O dia que se queria só...

 Hoje o dia começou como que não querendo nada... Nada do tudo ou tudo do nada que poderia acontecer. Triste, chuvoso, com cara de poucos amigos. Prenunciava uma série de longas e infindáveis horas, que provavelmente seriam sentidas como se minutos a mais tivessem. Muitos...                                                                             Pouco a pouco pessoas começaram a surgir. Seus passos lentos denotavam a empáfia com que encaravam o dia tal qual ele se apresentava... Como que não querendo que o vissem, que o sentissem e dele participassem. Parecia querer ficar só. Só. Tão somente um dia... Tão seu. Egoisticamente seu.                                                                                                                 Algo inquietante pairava no ar...                                                        Era um dia para bocejar, na tentativa de empurrar para debaixo do tapete, tudo que estava dissimulado em um sorriso: o ruim, o mal, a mentira, a inveja, o ciúme, a insegurança. Num sorriso sem brilho no olhar. Apenas e tão somente um repuxar dos cantos da boca para os lados. Nada mais.                                                                 Mas acontece, que palavras ditas entre dentes, palavras sussurradas entreouvidos, pensamentos não externados, posturas e gestuais que se pensava despercebidos, foram pouco a pouco emergindo para compor o dia que se queria só.                               E coisas foram acontecendo, que fizeram com que o dia, em sua inefável certeza, se quisesse noite. O dia, que terminaria tão logo a noite chegasse, acabando com tudo que sequer havia começado.   Como se possível fosse...

 Heloisa