O ENSINO DE LITERATURA E A FORMAÇÃO DO LEITOR: DESAFIOS, CAMINHOS E PERSPECTIVAS 

RESUMO

O presente artigo visa abordar acerca das considerações existentes sobre o papel do ensino de literatura na formação de um leitor crítico e reflexivo, que consiga compreender os diversos gêneros textuais e enxergar a beleza e a riqueza de um texto literário. Assim, este texto se constitui em um breve esboço das discussões atuais sobre o tema, bem como os múltiplos desafios encontrados pelo professor no âmbito escolar, além das soluções e possíveis direcionamentos para a fomentação da fruição literária nos estudantes.

INTRODUÇÃO

O ensino de Língua Portuguesa nas escolas públicas brasileiras, em muitos casos, está mais centrado no ensino de gramática e produções textuais, o estudo de literatura se constitui quase sempre, na demonstração das escolas literárias, o momento histórico e a biografia dos principais autores. Sendo assim, tal prática não suscita o gosto pela literatura nem tão pouco leva o aluno a conhecer os diversos tipos de escrita existentes, as várias faces da literatura, o que só contribui para a formação de um ser acrítico, sem sensibilidade, que não conhece o mundo da leitura literária.

Muito se discute acerca da importância da literatura para a construção de sujeitos críticos e reflexivos, os quais se tornam conhecedores de sua realidade, que buscam entender e olhar o mundo por óticas diferentes. E a literatura é isso: propicia voz, entendimento e poder. Através da literatura conhecemos a história, as ideologias de uma época, os costumes, as relações sociais, a estética. Enfim, temos acesso a vários elementos que constroem o cenário de um dado momento histórico de uma sociedade, bem como, conhecemos histórias atemporais, as quais o enredo também se apresenta nos dias atuais.

[1]  Graduanda em Licenciatura em Letras do Departamento de Ciências Humanas e Tecnologias – Campus XXII da Universidade do Estado da Bahia - UNEB. E-mail: [email protected]

1- O papel do ensino de língua portuguesa no desenvolvimento das capacidades linguísticas e na participação social

De acordo com os PCNS de Língua Portuguesa do ensino fundamental (1997, p. 21) “o domínio da língua tem estreita relação com a possibilidade de plena participação social, pois é por meio dela que o homem se comunica, tem acesso à informação, expressa e defende pontos de vista, partilha ou constrói visões de mundo, produz conhecimento.” Deste modo, é perceptível a relevância atribuída ao ensino do idioma pátrio, uma vez que o sujeito imbuído de conhecimentos e competências linguísticas é capaz de uma série de ações fundamentais para o exercício da cidadania.

Logo, a instituição escolar e o professor tem fundamental importância neste sentido, pois são eles que irão possibilitar, em grande parte, ao aluno o contato com textos literários e obras relevantes para a construção sólida do uso da linguagem. Assim, cabe ao professor o olhar atento às necessidades do seu alunado, levando-os a passear por diversos gêneros textuais, suscitando a paixão pela literatura.

Contudo, existem algumas dificuldades para que estes objetivos sejam alcançados, em razão de a escola, em alguns casos, não possuir um acervo que proporcione ao estudante o convívio com um maior número de obras literárias, há também o despreparo dos professores, os quais, às vezes, não gostam de ler e enxergam a literatura como algo inútil, tem ainda o problema do tradicional ensino de literatura voltado somente para a parte histórica, o que faz os alunos considerarem chata e cansativa tal disciplina.

Assim, é preciso ampliar a metodologia de ensino de literatura, de forma que a leitura das obras seja priorizada em detrimento do recorte de fragmentos e trechos considerados mais importantes. Então, e só então por meio da leitura do texto é que o estudante poderá compreender os elementos literários, sua constituição estética e formal, para deste modo, o docente explicitar os elementos preponderantes da obra.

Desta forma, ocorrerá o desenvolvimento gradual, em que o aluno será aos poucos instigado a ler, começando por leituras mais leves, descompromissadas, adequadas a sua idade para mais adiante iniciar a leitura de livros canônicos e clássicos, cuja linguagem, geralmente, exige um maior nível de maturidade e compreensão do leitor.

O que acontece comumente é a obrigatoriedade da leitura de obras tidas como essenciais, geralmente cânones da literatura brasileira e mundial, o que ocasiona uma resistência nos estudantes, pois, eles trazem uma defasagem no âmbito da leitura, por uma série de fatores, que incluem desde o atraso na alfabetização até o fato de o Brasil não ser um país que tem uma cultura livresca significativa, ao contrário, a nossa cultura está mais centrada nas práticas orais e o entretenimento está mais voltado para veículos como a televisão e a internet (redes sociais). Por conseguinte, quando ocorre esta cobrança para a leitura de livros mais densos o aluno foge e passa a odiar a leitura literária.

Logo, faz-se urgente perceber uma melhor didática para introduzir crianças e adolescentes no universo da literatura, reconhecendo as dificuldades e buscando soluções e alternativas para melhor trabalhar com a literatura em sala de aula, fornecendo subsídios para que os estudantes encontrem o caminho e tomem gosto pela leitura, bem como desenvolvam a escrita, a oratória, traduzindo em suas relações e comportamentos o contato com o texto literário. 

2- O texto literário e a descoberta de um mundo novo

A leitura nem sempre é algo que é valorizado e dado como primordial à existência humana. No dia a dia tão corrido as pessoas procuram serem cada vez mais práticas, objetivas e centradas, logo, a leitura de um simples poema, conto ou romance somente por prazer toma tempo demais. Estamos em uma época (triste constatação) de egoísmo, de seres mecânicos, então, quais as causas destes problemas da modernidade? Ouso dizer que é a falta de literatura na vida destas pessoas! O que as tornam insensíveis, vazias, amargas e presas a questões supérfluas.

Igualmente é necessário enfatizar que a relação com as letras nos faz conhecer um universo em tão curto espaço, a mente é levada a um paralelo que simultaneamente é realidade e fantasia, por que negar então, aos nossos alunos esta oportunidade? De viajarem por terras desconhecidas, inabitadas, lindas, poéticas, leves e maravilhosas.

A literatura no âmbito escolar é essencial, uma vez que o aluno ao se interessar pela leitura e a tomar como prática constante em seu desenvolvimento escolar e pessoal certamente irá ter um bom desempenho nas outras disciplinas escolares, além de passar a enxergar o mundo de outra forma, terá maior consciência do seu papel social, estará munido de elementos e ideias que o tornarão um ser crítico, que argumenta e defende suas opiniões, bem como terá a capacidade de fazer as melhores escolhas. 

Considerações finais

Portanto, diante do que foi aqui exposto é de destaque a relevância da função do ensino de literatura para a formação do aluno leitor, visto que através da convivência com o texto literário ele pode criar laços que nunca mais serão cortados, pois aquele que se apaixona pela literatura, geralmente segue com esse amor pela vida inteira.

Enfim, é primordial que professores, educadores, pais e toda a sociedade compreendam quão significativa a leitura é para o desenvolvimento intelectual e pessoal da criança e do adolescente. Quando a educação for realmente valorizada e a literatura tomada como fundamental na formação escolar teremos, pelo menos em parte, um país mais sério e digno de ser chamado de pátria educadora. 

REFERÊNCIAS

BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa. Brasília, 1997.

CALVINO, Italo. Seis propostas para o próximo milênio: lições americanas. 3ed. trad. Ivo Barroso. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.

LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. São Paulo: Editora Ática, 1993.

FARIA, Vanessa Fabíola Silva de. O ensino de literatura e a formação do leitor literário: entre saberes, trajetórias de uma disciplina e suas relações com os documentos oficiais. In: Revista Iberoamericana de Educación. nº 49/7, junho de 2009.