Gosto de adoptar determinados termos da linguagem corrente brasileira por conseguirem por vezes numa palavra apenas definir tão bem determinados comportamentos humanos. Um desses termos é o ´ficar’.  Para quem desconhece o significado deste termo nada mais é do que uma relação afectiva esporádica entre duas pessoas, ou seja, é o termo que define aqueles encontros que normalmente duram apenas  um dia ou uma noite.  

Conheço pessoas (mais do sexo masculino, por acaso) que são ficantes profissionais. Um deles posso até dizer que é um ‘expert’ na arte de ficar. Sou amiga dele e nada tenho haver com a sua vida privada, mas ele destaca-se porque tem uma espécie de compromisso estável mas insiste em levar essa vida e pior, não tem qualquer problema em partilhar a cama do compromisso com as suas ficantes.

Ele tem uma coleção de experiências , mas vou apenas contar uma recente que me chamou a atenção por ter um fundo de comédia.

Estava então este meu amigo, num evento social, onde por acaso estava também presente uma espécie de usual ficante, ou seja, uma mulher com quem ele já havia ficado umas duas ou três vezes. 

Ela apresenta-se quase sempre muito sensual e não consegue disfarçar a atração que continua a sentir pelo meu amigo, o qual por sua vez corresponde. Não sei se por querer mantê-la numa lista de opções para os dias das vacas magras, ou por querer mais uma vez comprovar a sua habilidade em seduzir, ou ainda, simplesmente por se achar um cavalheiro e sentir-se no dever de satisfazer  as necessidades (que nestes casos, são meramente físicas) da dama em questão.

O certo é que acabam os dois, depois de uma oferta de boleia por parte dele para leva-la  à casa,  por ir parar à casa dele. Contudo,  desta vez a espécie de usual ficante, sente-se desconfortável porque em casa dele depara-se com vários pertences pessoais da comprometida que parece agora ter ganho um espaço maior na vida do meu amigo. Não que isso a incomode muito, mas por vezes a nossa consciência decide sem aviso avivar os valores que outrora nos foram transmitidos pelos nossos progenitores. Ela então pensa melhor e pede ao seu ficante para leva-la para casa. Estão mesmo a ver que depois de chegar até aí o meu amigo ficante dificilmente voltaria atrás e essa atitude da dama chega a despertar nele um certo desafio que apimenta o desejo. Claro que foram só necessários alguns beijinhos e alguns toques estratégicos para convencê-la a ficar.

Passada a fase seguinte,  e já um tanto avançada, e é aqui que a sangria ocorre, ele repara que está coberto de sangue. Levanta-se assustado ao ver o sangue a escorrer-lhe pelas pernas. A princípio ele não sabia se o problema era dele ou dela, dúvida que foi logo esclarecida pelo olhar divertido da dama que o informa que o período dela tinha iniciado naquele preciso momento. Ele preocupou-se logo em levantar o lençol para ver se o colchão no qual dormia com a comprometida havia sido afectado. E por azar o colchão havia sido atingido sim. Ela ainda tentou limpar mais parece que quanto mais limpava mais manchado o colchão ficava. Foi então que ela teve a brilhante ideia de virarem o colchão ao contrário. Puseram novos lençóis e para evitar uma nova sangria decidiram, sem precisarem sequer de falar, de não retomarem a actividade de a pouco. Ela não ficou desapontada pois já havia conseguido ter prazer pelo menos duas vezes. Infelizmente o mesmo não aconteceu com o meu caro amigo.

Não sei se ele terá aprendido algo com essa experiencia. Sinceramente,  acho que não. Talvez tenha apenas decidido tirar da sua lista de opções essa espécie de usual ficante.

 

Penso que dessa vez o meu caro amigo não se deu muito bem  e só espero que troque de colchão, pois não vá o Diabo tecê-las,  e acontecer o mesmo com a comprometida, que ao virarem o colchão esta se deparare com os vestígios de uma sangria da qual não tinha conhecimento.