Todos nós desde criança somos doutrinados com os conselhos sobre a importância de sermos pessoas boas, santas, perfeitas.   Quando não agíamos assim, éramos sempre punidos de uma maneira ou de outra, talvez a pior punição fosse quando os pais retiravam o seu afeto ou ficavam com raiva da criança. Não é à toa que: "Ser mau" esteve sempre associado a castigo e infelicidade e "Ser bom" associado a prêmio e felicidade. Daí, ser "bom" e "perfeito" tornou-se uma absoluta exigência, uma questão de vida ou morte.

Todo indivíduo, sempre soube que nunca foi tão bom e perfeito quanto o mundo esperava que fosse.  Esta verdade teve de ser ocultada, tornou-se um segredo, cheio de culpas e assim começa, na infância, a construção do Eu idealizado.

O Eu idealizado pode assumir muitas formas. Ele nem sempre dita padrões de falsa perfeição facilmente reconhecidos, na verdade dita padrões altamente morais ou éticos, tornando ainda mais difícil questionar a sua validade, Um exemplo:

 "Mas não está certo querer ser sempre decente, amoroso, compreensivo, nunca irritado, nunca ter falhas e tentar chegar à perfeição? Não é isto o que é esperado de nós?"

Frases como está dificultam a descoberta da atitude que nega a presente imperfeição, o orgulho e a falta de humildade, não reconhecidos, dificultam que se aceite a si mesmo como se é Agora!

 Existe um medo profundamente escondido que diz:

"Meu mundo virá abaixo se não viver de acordo com os padrões idealizados".

Com esse pensamento inconsciente o indivíduo não consegue abrir mão da tirania interna que não permite que se perceba a impossibilidade de ser tão perfeito quanto às exigências do Eu idealizado.

Um dos artifícios mais comuns é projetar culpa pelo insucesso no mundo externo, nos outros, ou na vida. Muitas crises pessoais não precisariam existir se não fosse a tirania do Eu idealizado.

O desejo genuíno de melhorar a si mesmo levaria à aceitação da personalidade como ela "está Agora!".  Qualquer descoberta acerca de onde se está em falta com relação aos seus ideais não nos levaria à depressão, ansiedade e culpa, mas pelo contrário, nos fortaleceria se não fosse o falso Eu Idealizado.

Um sentimento de derrota, frustração e compulsão, bem como culpa e vergonha, são as indicações mais evidentes de que o seu Eu idealizado está ativado.

O Eu idealizado foi "erroneamente construído" para sustentar a autoconfiança, a felicidade e o prazer supremo. Paradoxalmente, quanto mais forte a sua presença, tanto mais desvanece a genuína autoconfiança, felicidade e muitos outros atributos gratificantes. Dessa forma se não atingimos o que desejamos forma-se um círculo vicioso autoperpetuante:

"Quanto menos satisfação mais forte o Eu idealizado".

Por outro lado os sentimentos do Eu real funcionam em perfeição relativa àquilo que você é agora. Quanto mais se investe no Eu idealizado mais afastado ficamos do Eu real e tanto mais nós o enfraquecemos e o empobrecemos.

Ao tentar responder sincera e honestamente a questão: "Quem sou Eu realmente?" é que seu centro de vida responderá e funcionará, a sua intuição começará a funcionar em sua plena capacidade, vocês se tornarão espontâneos, livres de todas as compulsões, confiarão em seus sentimentos porque eles trarão uma oportunidade de amadurecer e crescer. Os sentimentos se tornarão, pouco a pouco, confiáveis para vocês tanto quanto o seu poder de raciocínio e o seu intelecto.

Grande parte dos conflitos deixará de existir quando aceitarmos*  em nós mesmos a parte boa e a parte má, por mais estranho que isso pareça.

 * As palavras aceitar e reconhecer usadas acima, não se referem a uma possível interpretação errônea de uma atitude passiva de ter que se conformar. Aceitar e Reconhecer não são usados como sinônimos de conformar-se.

José Luís Morado, psicólogo clínico e coach pessoal

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Serie de mini textos sobre "Obstáculos ao Autodescobrimento"