O Dilema do Imperador Naruhito

Por Leôncio de Aguiar Vasconcellos Filho | 02/05/2025 | Religião

Quando se fala em religião, levamos em conta os dirigentes das diferentes nacionalidades. Quase sempre são, nos Estados Laicos, seguidores das religiões que desejam. Mas, nos Estados religiosos não democráticos, os dirigentes seguem a religião por eles adorada, não por tradição, e sim por imposição do sistema, assim como o povo. Mas também existem os Estados livres, mas cujo governante maior segue a religião oficial por uma tradição centenária ou milenar: um deles é o Japão, que desde a destituição do Shogunato e posterior instauração da Dinastia Meiji, no final da década de 1860, adotou como religião oficial o Xintoísmo, mesmo a contragosto da maioria da população, que prefere o Budismo. 

O Xintoísmo é uma linda doutrina que prega, principalmente, o culto aos antepassados. O atual Imperador do Japão é Xintoísta. E o seu avô, Imperador Hirohito, comandou um Estado imperialista que invadiu a China, a ainda não dividida Coreia, Taiwan e a Indochina Francesa, além de várias Ilhas do Pacífico. Isso, numa época em que os valores mundiais já tinham se convertido na proteção de toda a dignidade humana. Na China, mais especificamente na Manchúria e em Nanquin, as civis e soldados capturadas tinham se tornado escravas sexuais do Exército Imperial Japonês. Durante a Segunda Guerra Mundial, que se seguiu, os pilotos da Força Aérea Imperial atuavam como kamikazes, explodindo-se com os aviões contra navios estadunidenses inimigos. No final da Segunda Guerra Mundial os japoneses haviam matado cerca de 10 milhões de pessoas de diferentes nacionalidades.

Agora, nos perguntamos se, sendo Xintoísta, Naruhito venera Hirohito. Se levarmos em conta que Hirohito tinha seu Primeiro-Ministro Hideki Tojo, que dava as ordens, há um caminho de regeneração da figura de Hirohito. Mas, se também soubermos que Hirohito tinha o poder de fazer cessar quaisquer ataques (os kamikazes se matavam em nome do Imperador, e não do Primeiro-Ministro), ficaria insustentável, para Naruhito, manter a prática Xintoísta pura. Não deve haver orgulho de um avô que, no mínimo, deixou livre a prática de morticínios. Então, para a sua própria paz interior deveria renunciar ao Xintoísmo e comunicá-lo aos países alvo da ambição de Hirohito, com um pedido formal de desculpas, e no escopo de restaurar as relações diplomáticas. É a única saída para o dilema de Naruhito.