O Dia dos Pais Para uma Criança sem Pai
Publicado em 07 de agosto de 2011 por Luciane Mari Deschamps
Quando se aproximam essas datas comemorativas lançadas pelo comércio para estimular as pessoas a comprar, sempre vêm junto sentimentos que mexem com o que temos de mais especial: nossas lembranças, sejam elas boas ou ruins.
No meu caso, no Dia dos Pais, o que recordo sobre a figura masculina em minha casa, desempenhando o papel de pai foge totalmente da imagem dos outdoors que vejo, hoje, pelas ruas e nas propagandas veiculadas na televisão. Meu pai nunca usou terno e gravata, não era um jovem bonitão, sarado, porte atlético, de largo sorriso branco, cheio de vitalidade, transbordando energia e que vivia brincando com os filhos no sofá da sala (aliás, esse tipo de brincadeira nem rolava na minha época de criança).
Pai tinha que ser sério, bravo, distante e devia trabalhar muito (de preferência fora de casa: sair muito cedo e vir para o almoço, sair e voltar à noitinha, sujo, mal humorado e cansado do trabalho). Nos domingos, era quase uma presença estranha, pois mais atrapalhava que ajudava. Vivia ralhando, chamando a atenção da gente e não tinha paciência com a piazada que fazia barulho bem na hora quando ele resolvia dormir depois do almoço.
Eu só lembrava que precisava fazer um cartão para o pai no mês de agosto, quando a professora passava, como tarefa de casa, "trazer lápis de cor e cartolina para fazer um cartão para o dia dos pais". Na maioria das vezes eu não sabia o que escrever e desenhar, afinal, quem era aquela pessoa que aos poucos desapareceu da minha vida e da vida de meus irmãos? Eu lembrava frases prontas que ouvia aqui e ali, caprichava até, fazia um texto do tipo "Frankstein" e entregava para professora, pensando mais na nota do que no significado da atividade. A maioria dos meus colegas ficava empolgada com a tarefa, mas aquilo, para mim, era mexer na dor que mais me doía.
Na minha carteira escolar, sozinha e pensativa, fazia o tal cartão para "entregar pro papai no domingo", mas eu sabia direitinho onde ia colocá-lo quando a aula terminasse: no fundo do fundo da minha mochila para ser esquecido junto com o esquecimento da figura que fora meu pai durante a minha vida inteira.
O tempo passou. Ainda essas datas continuam remexendo lembranças e fazendo doer, todos os anos, a mesma ferida.
Autora: Luciane Mari Deschamps
No meu caso, no Dia dos Pais, o que recordo sobre a figura masculina em minha casa, desempenhando o papel de pai foge totalmente da imagem dos outdoors que vejo, hoje, pelas ruas e nas propagandas veiculadas na televisão. Meu pai nunca usou terno e gravata, não era um jovem bonitão, sarado, porte atlético, de largo sorriso branco, cheio de vitalidade, transbordando energia e que vivia brincando com os filhos no sofá da sala (aliás, esse tipo de brincadeira nem rolava na minha época de criança).
Pai tinha que ser sério, bravo, distante e devia trabalhar muito (de preferência fora de casa: sair muito cedo e vir para o almoço, sair e voltar à noitinha, sujo, mal humorado e cansado do trabalho). Nos domingos, era quase uma presença estranha, pois mais atrapalhava que ajudava. Vivia ralhando, chamando a atenção da gente e não tinha paciência com a piazada que fazia barulho bem na hora quando ele resolvia dormir depois do almoço.
Eu só lembrava que precisava fazer um cartão para o pai no mês de agosto, quando a professora passava, como tarefa de casa, "trazer lápis de cor e cartolina para fazer um cartão para o dia dos pais". Na maioria das vezes eu não sabia o que escrever e desenhar, afinal, quem era aquela pessoa que aos poucos desapareceu da minha vida e da vida de meus irmãos? Eu lembrava frases prontas que ouvia aqui e ali, caprichava até, fazia um texto do tipo "Frankstein" e entregava para professora, pensando mais na nota do que no significado da atividade. A maioria dos meus colegas ficava empolgada com a tarefa, mas aquilo, para mim, era mexer na dor que mais me doía.
Na minha carteira escolar, sozinha e pensativa, fazia o tal cartão para "entregar pro papai no domingo", mas eu sabia direitinho onde ia colocá-lo quando a aula terminasse: no fundo do fundo da minha mochila para ser esquecido junto com o esquecimento da figura que fora meu pai durante a minha vida inteira.
O tempo passou. Ainda essas datas continuam remexendo lembranças e fazendo doer, todos os anos, a mesma ferida.
Autora: Luciane Mari Deschamps