Quando a luz escureceu e a melacolia da noite caiu sobre a cidade, Christine perdeu seu amado pai violinista, e foi ele oculto nos recônditos sombrios da Ópera francesa em pleno século XIX quem a protegeu da orfandade como um carinhoso tutor, lhe ensinando a cantar, compartilhando sua genialidade musical, preparando-a para a ascenção e arriscando-se por isso. Mas quando o teatro é vendido e um novo patrocinador surge no horizonte, Raoul, o belo, de feições finas e perfeitas, um visconde, da nobreza lhe arranca suspiros apaixonados. Christine, linda, entrega-se aos apelos da estética do mundo que lhe formara para olhar e aceitar o que lhe era convencional. Enquanto isso, Erik, sofre e tenta conquistar seu coração, suplica melodiosamente que Christine, seu grande amor, dona de seus sonhos e esperanças mais profundas, lhe salve da solidão e compartilhe de sua vida, de seu mundo, que ilumine sua alma e regenere seu espírito insano por anos de rejeição. Christine chega a se deixar levar por um breve momento, encantada com gênio tão perfeito, mas quando lhe arranca a máscara e encara sua feição deformada, de uma "odiosa gárgula que queima no inferno, mas secretamente deseja o céu", expressa espontâneamente sua repugnância e volta seu olhar e amor para o certinho Raoul.
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Desesperado de ciúmes, Erik duela com Raoul, aprisionando-o e deixando à Christine duas escolhas: ficar com ele para que Raoul continue vivo ou deixá-lo e ver a morte de seu amado. Quando a escolha é feita, Erik percebe que mesmo ao lhe escolher, Christine na verdade havia escolhido à Raoul, era ao belo que ela amava. Então, profundamente decepcionado Erik a deixa ir com Raoul viver o que uma dama da corte desejava: ser uma adorada esposa e mão, reverenciada pela sociedade. Expectativa que Erik com sua deformidade do rosto e da alma por anos de humilhação e desprezo alheio jamais poderia lhe dar. O que o Fantasma da Ópera poderia a Christine oferecer senão suas próprias trevas, sua música e seu amor. O que ela interpretava como horror e maldição para ele era a essência de seu espírito. Erik quebra então os espelhos que refletiam suas impossibilidades e some no mistério de si mesmo, na dor de sua solidão, no esquecimento de seus sonhos. A Ópera obtém então seu final feliz como os belos protagonistas juntos e o vilão derrotado.
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Seria uma obra prima de fato se conseguisse ultrapassar os valores aristocráticos da sociedade da estética do belo, do formalismo dos certinhos, mas rende-se aos valores burgueses e suprime o que lhe é estranho, diferente, incompreensível. Não há espaço para o feio, para o errado.
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É uma das obras mais tristes que a arte legou ao mundo e que ainda hoje não é compreendida em todo seu teor.
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Quantos Erik's existem por aí lançados às profundezas de suas mentes perdidas para que Raouls e Christines possam viver a felicidade dos heróis gloriosos e tediosos?
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Por isso sempre preferi os anti-heróis.
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Salve o Fantasma da Ópera na impossibilidade de seu ser, vivendo um amor não correspondido, mas com a intensidade de seu sentimento muito além de Raouls e Christines.