O enaltecimento do mal.

Por Luiz Antonio Schimanski (*)

A questão do mal sempre foi um tormento existencial ininterrupto à inteligência humana. Quando falo de inteligência humana, digo assim de pessoas inteligentes; de pessoas que pensam; de pessoas que tem capacidade para analisar, por raciocínio lógico e não empírico o que realmente está acontecendo e quais os reflexos do que está acontecendo.

É que nos dias atuais, o mal nunca esteve tão em alta e muitos, como eu, buscam explicações para tanta maldade; para tanta iniquidade; para tantas leviandades. Uma prova disso tivemos ontem: grande parte do povo brasileiro elegeu como seu chefe de estado e chefe de governo, uma pessoa que, por regra moral, não serviria para representar nada nem ninguém, visto seu histórico de crimes, como também o histórico de seus principais apoiadores e "amigos".

Milhões, enlevados pelo sentimento de uma falsa revolta fizeram isso! Elegeram uma pessoa vil e nem se deram conta de que, com o seu voto deram o seu aval à toda sorte de promiscuidades e vicissitudes. Avalizaram comportamentos hiediondos e assim, tornaram-se cúmplices de crimes como os crimes de homicídio, de roubo, de furto, de sequestro; de formação de quadrilha, de falso testemunho, de falsa ideologia e de estelionado, enfim, violaram todos os ensinamentos do Decágolo e o que é pior: quase todos, pra não dizer todos que assim procederam, hoje continuam batendo no peito se dizendo cristãos, mas premiaram a vagabundagem e o ócio, em detrimento dos que realmente são bons e trabalham para um mundo melhor. Hoje, uma segunda de feriadão, depois de se embebedarem na festa da vitória (sem méritos), dormem em paz.

Que heresia!!! Não dá pra crer em tamanha ambiguidade: As mesmas pessoas que, de um lado clamam por penas mais duras para criminosos desconhecidos e que negam seus crimes, de outro lado, premiam com o cargo mais nobre da nação criminosos confessos; pessoas notoriamente corruptas e mentirosas, deturpadoras da lei, da moral e dos bons costumes.

Como já referenciei em análise recente, consolidou-se em nosso país uma nova classe de eleitores: a classe dos eleitores cigarras - uma alusão à fábula da "Cigarra e a formiga". Pra que trabalhar se há quem trabalhe por nós e ainda temos representantes que garantem que grande parte do fruto desse trabalho venha a nós sem que precisemos nos esforçar para isso, a não ser gritar que queremos?

O fato é que, a continuar assim, seremos uma nação dominada por cigarras tristes, famintas, sem canto e sem encanto, já que faltarão formigas pra atender a demanda, pois, certamente uma metamorfose ocorrerá: muitas formigas passarão a viver como cigarras, já que serão desestimuladas ao trabalho, por não veem os resultados pessoais almejados.

É que hoje, os que trabalham, trabalham muito. Trabalham para sustentar a si próprios; um idoso; um jovem e um vagabundo compulsivo, classe de brasileiros em ascensão e não haverá programa de distribuição de renda que satisfaça a todos, como já não há. Além disso, grande parte dessa renda confiscada da classe produtiva pelo poder, não chega ao destino que apregoam estes arremedos de Robin Wood. A maior parte fica com eles mesmos, para se garantirem no poder, mantendo-se nele travestidos de benfeitores do povo. Esse mal se alastra e não vai ser fácil de contê-lo, visto o grande índice de popularidade que adquiriu.

A aceitação deste mal como bem, atingiu até pessoas tidas como intelectualmente desenvolvidas, já que muitos acreditam que este confisco disfarçado de distribuição de renda é um fator de apaziguação social, tipo: sei que estou pagando caro, mas enquanto os "sem terra", os "descamisados", os vagabundos não vierem bater à porta de minha casa e me incomodar, vou levando. Se a coisa agravar, coloco um muro alto; uma cerca eletrificada; contrato uma empresa de segurança, ramo de negócio que na história desse país teve um crescimento fantástico nos últimos anos, e, se nada disso adiantar, eu mudo de país, como muitos já fizeram e aparecem por aqui só pra participar de eventos de seus interesses e levar lá pra fora os dividendos.

Mas a questão do mal é muito mais antiga do que muitos possam imaginar. Nos mais remotos tempos Jó e Jeremias já se perguntavam: - "Por que os ímpios continuam a viver e ao envelhecer se tornam ainda mais ricos?" (Jó 21, 7). "Porque prospera o caminho dos ímpios? Porque os apóstatas estão em paz?" (Jr 12, 1b), perguntavam eles a Deus. O profeta Jeremias, da mesma maneira que Jó, já naqueles tempos, não conseguia conter sua revolta diante da prosperidade dos homens injustos e que se beneficiavam da ignorância das multidões.

Resumindo: - Por que os justos sofrem? Eis a pergunta que percorre toda a Bíblia.

O próprio Filho de Deus, o maior representante do bem que a humanidade já teve notícia e que veio para vencer o mal, foi preterido a criminosos famosos de sua época. Ainda, ao se encontrar diante do mal clamou do alto da cruz: "Deus meu, Deus meu, por que me abandonastes?" (Mt 28, 46).

- Será que Deus nos abandonou mesmo?

Entre tantas respostas bíblicas, as mais sábias e satisfatórias para fazer frente à maldade humana seriam as seguintes: "Falei de coisas que não entendia" (Jó 42, 3b) e "Pai, em tuas mãos eu entrego o meu espírito" (Lc 23, 46b) e é exatamente isso que eu e milhões de brasileiros fazemos agora, pois a partir destas colocações só nos é possível tirar duas conclusões: Primeira: Que o mal é um mistério insondável; Segunda: Que o triunfo do bem sobre o mal não parece possível no tempo presente.

Parece-nos, no entanto, mais plausível crermos no mistério do mal como uma carência e falta do ser face ao ter. Tais questionamentos nos colocam diante do mistério do mal como uma realidade que necessita de esforços redobrados para revertermos este processo que parece aniquilará não só os brasileiros como a humanidade.

Assim, só posso crer que Deus nos insere neste mistério para que possamos buscar, muito além de explicações, atitudes que aproximem nossas ações das ações propostas pelo Evangelho de Cristo e, embora sendo poucos, não podemos jamais desistir.

A presença do mal é a ausência do bem, assim como a escuridão se dá pela ausência da luz e o ódio se dá pela ausência do amor.

Um dia, quem sabe, esse mal seja banido da face do Brasil e da face da Terra, por que "Bem‑aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus", disse Jesus (Mateus, 5:31) iniciando o Sermão da Montanha. Jesus situou, assim, a humildade espiritual em primeiro lugar, entre as virtudes que precisamos adquirir para merecermos a glória das almas redimidas.

Exegetas do Evangelho, adulterando por completo o sentido dessa máxima, pretendem que ela proclame bem‑aventurados os apoucados de inteligência, os retardados mentais, os idiotas e os imbecis. Tal interpretação, todavia, é insustentável, pois, a ser verdadeira, não haveria lugar nos Céus para os ricos de espírito, e o próprio Mestre, o expoente máximo da riqueza espiritual que a Terra já conheceu, ficaria de fora.

Por pobres de espírito, na acepção em que Jesus empregou tais palavras, deve-se entender por aqueles que, aspirando à perfeição e comparando com o ideal a ser atingido com o pequenino grau de adiantamento a que chegaram; reconhecem o quanto ainda são carentes de espiritualidade. Reconhecem que esse crescimento, certamente, só se dá pelo trabalho duro e o estudo incessante, virtudes que hoje não são premiadas, por que, aqueles que tomaram o poder para si mantém os seus governados na ignorância e na preguiça e disso visivelmente se locupletam em benefício próprio, alimentando suas vaidades pessoais insaciáveis; vaidade que transformou-os de verdadeiros monstros que são em ídolos; em demônios em pele de cordeiro.

Apesar de sermos um país tido como cristão, visivelmente nos falta a real espiritualidade e é por isso que estamos vivendo o que hoje vivemos: o enaltecimento do mal.

Que Deus nos proteja.


(*) Luiz Antonio Schimanski, nascido em 02/03/1954 em Curitiba, Estado do Paraná, é formado em Direito (2007), em Ciências Contábeis (1980) com extensão em Ciências Econômicas e Estatística; e em Análise de Sistemas (Ciência da computação - Tecnólogo em Processamento de Dados(1995). Além das qualificações profissionais e acadêmicas é graduado pelo Silva Mind Control - Programação mental(1984); Em D. O. M. ? Desenvolvimento e Orientação mental; em P. E. S. (1990) ? Percepção Extra Sensorial (1994) e em P. N. L. ? Programação Neuro Linguística(1999). Estudioso em comportamento humano é autor de diversos estudos sobre o tema que foram publicados em jornais e na Internet. Escritor, compositor e poeta, com diversos textos e poesias publicadas na Internet.