvir disse que não podia concluir aquele trabalho, pois percebeu que tinha esquecido de narrar muitíssimos detalhes e havia sérias omissões no texto. Com esse acontecimento a autora se viu obrigada a refletir sobre o significado e a importância desse acontecimento para ela.
A autora mostra que os erros são comuns a todos nós: "tive que conviver com os erros na entrevistas, descobrir casos certamente comuns a todos nós" (MEYER, Eugenia. 2009: p. 39). Além disso a autora, teve que aprender a escutar e observar, saber como agir diante das pautas, dos silêncios, das tristezas e das injúrias. E um dos pontos mais importante, estar atenta, não interromper, respeitar a pessoa que estar à nossa frente e que está disposta a compartilhar seu passado. Dessa forma podemos entender que se a história se define sobre o modelo da escritura, os fatos que a motivam podem ser apreendidos das mais diversas formas. E é com esse sentido que a história oral recolhe o fator testemunho como uma constante da presença humana, tanto nos eventos históricos como nos processos cotidianos, redescobrindo a alteridade.
O texto também traz a problemática que o historiador tem de conquistar e alcançar uma história de realidade, de representações, de ideologias e de mentalidades. Uma história inclusive, da imaginação. Pois cada caso existe a possibilidade concreta de falsificação. É nesse contexto, que surge mais um desafio final, que é o de conhecer e entender antes de avaliar e interpretar.
Com isso a autora, mostra que se fortalece e se complica o compromisso do historiador. Eugenia Meyer, relata que trabalhar com documentos diversos, biblio-hemorografias sisudas, que tem o objetivo de iluminar sobre o passado e o comportamento humano, é totalmente diferente de ter a história viva diante de si e ter também a possibilidade maravilhosa de questioná-la. Pois para Meyer, cada entrevista realizada foi uma lição de vida.
Declara que trabalhar com veteranos de movimentos sociais, ou de experiências fundamentais na história do seu país, foi muito mais simples que se lançar na estruturação da história. A autora deixa claro que trabalhar com mulheres tem implicações diferentes de trabalhar com homens, pois não se trata de uma questão ideológica, e sim de gênero, pois em algumas ocasiões as mulheres podem ser muito mais receosas e até distantes, incapazes de compartilhar sua intimidade, e no caso dos homens, em muitas ocasiões vêem a entrevista como um desafio a sua hombridade, e por isso, têm uma verdadeira necessidade de assombrar e de nos convencer a se tornar seu cúmplice, a partir do fato de que eles estão certos que nós acreditamos neles e aprovamos toda a sua história.
A autora também relata, que em umas de suas entrevistas e de forma inconsciente estava imersa na introspecção e na proibidíssima transferência, pois se encontrou fazendo perguntas que não era dirigida a entrevistada, e sim a si própria.
Meyer, ao olhar para esse passado, com o propósito de recuperar do esquecimento a memória das pessoas, nota que recupera a sua memória pessoal, e lembra também que alguém lhe falou que tinha habilidade de fazer até as pedras falarem. Mais na verdade o que a autora foi realmente capaz de desenvolver, foi a capacidade de escutar os outros e, depois, escutar a si mesma, e de manter um diálogo permanente em seu interior, sempre em função do que os outros lhe contaram.
O texto "O fim da memória" deixa muito claro nas ocasiões em que a autora e entrevistadora Eugenia Meyer se transforma em sujeito da entrevista, e declara que se sentiu desconfortável, e tão fora do lugar, pois cada um de nós temos um relato para contar e compartilhar, é só assim que venceremos o esquecimento.
Toda essa luta tem um fundamento, que é o de lutar contra o esquecimento com o objetivo de impedir que a memória chegue a um fim.