1. Introdução

Cioran é um autor contemporâneo — nascido na Romênia, em 1911 e morto em Paris, em 1995 — ainda muito pouco lido academicamente. A sua obra traduz em grande parte o espírito do século XX, cheio de crises e incertezas. Não é por outro motivo que a sua escritura é fragmentária, recorrendo muitas vezes ao aforismo.

Pensador privado, como Schopenhauer e Nietzsche, Cioran escolhe uma via própria, pessoal, extemporânea. Ele faz sua a experiência do “sem sentido”, do que ultrapassa o entendimento, na vivência mais imediata que há: a de seu corpo. Seu pensamento nasce das vísceras e apreende o ser em sua manifestação mais enigmática. De certa forma é um metafísico. Um metafísico ateu, leitor dos grandes místicos ocidentais, dentre os quais Teresa D’Ávila, por quem nutria grande admiração.

É exatamente na antinomia entre a mística e o ceticismo que o pensamento sobre a música ganha fôlego em Cioran. Para ele, apenas a música é capaz de transpor a dureza conceptual, alcançando regiões que o uso da razão representativa não atinge.

O êxtase musical é perseguido por Cioran, ao longo de sua obra, como a via não religiosa do êxtase místico. Mística e música assumem, pois, uma dimensão de grande importância para o pensador romeno: “A mística é uma irrupção do absoluto na história. Ela é, assim como a música, o nimbo de toda cultura, sua justificação última” (CIORAN, 1995b: 306).

Desta maneira, Cioran filia-se à tradição inaugurada por Schopenhauer, e prosseguida por Wagner e Nietzsche, de fazer da música objeto central da investigação filosófica. Esta afirmação basta para que possamos deduzir a necessidade de uma pesquisa mais elaborada da função da música no pensamento de Cioran.

  1. Música e Mística

Que a música pertença ao domínio místico é uma evidência confirmada pela maior parte das tradições. Ela surge como um modo de acesso privilegiado ao divino. Cioran está bem ciente disso e seu gosto pela música relaciona-se diretamente com a sua interrogação sobre o divino. Para ele, somente a música pode trazer uma resposta satisfatória às suas indagações, uma vez que as vias místicas tradicionais não levam em conta a dupla natureza do homem: material e espiritual.

De natureza material e espiritual ao mesmo tempo, a música propõe uma via mediana de acesso ao absoluto por ser, nas palavras de Cioran, “[...] de uma essência superior à vida e à morte” (1995a:1662). Ela exerce um irresistível fascínio porque nos reintegra imediatamente à uma região comumente inatingível. A música conduz-nos para fora do mundo da causalidade, ela não é uma imagem do absoluto, mas sim o próprio absoluto, tal como podemos ler em Schopenhauer:

A música, com efeito, é uma objetidade, uma cópia tão imediata de toda vontade como o mundo o é, como são as próprias ideias cujo fenômeno múltiplo constitui o mundo dos objetos individuais. Ela não é, portanto, como as outras artes, uma reprodução das ideias, mas uma reprodução da vontade como as próprias ideias (SCHOPENHAUER, 2001: 271).

Para Cioran, fazendo-se a metáfora da unidade, a música chega a sugerir um estado de graça que não pode ser traduzido sem trair o discurso filosófico. Chave secreta e discreta, resposta às interrogações metafísicas, ela abre e fecha os desenvolvimentos sobre a mística. Nesse sentido, interessa-nos mais a música como via ontológica do que como criação artística.

            A música supõe uma atitude contemplativa que nos autoriza a inseri-la na ordem mística. Todos os metafísicos que não se prenderam ao cânone do conceito recorreram a ela. Schopenhauer a definiu como “[...] o exercício oculto de que tratam os metafísicos a partir do espírito que desconhece” (2001: 278). Notam-se aqui os traços comuns entre Schopenhauer e Cioran. Eles estão próximos menos por seu pretenso e superficial pessimismo do que por seu idealismo e sua nostalgia de um mundo de essências, representado pelo fenômeno singular que é a existência da música.

            Dotada de uma densidade ontológica, a música se impõe sem ter necessidade de recorrer à significação. Excluída do campo habitual da representação e do conceito, ela permanece desembaraçada dos inconvenientes da visão dualizadora. Ninguém precisa recorrer à abstração para perceber um sentido que se dá de imediato, estando o signo em perfeita coincidência com o seu conteúdo.

            Ao estado perfeito do ser que a música encarna, responde a intuição de uma unidade originária da qual ela seria a voz cuja nostalgia trazemos em nós. Universo da reminiscência, infinito percebido, onde se fundem devir e passado, a música exprime uma metáfora do tempo absoluto.

            Arte do tempo, a música o transcende organizando-o. Pertencente à categoria onde a negação não mais se exerce, ela reconcilia os contrários fazendo-nos, concomitantemente, ter sensações do tempo e do infinito que ela atualiza. Nela misturam-se intimamente matéria e espírito.

            Matéria transmudada ou espírito encarnando, eclosão sonora de uma dimensão inacessível, a música carrega o signo mais evidente de uma verdade esquecida. Ela se situa nas fronteiras indefinidas de mundos que não se podem interpenetrar.

Mas refletindo sobre a música, somos levados a admitir a existência, por causa do homem, de uma certa categoria de coisas que se situam paradoxalmente nos confins de dois mundos. Elas pertencem ao nosso universo material, encontrando lugar no espaço e no tempo, mas consideradas nelas mesmas, em sua própria materialidade, elas nos mostram uma realidade cujo ser é ao mesmo tempo concreto e ideal (SCHLOEZER, 1979: 43).

            O místico em êxtase alcança essa fronteira, transportando-se para uma dimensão mais ampla, que não representa um estado de consciência, mas um estado d’alma, uma “Stimmung”. A contemplação mística pode ser definida, para usar um conceito platônico, como noésis, ou seja, intuição imediata da realidade última do mundo. O êxtase místico revela por um instante a constituição unitária e originária das coisas. Ele condensa o tempo vivido em eternidade. “Trata-se de uma experiência de uma intensidade excepcional” (CIORAN, 1990: 14).

            Dessa forma, a experiência extática mística ultrapassa os limites da extensão material, alargando-a em direção de uma intensidade que toma o ser por completo e o reconduz à sua unidade originária. Mais uma vez matéria e espírito, essa dupla característica do homem, conjugam-se nos limites do palpável e do insondável, da temporalidade factual e da eternidade.

            Portanto, podemos inferir certo parentesco entre os êxtases místico e musical. Ambos tendem a romper a simples consciência representativa para mergulhar o homem em uma experiência completamente nova acerca da existência. Nesse sentido, o êxtase busca a dissolução da consciência individual, do eu, permitindo o acesso imediato ao absoluto.

            Algumas questões impõem-se, inicialmente, a quem quiser compreender a complexa relação firmada por Cioran entre música e mística: 1) se o êxtase musical é uma via para o absoluto, caracterizando-se como uma co-extensão do êxtase místico, não seria necessário estabelecer-se um estatuto ontológico próprio da experiência musical, deixando de lado a sua simples estetização? 2) De que maneira, então, Cioran se apropria das teorias sobre a música, sobretudo a de Schopenhauer, para justificar a sua categorização da música como um evento metafísico? 3) O êxtase musical em Cioran advém de uma ascese? Isto é, há toda uma liturgia preparatória, ou ele independe de um exercício prévio? 4) É possível atribuir a Cioran a criação de um princípio do prazer que se opõe a um princípio de realidade, sendo a música uma das fontes primárias do princípio do prazer?

            Como o escopo deste trabalho não permite o desenvolvimento de todas as questões levantadas acima, iremos nos ater apenas à primeira delas, na tentativa de traçar um esboço preliminar do estatuto ontológico da experiência musical em Cioran.

  1. Esboço da ontologia do êxtase musical em Cioran

Em Le Livre des Leurres, Cioran traça, de saída, um retrato de como o êxtase musical age sobre seu ser. Somos informados a respeito de como a música mexe com a sua disposição física e emocional. O primeiro sintoma apontado por Cioran é o da perda de sua condição material. O êxtase musical o faz experimentar um estado do ser completamente livre daquilo que Nietzsche chamava, no Zaratustra, de “o espírito de gravidade”, que impede a leveza do ser, que prende os pés do ser ao solo impedindo-os de dançar. Com a música o corpo recupera a sua dimensão de liberdade, sua fluidez.

Eu sinto que perco matéria, que as minhas resistências físicas decaem e que me dissolvo na harmonia e na ascensão de melodias interiores. Uma sensação difusa e um sentimento inefável reduzem-me a uma soma indeterminada de vibrações, de ressonâncias íntimas e de sonoridades cativantes. Tudo o que acreditei singular em mim, isolado na solidão material, fixada numa consistência física e determinada por uma estrutura rígida, parece ter-se resolvido num ritmo de sedutora fascinação e de uma esquiva fluidez. Como posso eu descrever com palavras o modo como as melodias se implantam nesse que é o meu corpo a vibrar integrado na vibração universal, evoluindo em sinuosidades fascinantes cuja irrealidade aérea me transporta? Nos momentos de musicalidade interior, perco o gosto pelos materiais pesados, perco a minha substância mineral, essa petrificação que me liga a uma fatalidade cósmica, e corro para o espaço, repleto de miragens, esquecido da sua ilusão, e de sonhos, indiferente à sua irrealidade (CIORAN, 1992:7-8).

            O êxtase musical conduz o homem a uma viagem interior, semelhante àquela da experiência mística, durante a qual deixam de existir as fronteiras entre o exterior e o interior, entre a parte e o todo, entre o individual e o universal. No estado musical o “eu” se impessoaliza tornando-se “eu” universal, ou um “eu” sem ego, despersonalizado pela intensidade da torrente de imagens sonoras que o percorrem e o transmudam.

Ninguém compreenderá o sortilégio irresistível das melodias interiores, ninguém sentirá a exaltação e beatitude se não está satisfeito com esta irrealidade e não amar mais o sonho que a evidência. O estado musical não é uma ilusão porque nenhuma ilusão pode dar uma garantia de tal magnitude, nenhuma sensação orgânica absoluta de vida incomparável significativa por si mesma e expressiva na sua essência. Nestes momentos, quando nós ressoamos no espaço e em que o espaço ressoa em nós, nestes momentos de torrente sonora, de possessão integral do mundo, não posso deixar de me perguntar por que não sou o universo. Ninguém terá provado com uma louca e incomparável intensidade o sentimento musical da existência, se não for tomado pelo desejo desta exclusividade absoluta, se não fizer prova de um imperialismo metafísico irremediável desejando abolir as fronteiras que separam o mundo do eu. O estado musical associa no indivíduo o egoísmo absoluto com a absoluta generosidade. Apenas se quer ser a si, não por orgulho mesquinho, mas por vontade suprema de unidade, por um desejo de romper as barreiras da individualidade; não para fazer desaparecer o indivíduo, mas as condições exigentes impostas pela existência do mundo. Quem já não sentiu o desaparecimento do mundo, como realidade limitativa, objetiva e distinta, quem já não teve a sensação de absorver o mundo nos seus impulsos musicais, nas suas trepidações e nas suas vibrações, esse jamais compreenderá a significação desta experiência onde tudo se reduz a uma universalidade sonora, contínua, ascensional, tendendo para as alturas num caos aprazível. E o que é o estado musical senão um doce caos onde as vertigens são beatitudes e as ondulações êxtases?(CIORAN, 1992:8-9).

             Metafisicamente a música se opõe à substância. Ela não se faz para a matéria. É preciso ir além da forma substancial para auscultar os seus mistérios. Schopenhauer a definiu da seguinte maneira: “Musica est exercitium metaphysices occultum nescientis se philosophari animi”[1] (SCHOPENHAUER, 2001: 278). Cioran parece seguir os passos do filósofo alemão. No êxtase musical, a intensidade prevalece sobre a extensividade. O pulsar rítmico do devir dissolve a substância permitindo a manifestação de outro estado do ser, no qual a vida se redimensiona.

Perdi a substancialidade, essa irredutível que me dava uma proeminência e um contorno, que me fazia tremer diante do mundo e me sentir abandonado numa solidão mortal; e cheguei a uma imaterialidade doce e ritmada, na qual procurar ainda o eu não tem qualquer sentido, porque a minha ‘melodização’, minha metamorfose em melodia, num ritmo puro, me arrancou das relatividades habituais da vida (CIORAN, 1992: 9).

            O novo estado que o ser alcança no êxtase musical é mais primordial, mais primevo. Remonta a antes da individuação, quando a unicidade do ser se construía sobre um princípio de identidade extremo. Cioran assim se refere a esse estado: “O êxtase musical é um retorno à identidade, ao original, às primeiras raízes da existência. Não há nele nada mais do que o puro ritmo da existência, a corrente imanente e orgânica da vida. Eu escuto a vida. A partir daí surgem todas as revelações” (CIORAN, 1992: 10).

            Cioran se volta para um problema metafísico fundamental: a antítese entre temporalidade e eternidade. A eternidade é a presença do absoluto, nela não há distinção entre existências. A temporalidade é o recorte de uma existência no tempo. A unicidade se dá na eternidade. A individuação, na temporalidade. O êxtase, seja ele místico ou musical, traduz uma experiência atemporal. Portanto, o êxtase faz com que o indivíduo se confronte com a unicidade. Permite-lhe transir a eternidade na fugacidade de um átimo.

            Do ponto de vista ontológico, Cioran considera a existência temporal um abandono, uma solidão. Somente na atemporalidade da unicidade é possível encontrar a harmonia do ser. Fora dela, há tão-somente o desconsolo da existência individual. Assim, o êxtase é uma nesga no tecido do tempo que permite ao ser congraçar-se consigo mesmo, atendo-se àquilo que lhe constitui de maneira mais própria.

            A música nasce dessa tristeza profunda que o ser individuado experimenta. Filha de uma nostalgia tremenda, ela conduz o ser numa viagem de volta a si mesmo, à unidade primordial que o constituía antes da queda no tempo, ao absoluto do qual as individuações saíram e para o qual regressarão um dia. Em entrevista a Sylvie Jaudeau, Cioran diz que a música “é a única arte que confere um sentido à palavra absoluto” (1990: 28). Contudo na experiência musical assoma um paradoxo, o absoluto efêmero. Ou seja, a experiência do absoluto dura até o último acorde, até o silêncio restituir-nos à nossa solidão – condição irremediável de todo existente.

            Por isso o êxtase musical deve ser renovado constantemente. Segundo Cioran apenas por intermédio dele “temos a sensação de tocar as extremidades, de não poder ir além. Nada mais conta e existe. Encontramo-nos imersos num universo de pureza vertiginosa” (1990: 28-29). Ainda de acordo com Cioran, a música é a linguagem da transcendência. Porque ela abole os limites e as fronteiras da individuação, torna-se capaz de promover a cumplicidade entre os seres, partícipes de uma mesma unidade.

  1. Conclusão

O êxtase musical e o êxtase místico são duas vias de acesso ao absoluto, segundo Cioran. Embora distintos esses êxtases proporcionam experiências bastante similares: a busca do absoluto, daquele estado em que o ser individuado se dissolve na identidade pura e primeva.  Para o pensador romeno a música não é capaz de nos salvar da morte, muito pelo contrário, ela nos aproxima da morte à medida que nos arrasta para a eternidade.

Ao contrário de Martin Heidegger, para quem a finitude constitui “o modo fundamental de nosso ser” (1992: 22), Cioran enxerga nela uma impropriedade ontológica, resultante da individuação do ser. Assim, contrapõem-se finitude e infinitude, o ser limitado e o ser ilimitado.

A música é da ordem da infinitude, ela transcende o que é materialmente constituído. Ela é a mensageira da nossa nostalgia do absoluto. Momentaneamente imersos no fluxo de ritmos e melodias somos levados a experimentar o êxtase musical. Contraditório em si mesmo, o êxtase musical, possuidor, ele mesmo, de uma extensão temporal, nos introduz na dimensão atemporal da eternidade. Mas essa experiência é fugidia: ela não dura mais do que o tempo de execução da peça musical. Tão breve quanto o gozo do êxtase é o retorno à nossa condição existencial. Então, só nos resta uma saída como tentativa de escapar do abandono e da solidão que o nosso estado ontológico de seres individuados nos impinge: repetir a experiência musical indefinidamente. A propósito, a máxima de Nietzsche de que a vida sem a música seria simplesmente um erro, uma tarefa cansativa, um exílio, recebe o seu significado mais profundo na interpretação de Cioran: “Só a música é uma “tentação”: pois somente ela pode nos desviar das finalidades da vida. Uma sensação musical profunda resulta da impossibilidade do homem se realizar na vida. A música nos “liberta” da vida, fazendo com que nos esqueçamos dela” (1992: 101). Como afirma o pensador romeno:

Somente aqueles que sofrem por causa da vida amam a música. A paixão musical substitui todas as formas de vida que não tenham sido experimentadas, e compensa, no plano da experiência íntima, as satisfações limitadas ao círculo dos valores vitais. Quando se sofre de viver, a necessidade de um mundo novo se impõe, um mundo diferente daquele no qual se vive habitualmente, para evitar se perder em um interior desabitado. E esse mundo, apenas a música o propõe (1992: 45).

Esse mundo proposto pela música nem mesmo chega a ser um mundo interior, pois cessa de existir a distinção entre o dentro e o fora, é um mundo onde a consciência deixa de ser primordial e esvanece ao sabor do fluxo sonoro que arrasta o ego numa correnteza de ritmos e melodias que o esgarça até a dissolução no ser universal.

Portanto, podemos afirmar que, em Cioran, o estatuto ontológico do êxtase musical é o da reintegração da parte no todo, da reassimilação da existência individuada na unicidade do absoluto, da integração do temporal no eterno, da desintegração do limitado no ilimitado, da incorporação do finito no infinito, ainda que essa experiência seja transiente e necessite ser constantemente repetida.

  1. Referências bibliográficas
  1. CIORAN, E. M. Aveux et anathèmes in Œuvres. Paris: Gallimard, 1995a.
  2. _____. Des Larmes et des saints in Œuvres. Paris: Gallimard, 1995b.
  3. _____. Entretiens avec Sylvie Jaudeau. Paris: José Corti, 1990.
  4. _____. Le Livre des Leurres. Paris: Gallimard, 1992.
  5. HEIDEGGER, Martin.  Les concepts fondamentaux de la métaphysique: monde, finitude, solitude. Paris: Gallimard, 1992.
  6. SCHLOEZER, Boris. Introduction a Jean Sebastien Bach. Paris: Gallimard, 1979.
  7. SCHOPENHAUER, Arthur. O Mundo como Vontade e Representação. Tradução M. F. Sá Correia. Rio de Janeiro: Contraponto, 2001.


[1] “A música é o exercício oculto de que tratam os metafísicos a partir do espírito que desconhece”.