Camila Soares Borges¹

Michel Caurio²

Raquel Pereira Quadrado³

Dezembro/2014

Resumo:

Este artigo se trata do relato das experiências obtidas ao longo do Estágio Supervisionado III do curso de graduação em Ciências Biológicas Licenciatura da Universidade Federal do Rio Grande, FURG. Realizado na Escola Municipal de Ensino Fundamental Altamir de Lacerda do Nascimento, a principal proposta deste foi trazer uma abordagem do corpo humano no enfoque biossocial – tratar o corpo humano de acordo com a cultura, meio e experiências vividas pelos alunos - utilizando recursos didáticos, com o intuito de tornar o assunto mais próximo à realidade dos alunos e auxiliar a criar conexões entre o corpo biológico e os saberes dos alunos. 

Introdução:

O presente artigo é referente ao relato das minhas experiências obtidas através da disciplina de Estágio supervisionado III do curso de graduação em Ciências Biológicas Licenciatura da Universidade Federal do Rio Grande, FURG. A instituição escolhida para a realização deste foi a Escola Municipal de Ensino Fundamental Altamir de Lacerda do Nascimento, endereçada no Bairro Bernadeth da cidade do Rio Grande, com uma turma de 8º ano do Ensino fundamental. A turma no qual o mesmo foi realizado possuía 26 alunos matriculados e freqüentes, com uma faixa etária média de 15 anos. O mesmo, ainda, foi auxiliado por parte da escola pela professora regente e pela coordenadora pedagógica da escola.

Considerando a proposta inicial do estágio III, que é proporcionar aos estudantes de graduação as primeiras experiências no ambiente escolar, além de o desenvolvimento de um trabalho diferenciado com os alunos, minha proposta de trabalho, então, neste estágio, foi fazer a abordagem do corpo no enfoque biossocial, que, segundo RIBEIRO (2013, pág. 8) é discutir sobre corpo não apenas como uma materialidade biológica, mas como histórico e culturalmente produzido, e, ainda, segundo SOUZA (2013, pág.16) é relacionar os conhecimentos do campo biológico com os conhecimentos adquiridos pelos alunos em suas vivências cotidianas.

Nesse sentido, abordar as questões socioculturais e históricas relacionadas ao corpo, rompendo com o ensino de forma fragmentada e descontextualizada, que dá enfoque apenas na memorização dos conteúdos. Para isso, então, utilizei neste estágio artefatos culturais que pudessem tornar o assunto mais próximo a realidade dos alunos e auxiliar a criar conexões entre a informação específica – no caso o corpo biológico – aos saberes dos alunos. 

A principal metodologia utilizada nesse estágio, os artefatos culturais, são diversas produções, como peças publicitárias, músicas, comunidades da internet, videoclipes, charges, revistas, jornais, programas televisivos e radiofônicos, construídos a partir de cultura do meio em que o indivíduo vive. E, para GRAELLS (2000), os recursos didáticos possibilitam algumas funções, como: fornecer informações, orientar a aprendizagem, exercitar habilidades, motivar, avaliar, fornecer simulações, fornecer ambientes de expressão e criação. Os artefatos culturais ensinam, ainda, modos de ser e estar no mundo, construindo e, ligado à escola, reproduzindo os significados sociais, visto que este ambiente é o principal fator de produção de significados e representações sobre ciências e seus derivados.

Referencial teórico:

Segundo FERNANDES (1998), a maioria dos alunos vê o ensino de ciências e biologia que é apresentada em sala, como uma disciplina cheia de nomes, ciclos e tabelas a serem decorados, enfim, sem atrativo para os mesmos. Sendo assim, entra-se na principal questão: como tornar o assunto atraente aos alunos, como estimular seu interesse e sensibilização, eliminando a memorização? A resposta do mesmo autor traz as respostas, apesar de não haver uma fórmula universal e cada situação de ensino ser única e diferente, o método de resolução do problema é pesquisar em busca soluções, refletir sobre o assunto e trocar experiências.

Buscando soluções a partir de leitura foi obtida a ideia de abordar o corpo sob uma perspectiva biossocial a partir de recursos didáticos, materiais como redes sociais, filmes e revistas que sejam próximo aos alunos para torná-lo mais atrativo. A importância de realizar essa abordagem é trazida por RIBEIRO (2013), que cita que nesta fase da vida o estudante está formando sua identidade e a escola é o principal meio de socialização destes, que irá ser o principal fator de produção de significados sociais, identidade e questões como sexualidade. Contudo, não se nega a importância das aulas expositivas, pois estas apresentam a comunicação na sala de aula, mas o que não pode acontecer é esta modalidade de ensino e a passividade que ela promove sobrepor-se, visto que ela está diretamente vinculada ao modelo de ensino que gera a memorização.

Para SOUZA (2007), utilizar recursos didáticos no processo de ensino- aprendizagem é importante para que o aluno assimile o conteúdo trabalhado, desenvolvendo sua criatividade, coordenação motora e habilidade de manusear objetos diversos que poderão ser utilizados pelo professor na aplicação de suas aulas. Ainda segundo SOUZA, o uso destes deve servir de auxílio para que no futuro os alunos aprofundem, apliquem seus conhecimentos e produzam outros conhecimentos a partir desses. Para que isso aconteça, é importante mostrar ao aluno as aplicações práticas do conteúdo em seu dia-a-dia, para que o este possa interferir em seu ambiente de forma positiva e consciente, formando assim, uma aprendizagem com significado.

Quanto ao interesse dos alunos, OLIVEIRA (2006) destaca a valorização do contato do aluno com o material didático para gerar curiosidade, participação, aprendizagem e maior integração entre entes.

Assim, estes podem discutir suas ideias e expô-las ao grupo, proporcionando a interação social, visando, ainda, alcançar as habilidades e competências preconizadas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, PCNs (1997, p. 31) de Ciências Naturais, como valorizar o trabalho em grupo, sendo capaz de ação critica e cooperativa para a construção coletiva do conhecimento e compreender o ser humano como parte integrante a agente de transformação do mundo em que se vive. 

Metodologia:

Esta metodologia – ensino do corpo sob uma perspectiva biossocial – foi desenvolvido em cerca de 27 aulas na turma 81 do oitavo ano da E.M.E.F. Altamir de Lacerda do Nascimento.

 Para a realização deste foram usados tais recursos didáticos: Vídeos do youtube, reportagens de revistas, filmes, clipes de múscia e modelos anatômicos. Aliado a isso, os alunos realizaram pesquisas com a família sobre o que cada uma acreditava sobre determinado assunto, e os retornos foram discutidos por toda a turma. A partir, então, da cultura e crenças que cada aluno trouxe do seu meio, trabalhos o conteúdo específico – biológico- desmistificando os mitos ou confirmando as crenças, caso verdadeiras.

Os alunos também utilizaram- na aula de divisão celular e dentição – alimentos para o melhor entendimento. Na divisão celular, os alunos utilizaram modelos da mitose a da meiose feitos a partir de bolacha rechada, e quanto a aula de dentição estes utilizaram balas para observar cada dente que possuia.

O corpo biossocial se fez mais presente nas aulas sobre os tecidos, no qual os alunos puderam entender melhor e discutir sobre questões como no tecido epitelial acne e no adiposo obesidade, debatendo sobre preconceito e padrões de beleza empregados pela mídia.

Considerações finais:

Como resultado da experiência, de curto prazo, obtida com este método no estágio III da graduação pude perceber que, aliando o conteúdo biológico ao cotidiano dos alunos, estes obtiveram uma significante elevação na compreensão do conteúdo, do rendimento e conhecimento sobre os temas abordados.

Com este, ainda, pude aprender na prática a conviver com o ambiente escolas, lidar tanto com alunos como os gestores da escola em si. Acredito que para além de ter ensinado os estudantes e tentado tocar de alguma forma eles trazendo diferentes recursos e usando diferentes metodologias, pude aprender muito com estes, como por exemplo como se apresentar para estes, como lidar com cada caso que aparece em sala de aula, como a minha postura influencia em suas atitudes, etc.

Acredito que este estágio tenho sido um fator muito importante para a certeza de que a educação merece ser repensada e também batalhada para melhorar, apesar das problemáticas existentes.

Referências bibliográficas:

BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Parâmetros Curriculares Nacionais. Secretaria de Ensino Fundamental. Brasília, P. 136, 1997.

FERNANDES, H. L. Um naturalista na sala de aula. Ciência & Ensino. Campinas, Vol. 5,1998.

GRAELLS, P.M. Los medios didácticos. Disponível em: <http://peremarques.pangea.org/medios.htm >

KRASILCHIK, M. Prática de ensino de biologia. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2004.

OLIVEIRA, O. B. de; TRIVELATO, S. L. F. Prática docente: o que pensam os professores de ciências biológicas em formação?. In: XIII ENCONTRO NACIONAL DE DIDÁTICA E PRÁTICA DE ENSINO. Rio de Janeiro, RJ, 2006. Disponível em:<

http://132.248.9.1:8991/hevila/Revistateias/2006/vol7/no13-14/5.pdf>.

RIBEIRO, Paula Regina Costa, QUADRADO, Raquel Pereira. Corpos, gêneros e sexualidade: questões possíveis para o currículo escolar. 3. ed. revisada. Rio Grande: Editora da Furg, 2013.

SOUZA, S. E. O uso de recursos didáticos no ensino escolar. In: I ENCONTRO DE PESQUISA EM EDUCAÇAO, IV JORNADA DE PRÁTICA DE ENSINO, XIII SEMANA DE PEDAGOGIA DA UEM: “INFANCIA E PRATICAS EDUCATIVAS”. Maringá, PR, 2007. Disponível em: <http://www.pec.uem.br/pec_uem/revistas/arqmudi/volume_11/suplemento_02/artigos/019.pdf>.

SOUZA, Nádia Geisa S. de. Representações de corpo-identidade em histórias de vida. Revista Educação e Realidade. Produção do corpo. Porto Alegre: FACED/UFRGS, n.2, jul./dez. 2000, p.95-116.

VIGOTSKY, L. S.; COLE, M. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

VIGOTSKY, L. S. Psicologia pedagógica. São Paulo: Martins Fontes, 2001.