Magda se acorda tarde, na pressa faz seu desjejum e nem sequer tem tempo para folhear o jornal, desce do apartamento em que mora, chama o motorista particular e segue para o trabalho. Ao adentrar seu gabinete, sua secretária diz: - Excelentíssima prefeita, quer dizer Dona Magda a senhora foi despedida, cassaram seu mandato.

           Muito surpresa, mesmo sendo já algo esperado, dá meia volta e dirige-se para seu apartamento de luxo no condomínio fechado.

           Passada aproximadamente uma semana, Magda recebe uma ligação de sua ex-secretária: - Dona Magda, quer dizer Excelentíssima prefeita, vossa senhoria não vem trabalhar hoje não?

           - Querida Priscila, eu fui cassada, esqueceu. Fala Magda ao telefone.

           - Não, não esqueci, Vossa excelência fostes cassada, mas agora revogaram vossa cassação, estais novamente empossada. Soa a voz da secretária Priscila, com alegria.

           Magda providencia o motorista enquanto toma uma ducha quente, se veste, se maquia e segue para a Prefeitura. Chegando lá antes mesmo de dá o bom dia habitual, a secretária Priscila lhe diz: - Excelentíssima, quer dizer Dona Magda o que faz aqui?

           Magda responde de imediato: - Você não ligou pra mim, que eu havia sido empossada novamente?

           A secretária um tanto embaraçada é obrigada a responder: - Ah, foi mesmo, mas a senhora demorou muito e já lhe cassaram de novo.

           Desta vez, Magda desabafa, joga sua bolsa caríssima em cima do sofá da recepção e desce o verbo: - O que diabos esses juízes eleitorais acham que estão fazendo, estão me caçando, quer dizer, cassando com que objetivo, por que eu comprei voto, e quem não compra voto nesse país? Mesmo que fosse por corrupção, ou qualquer outra mazela política, não haveria razão, pois quem vai me substituir, um desses vereadores, também corruptos, ou vão fazer uma nova eleição, na qual vão ser comprado votos do mesmo jeito? Qual é o político nesse país que seja honesto? Cite-me um nome ao menos, não só político, pois não são somente o executivo e o legislativo que estão contaminados, o judiciário também está. Se não fosse tanto dinheiro em jogo, eu já teria mandado esse cargo à merda.

           - Calma Dona Magda, tenha calma, próxima semana a senhora será prefeita novamente. Tenta acalmar os ânimos a secretária Priscila.

           - Eles acham que o povo é burro, bem só um pouquinho, mas o povo sabe que somos todos farinha do mesmo saco, inclusive eles, o povo sempre escolhe um, por que é apaixonado por política, ama seus candidatos mesmo sabendo que eles são desonestos, mas também quem não é nesse país. Até o povo está aprendendo a ser desonesto. Recebe dinheiro de um e vota no outro, desonestidade dupla: vender o voto e enganar o candidato. Continua Magda em seu expando.

           - Calma dona Magda, nessa hora a senhora está falando como uma cidadã indignada, mas amanhã quando voltar a ser prefeita vai arrepender-se do que está dizendo. Tenta acalmá-la mais uma vez a secretária Priscila.

           - Cala-te boca, cala-te boca. Diz Magda batendo com a mão espalmada de leve na própria boca. E na porta de saída, volta-se e fala educadamente: - Desculpa minha filha e obrigada pelo conselho, você tem toda a razão.

           Ao chegar em casa, desconsolada, sobra para o maridão Doutor Juvêncio, começa a lamúria: - Juju meu filho, eu não consigo entender esses juízes, eu estou fazendo o mesmo que todos os outros prefeitos já fizeram por essa cidade e que os futuros com certeza farão, ou seja, nada. Esta nossa cidade sempre foi cheia de buracos nas ruas, muitas delas à noite ficam no escuro por falta de iluminação pública, foi feito saneamento básico, não funciona, mais foi feito, a saúde é precária, eu sei, mas poderia ser pior, assim como também a educação, segurança está fora de questão, é péssima, mas toda vida foi assim. Juju meu filho, me responda, e qual cidade desse país não está nesta mesma situação, me diga meu filho, qual?

           O telefone toca, doutor Juvencio atende e passa para a esposa: - É pra você minha querida, é a secretaria Priscila.

           - Excelentíssima Prefeita, corra, venha rápido, Vossa Senhoria está de posse do cargo de novo.

           Após desligar o telefone, Magda olha para o marido e sentencia: - Não aguento mais, uma hora eles me Prefeitam, na outra me Desprefeitam.