RESENHA CRÍTICA

 

 O ENIGMA DE KASPAR HAUSER

 

                                                                    MARIZA MENDES DE OLIVEIRA WULPI

 

O filme o Enigma de Kaspar Hauser trata da importância da socialização do ser humano, pois é fundamental compreendermos que é por meio das relações interpessoais que o sujeito vai se apropriando de conhecimentos sobre o mundo em que vive e vai sendo sujeito desse mundo. A ação prática de cada sujeito sobre o mundo lhe permite por meio das situações mediadas pela cultura, tornar-se construtor do conhecimento produzido coletivamente e dando-lhe sentido. No filme, observei que isso não aconteceu com Kaspar. Ele não conseguia compreender os signos linguísticos, porque tudo aquilo lhe parecia estranho. Logo, não podia atribuir significado às coisas, mesmo tendo adquirido a linguagem.

Tendo Kaspar vivido no isolamento, não aprendeu nem internalizou este sistema simbólico. Percebe-se, no filme, que ele se sentia diferente dos outros, pois a sociedade daquela época achava que ele não correspondia aos padrões de comportamentos esperados como normais. Se eles entendiam o significado das coisas corretamente, Kaspar também tinha que entender a qualquer custo.

No nosso dia a dia, as coisas funcionam exatamente igual. Posso citar como, por exemplo, quando alguém tem um comportamento diferente, tanto na maneira de se vestir, quanto no jeito de andar e falar, que logo é motivo de zombaria e, automaticamente, já passa a ser excluída, mesmo já fazendo parte desde a infância em sua sociedade. Imagine alguém como Kaspar que não conseguiu se adaptar, mesmo depois de certa idade na sua sociedade.

Acredito que as pessoas não possam ser vistas como algo diferente só porque não adquiriram conhecimentos ao longo de sua vida, pois Isso não significa que não sabem usar a linguagem. Elas só não conseguem falar do jeito correto, ou seja, na língua culta. Se elas falam erradas, foi porque não tiveram chance de construir seu universo cultural.

Eu, por exemplo, sinto-me estranha fazendo Faculdade de Letras com 49 anos de idade. Antes, eu não tive oportunidade, e hoje, percebi que nunca é tarde para se aprender. Só depende de você para descobrir a melhor forma de como fazer a construção de seu conhecimento.

Assim, a cultura não é um código que se escolhe simplesmente. É algo que está dentro e fora de cada um de nós, como as regras de um jogo de futebol, que permite o entendimento do jogo e, também a ação de cada jogador, juiz, bandeirinha e torcida. Quer dizer, as regras que formam a cultura são algo que permitem relacionar indivíduos entre si e o próprio grupo com o ambiente onde vive.

Em cada ação do sujeito no mundo, este confere novo sentido em sua vida e à vida de outro sujeito. Não nascemos prontos, formamo-nos num eterno vir-a-ser; somo sujeito em formação, em direção ao futuro.