O EXEMPLO DE CINGAPURA

Um modo a meu ver errado de combater o vício das drogas e a criminalidade é divulgar os planos e as medidas efetivas que estão sendo adotadas.
Há alguns anos, no Rio de Janeiro, toda uma quadrilha fugiu de um esquema policial previamente anunciado para prendê-la, porque o comandante da operação resolveu dar uma entrevista.
Ora, se as medidas são estratégicas não se deve bater com a língua nos dentes sobre sua adoção nem dizer quais são elas, nem a bem de conversa dos responsáveis com quem quer que seja, nem através de entrevistas das autoridades à imprensa.
Não é preciso o Estado dar satisfação ou informar ao povo o que está sendo feito para sua segurança e proteção. Os governantes e as autoridades já têm o aval da sociedade, pelo voto e pelos impostos pagos, e a implícita procuração para agirem em seu nome.
Já faz algum tempo, um veterano jornalista nosso costumava dizer sobre as manchetes de fatos acontecidos lá do outro lado do mundo: "O povo não quer saber o que está acontecendo lá na China, e sim o que aconteceu ali na esquina."
Mas infelizmente, neste caso, os exemplos locais não servem como modelo.
Talvez os leitores já tenham ouvido falar de um lugar distante daqui, chamado Cingapura, no arquipélago da Malásia, onde um sistema misto de governo administra o país.
Cingapura, habitada por chineses, ingleses, malaios e indianos, há 30 anos era um dos países mais subdesenvolvidos, atrasados e miseráveis do mundo, com um alto índice de analfabetismo e criminalidade. Hoje, com a mesma população mista de nativos e estrangeiros, contando com aproximadamente 4 milhões de habitantes, passou a ser um modelo internacional com as medidas administrativas, jurídicas, econômicas e sociais adotadas por um governo parlamentar misto, político e religioso, que utiliza em parte princípios morais do budismo, do islamismo e de outras religiões.
A cidade-estado de Cingapura, capital do país de mesmo nome, é hoje tão asseada e impecavelmente limpa, que se alguém jogar um chiclete ou um papel no chão é imediatamente multado ou preso, pois você está sendo verdadeiramente filmado por câmeras colocadas estrategicamente no passeio público. Além disso, quando alguém, por exemplo, se senta num bar ou restaurante para beber ou comer algo, está rodeado de policiais, em trajes civis, observando todos os movimentos.
É mais ou menos assim que hoje funcionam as coisas por lá, onde não há mais miséria nem mendicância, o analfabetismo foi totalmente erradicado, a renda mensal atual é de 4.000 dólares por pessoa, não existem drogas, o índice de criminalidade é quase nulo e os casos de transgressão à ordem e à lei que eventualmente acontecem são punidos de modo exemplar, para que só sendo louco o sujeito tente infringir a lei.

Luciano Machado