O Fracasso Moral das Superpotências

Por Leôncio de Aguiar Vasconcellos Filho | 09/10/2025 | Filosofia

Nos últimos dias, presenciei um analista político defendendo a extinção da Organização das Nações Unidas (ONU), uma vez que a mesma estaria protegendo “ditadores e terroristas”.

Antes de tudo, não cabe à ONU proteger governo que seja. É uma entidade internacional nascida das cinzas da Segunda Guerra Mundial, cuja missão é evitar um conflito semelhante ou pior. Tendo em vista que, até o momento, não houve uma Terceira Guerra, pode-se dizer que, até este momento, ela foi extremamente bem-sucedida. A governança global, consubstanciada no poder de veto dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança, sempre freou os ímpetos destrutivos das superpotências, vez que havia respeito pela autoridade da potência emissora do veto.

Se incluirmos, na sua missão e também, a oportunidade de evitar conflitos menores e localizados, fracassou ela. Não porque tenha havido desrespeito ao poder de veto, mas porque havia foco insurgente em determinado Estado-Membro (que passava a exercer o monopólio do exercício da violência dentro do seu próprio território, ao não solicitar ajuda estrangeira, ou por meio, exclusivamente, do próprio auxílio pedido, casos em que não cabe a análise do Conselho). Quando um Estado tem essa reação, não se pode dizer que seja terrorista, bem como as forças estrangeiras atuantes por sua legítima solicitação.

Não há, na Carta da ONU, definição do que seja um governo democrático ou autocrático, mas sim de que os povos signatários têm o direito à autodeterminação. Se não há uma linha vermelha expressa a apartar democracia e autocracia, o benefício da dúvida, pela peculiaridade histórica e política de cada qual, recai sobre todos os Estados-Membros. Que podem, por isso mesmo, classificar de terroristas os insurgentes internos, ou outros Estados-Membros (incluindo os cinco que são membros permanentes do Conselho) que tentam desestabilizá-los.

Portanto, não havendo um consenso internacional sobre o que seja autocracia, qualquer Estado-Membro pode tachar como terrorista um potencial inimigo, interno ou exterior. E, tratando-se de inimigos externos, requerer análise do Conselho de Segurança e consequente veto do agressor uso da força. Com o atual poderio nuclear e nível armamentista dos exércitos, o veto se torna, na maior parte, inócuo, mas tem uma força vital no moral das forças de defesa e população agredidas. Agredidas por quem, membro permanente, ou não, do Conselho, se recusa hipocritamente a vestir a carapuça de terrorista (ainda mais com forças regulares, o que denota uma superior forma de covardia).

O medo do fracasso moral, bem como de uma consequente visão, por parte de seus povos, de que são terroristas e devem ser derrubados (seriam seus povos, nesses casos, também terroristas?).

 Por isso querem o fim da ONU.