Ao sair de casa me deparo com a rosa,

Tão crescida que o aço dos meus olhos não repararam na sua beleza desabrochada.

Minha esposa sempre conversa com ela,

A rega, dá bom dia e a elogia em público e em particular.

Vez e outra pede para não jogar a casca do ovo fora pois a casca tem vitaminas que são verdadeiras fontes de minérios para a terra que a sustenta.

Dia desses, parei diante de sua beleza,

Um ramo da roseira que já estava da minha altura 1,79 cm e tinha seu botão aberto em seu máximo, desvelando assim o seu encanto…

Resolvi lhe dar bom dia, desejando que ficasse com Deus e despedindo-me com um breve até logo, como fazia minha esposa.

Os dias foram passando e de repente quando chego do trabalho me vejo naquela situação desconfortável, a vejo morta e despetalada no mármore frio dá lajota fúnebre.

Confesso que fiquei triste com a rapidez com que crescera e morrera, não esperava aquilo tão já!

Quando abaixo para colher os restos mortais dá outrora “colombiana red rose” eis que ouço as gargalhadas viçosas, sanguinolentas e afiados, do espinho que estava  a se debochar de mim…

 

Com a voz seca me voltei a ele e disse:

Porque gargalhas de morte tão precoce daquela divina rosa que justifica sua existência de espinho?

Ao que me respondeu de praxe:

Não gargalho da minha irmã de sina cuja natureza e o destino se impõe de forma soberana, zombo de sua tristeza diante da morte, fato natural e inexorável diante do tempo que se faz presente na dança do universo.

Perguntei indignado: então porque zomba da minha tristeza e dor?

Ele esnobe apontando para mim diz: eis que toda dor e toda beleza está em você! E continuou: caso foste cego não me enxergaria, caso foste surdo não me daria ouvidos, caso o olfato lhe fosse deficiente não se inebriaria  com tão perfumada rosa que seus sentidos percebem.

O encanto está em você que deposita a beleza onde seus olhos alcança, onde sua mão toca, onde seu ouvido escuta, onde seu nariz cheira e onde sua boca degusta.

A tristeza da mesma forma também está em você que deposita sua dor onde seu olhar cobiça, onde sua mão destrói, onde seu ouvido distorce, onde seu olfato lhe seduz e onde sua boca maldiz.

Percebe o que torna algo encantador ou desprezível está em você, ou não é verdade que a maçã é uma fruta que agrada a uns que jura sentir um sabor delicioso, e desagrada a outras que diz ter um sabor ácido e azedo, porém a maçã por ela mesma continua sendo o que sempre foi, maçã oras bolas!

Não é verdade que o coentro é um tempero que agrada uns que dizem ter um cheiro e um sabor ímpar no qual sem ele na comida,  ela deixa de ter graça ou cor e para outras pessoas caso uma folha apenas caia na comida, aquele prato já fica indigesto, porém o coentro continua sendo o que sempre foi, coentro e ponto final.

Fiquei boquiaberto com tamanha dureza e  frieza com que aquele sábio e afiado espinho me fere com suas verdades, então lhe disse:

Então porque dou ouvidos a você, se tudo está em mim, esse diálogo só em mim existe!

Ele me respondeu com a alegria daquele que consegue passar adiante seus ensinamentos: bravo “pequeno príncipe” e gargalhou até não mais poder, porém quando viu minha irritabilidade, voltou ao seu comentário: o diálogo existe em você, porém o que está fora de você existe para que desperte o seus encantos e lhe inspire para a vida, e eu continuarei sendo um espinho mudo que só ganha voz no encanto de sua consciência e a rosa continuará sendo só uma rosa que lhe inspira poesias que falam mais de você e dos sentimentos da sua raça humana do que da rosa que nunca deixará de ser rosa, rosa muda, porque as rosas não falam… e  novamente gargalhou até eu não poder mais.

E assim é a história da rosa e do espinho que fala mais do meu sentimento de  encanto (rosa) e das minhas angústias (espinhos) que não estão na rosa e no espinho, pois eles são o que são e sendo assim:  O cravo não brigou com a rosa,
Debaixo de uma sacada, nem O cravo saiu ferido e nem a rosa despedaçada. E também Como já dizia o saudoso mestre Cartola: não me queixo às rosas, porque isso é bobagem, pois as rosas não falam elas só exalam o encanto do perfume que roubam de ti. E assim parto gargalhando ora como espinho humano que sou e ora inebriando como rosa encantadora, já sabendo que a dor estão nos meus olhos quando ausentes de Deus e o encanto estão nos meu olhos quando estou diante da presença luminosa de Deus, porém fora de mim tudo só é como pode ser, assumindo meu encanto ou minha tristeza diante da vida que nunca deixa de assumir os meus encantos quando estou alegre e minhas angústias quando estou triste, porém a vida nunca deixa de ser o que é, um palco onde vamos vivenciando instantes singulares e vamos escrevendo nossos poemas vitalícios que só acontecem em nós e registrados somente no livro cuja caligrafia única legítima o autor da nossa vida e que outro não é senão nós mesmos.

Axé meus irmãos