Resumo

Na abordagem sobre a Universidade a partir de uma visão histórica, busca-se inicialmente, fazer uma reflexão sobre o sentido epistemológico da palavra. Dentro desse prisma, surge a visão de universo e do que se pretende conhecer dentro dele. Com isso, busca-se evidenciar que o surgimento da universidade está relacionado ao sentido de dar amplitude ao conhecimento e daí utilizá-lo vinculado às demais áreas de estudo. Destaca-se ainda a história do ensino superior no Brasil buscando mostrar os avanços que a educação vivenciou em um País que tardiamente a implantou. O referido artigo faz parte de um dos capítulos de minha dissertação de mestrado realizada no Universidade Del Salvador -USAL na cidade de Buenos Aires - Argentina

O Ensino Superior e os avanços no Brasil

  1. A Universidade no Mundo

Na abordagem sobre a Universidade a partir de uma visão histórica, busca-se inicialmente, fazer uma reflexão sobre o sentido epistemológico da palavra. Dentro desse prisma, surge a visão de universo e do que se pretende conhecer dentro dele. Com isso, busca-se evidenciar que o surgimento da universidade está relacionado ao sentido de dar amplitude ao conhecimento e daí utilizá-lo vinculado às demais áreas de estudo. Destaca-se ainda a história do ensino superior no Brasil buscando mostrar os avanços que a educação vivenciou em um País que tardiamente a implantou.

Monroe (1979) destaca que as Universidades exerciam uma forte influência política e que os assuntos de cunho eclesiásticos eram discutidos de forma livre, principalmente durante o período medieval (Século V ao XV), embora se percebesse uma  certa inclinação para as classes mais abastadas da época, sendo sua influência maior na vida intelectual, outrora restrita, passando-se a ser reconhecida em igualdade com a própria Igreja e o Estado.

 Apesar do predomínio de uma visão teocêntrica, durante a Idade Média (século V ao XV), a educação surgiu como um instrumento de salvação da alma e,   portanto de garantia a vida eterna.; O conhecimento ainda era um elemento atrelado à crenças e tradições que se firmava a medida em que os interesses comerciais se sobrepunham aos interesses sociais. No final da Idade Média com a expansão comercial e a influência da classe burguesa, o conhecimento e portanto o processo de apresentação do mesmo ganha novos rumos, possibilitando assim, o surgimento de contradições, que mostrarão as fragilidades antes camufladas pela então sociedade cristã.

Conforme estudos realizados em Wanderley (2003), a universidade surgiu no período medieval, com objetivo de universalização de saberes a todos na sociedade, assim foi espalhando-se por toda a Europa e, posteriormente, pelo mundo. Desde os tempos mais antigos, a instituição cultivou e transmitiu o saber humano acumulado, desempenhando um importante papel na sociedade. Sabe-se que as universidades surgiram entre os muros dos mosteiros, em debates calorosos entre os religiosos e as elites vigentes da época. Assim, é possível verificar que o sentido de universo dado à palavra é limitado pelo significado atribuído inicialmente a ideia do conhecer, dada apenas a uma pequena parcela da sociedade. Somente a partir do século XIX, com a Declaração Universal do Direito do Homem e do Cidadão é que a universidade se reverte de universalização, atribuindo o sentido real de universo. Segundo Rossato (2005, p. 19):

(...) a universidade era uma escola de fundação pontifícia (e, mais tarde imperial) cujos membros, organizados em corporações ou não, gozavam de certos privilégios de caráter universal- licentia ubique docendi – e dos privilégios eclesiásticos.

Como se verifica a universidade surgiu voltada para atender aos privilégios da classe dominante e por essa razão, permaneceu durante alguns séculos como espaço destinado ao interesse das elites. Segundo Durkheim (1982) tem-se conhecimento de que nas cidades de Bolonha e Paris surgiram as primeiras universidades da Europa, Bolonha, sendo a mais antiga, datada de 1088, enquanto a de Paris, considerada a mais importante, criada no século XII, a qual serviu de modelo para outras instituições, implantada dentro dos estabelecimentos religiosos, igrejas ou mosteiros, sendo submetida assim aos regulamentos e disciplinas da Igreja na época. As Universidades de Bolonha e Paris crescem com estruturas e interesses diferentes, Bolonha com seu sistema de organização e nos moldes para atender anseios municipais, destacando-se a formação de juristas e administradores e Paris destacando-se em estudos teológicos, sendo reconhecida como a mais importante na área.

A partir da visão de Monroe (1979), a metodologia da educação universitária da época era traduzida através dos conteúdos de livros selecionados pelos monges que eram considerados os doutores da época.

“A educação universitária, a princípio, era totalmente livresca, feita por uma seleção muito limitada de livros em cada campo, livros que eram aceitos como se suas palavras fossem a absoluta e última verdade. Era dirigida muito mais para o domínio do poder dos discursos formais, especialmente argumentação, do que para a aquisição de conhecimento ou para a busca da verdade no sentido mais amplo, ou mesmo para familiarizar o estudante, com aquelas fontes literárias do saber que, embora ao seu alcance, estavam fora da aprovação eclesiástica ortodoxa.  (Monroe, 1979, p. 133)”.

            Monroe (1979) explana que num primeiro momento as universidades tiveram uma forte influência política na vida das sociedades da época, pois, os assuntos tratados eram livremente debatidos, embora existisse uma grande inclinação para as discussões teológicas tão difundidas naquele momento. Assim, Monroe (1979) explica que o clero, a autoridade política da universidade naquele período, fez com que ela tivesse representatividade nos governos, e, ainda mais, tendo influência também na vida intelectual, antes restrita, formal e pobre, acabou sendo reconhecido em igualdade com a Igreja, o Estado e a própria Nobreza.

.           Nos estudos de Giles (1987) é destacada a relevância das universidades no desenvolvimento intelectual da Europa, pois na visão do estudioso é nesse espaço que o indivíduo amplia seus conhecimentos, dentro de um processo de liberdade nas suas construções. Sobre o assunto Giles (1987, p. 63) destaca que:

“(...)  é nas Universidades que o acervo dos conhecimentos se organiza, se conserva e se transmite. A universidade é o verdadeiro centro da atividade intelectual onde o processo educativo progride mais do que em qualquer outra instituição. A função da universidade como casa de liberdade intelectual, numa época altamente desconfiada de qualquer suspeita de heresia, é de máxima importância. É o único lugar onde assuntos proibidos ou suspeitos podem ser discutidos com certa impunidade”.

            O espírito inovador estabelecido no período renascentista (século XVI), manifestou-se fortemente na religião, o que acabou por mostrar-se em outros espaços de fundamental importância na sociedade da época, a exemplo das Universidades. Isso de certa forma trouxe à tona uma nova concepção de formação humana, estabelecendo assim as diferenças entre os homens a partir de sua educação.

            Ainda sobre o surgimento da universidade Rossato (2005), aborda que no início do século XVI a Europa recebeu forte influência do sistema universitário espanhol, o qual fora trazido para a América Latina com a criação de universidades em Países como: Argentina, Cuba, Chile, Guatemala, México, Peru, dentre outros, sendo que o ensino superior continuou a ser destinado para a elite dos países latinos. O estudioso ressalta ainda que no final do século XVIII foram criadas cerca de dezenove universidades em toda a América Latina e, posteriormente, mais trinta e uma no século XIX, com exceção do Brasil. Aos poucos, as universidades latinas americanas deixaram de sofrer influências de modelos advindos do exterior. Em meados do século XIX, é a vez da América do Norte sofrer uma grande expansão na educação superior, tendo como consequência sua influência em todo o continente americano.

            No que concerne ao exercício da pesquisa científica no ensino superior, verifica-se que o modelo alemão influenciou a Universidade Norte-americana, como destaca Wanderley (2003, p.20):

“Foi o modelo alemão do século XIX que estabeleceu um padrão vinculando a pesquisa científica com o ensino superior. Na França, a atividade científica esteve vinculada aos institutos independentes (...). Nos Estados Unidos, que assimilou o modelo alemão, houve inovação ao nível da formação dos cientistas nos cursos de doutoramento, credenciando-os para atividades universitárias e outras externas, diferentemente dos doutorados europeus”.

A partir da influência exercida pelos alemães, no que diz respeito as atividades de investigação científica produzidas pelas universidades deslanchou-se maior inovação nos estudos científicos, pois buscaram ampliar o foco e o nível de ensino chegando a formação de doutores. [...]