Este fato hipotético teve a sua gênese no sonho de um homem simplório e totalmente anônimo, residente numa pequena cidade de um país qualquer. Talvez o Rei do Universo o escolheu para provar e ratificar que os seus desígnios são sempre envoltos de mistério. Sendo assim, por mais que o homem tido como um sabichão tente demonstrar, com certa arrogância, a sua capacidade de inventar e criar muitos projetos mirabolantes, este, não passa de uma formiguinha ou mesmo um minúsculo grão de areia, em comparação à magnitude e onipotência de um Ser Superior, portador de vários títulos, conforme a religião de cada pessoa ou comunidade. Sendo assim, aquele humilde homem anônimo que teve o privilégio de ter este sonho e depois concretizá-lo, jamais quis ou desejou ser famoso por causa da sua humilde iniciativa. Pois, apesar de ter sido a única pessoa capaz de saber exatamente a quantidade de horas que o tempo, naquele dia inusitado ficou estático, mesmo assim ignorou qualquer tipo de menção honrosa ou homenagem e continuou vivendo humildemente o seu dia a dia. O SONHO Foi numa noite comum como tantas outras que aquele homem desconhecido teve este sonho fora de série. Através dele dava para imaginar e ver a angústia de várias pessoas, com exceção as crianças e adultos alienados, que subitamente ficaram sem noção nenhuma do tempo exato em que estavam vivendo. Pois caprichosamente, num belo dia qualquer, todos os relógios do Universo, sem exceção, simplesmente travaram, deixaram de funcionar exatamente quando deu meio-dia, para os ocidentais e, obviamente, meia-noite nos demais países com a respectiva diferença do fuso horário em doze horas. Como tal fato não tinha sido premeditado, ou seja, nenhum ser humano, astrônomo, cientista, astrólogo, futurólogo etc. não dispunha de meios para detectar tal fenômeno, seria difícil pesquisar, querer saber o porquê que nenhum relógio funcionava. E ainda bem que a vida de cada um continuava normalmente ou quase. Pois sem a mínima condição de saber a hora exata ou mesmo aproximada, cada ser humano na face da terra tentava viver aquele grande espaço de tempo gratuito cada um ao seu modo. Apreensivo ou levando na esportiva, confiando num breve retorno da normalidade. Não resta dúvida, a maioria das pessoas, escravas do tempo, fazia parte do primeiro grupo, ou seja, vivia de modo apreensivo, intranquilo etc. Neste dia atípico em que, para uma parte do mundo a noite demorava a chegar e para a outra era o dia que não raiava, todas as pessoas ficavam fazendo uma pergunta sem resposta: “O que está acontecendo? Por que os relógios não funcionam? Por que o tempo parou? Na realidade, ninguém tinha nenhuma resposta convincente e muito menos condições de pesquisar ou elaborar alguma hipótese. Repito: num momento como este somente os bebês e os deficientes mentais não tinham condições de perceber patavina do que estava ou não acontecendo com a humanidade. Cada uma destas categorias de seres humanos vegetava, respectivamente, vegetava nos seus berços ou jardins e corredores de hospícios. Para cada um deles, o que importava o tic-tac de algum relógio de parede se nenhum deles tinha noção do que seria tal objeto? Por outro lado, as pessoas consideradas normais, principalmente, aquelas que sempre vivem em função do tempo, religiosamente, cronometradas através de qualquer tipo de relógio, estas sim, neste dia ficaram boquiabertas com aquela súbita e inexplicável parada do tempo em todos os sentidos. Todavia, como o outro relógio, o chamado biológico de cada um funcionava normalmente, cabia a cada pessoa tomar suas decisões individuais, isto é, com relação às suas necessidades fisiológicas, seu descanso, suas refeições etc. A continuação do sonho daquele homem, o escolhido, o predestinado talvez até por Morfeu, deu prosseguimento quando lhe foi mostrado um método para ele poder identificar a contagem correta das horas, mesmo com todos os relógios parados. Consistia em montar uma clepsidra, de maneira tal que no dia e momento exatos ele a colocaria para funcionar, ou seja, concomitantemente, quando o sol ficasse estacionado no zênite. Aí sim, só ele poderia cronometrar o tempo através da sua engenhoca. E foi realmente o que aconteceu. No dia combinado e exatamente ao meio dia, aquele homem começou a cronometrar o tempo, através da sua clepsidra. Não se contentando com aquele ato egoísta, como nada lhe fora proibido através do seu sonho mirabolante, eis que aquele modesto senhor resolveu postar na internet o que lhe fora determinado. Imediatamente milhões de pessoas ficaram curiosas com aquela postagem audaciosa e inusitada, alguns céticos; outros duvidosos, mas seguidores daquela postagem. Portanto, como aquilo não era nada oficial, a maioria das pessoas resolveu mesmo aguardar o retorno da continuidade da passagem do tempo. Neste ínterim, uma coisa todo mundo tinha absoluta certeza, o casal que por sorte ou não adentrou num motel neste intervalo, simplesmente aproveitou o máximo, pagando apenas por uma hora ou menos. Agora quem deve ter ficado com uma grande pulga atrás da orelha não foi o proprietário de um estabelecimento desta natureza, mas os agiotas e demais pessoas que emprestam dinheiros a juros, os quais vivem em função do tempo, ou seja, quanto mais rápido este passar, mais rápido o dinheiro chegará nas suas contas bancárias.