O Desenvolvimento Da Educação Ambiental Na Sala De Aula E As Reflexões Da Mesma A Partir Do Filme: “Ilha das Flores”
Por ketre Michele Rodrigues Kucharski | 20/08/2024 | EducaçãoO Desenvolvimento Da Educação Ambiental Na Sala De Aula E As Reflexões Da Mesma A Partir Do Filme: “Ilha das Flores”
Ketre Michele Rodrigues Kucharski*
Resumo
Este artigo pretende refletir sobre como podemos proporcionar a Educação Ambiental em sala de aula. Nesse sentido, será analisado um projeto interdisciplinar referente ao dia “Mundial do Meio Ambiente” o qual, foi desenvolvido em Julho de 2024 com a turma do 9º Ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Nossa Senhora da Glória, localizada no município de Santa Rosa/RS. Para tanto, foi utilizado como recurso didático, o filme: “Ilha das Flores” (Jorge Furtado, 1989). Destaca-se que o objetivo desse projeto visou proporcionar uma reflexão a respeito do consumismo presente na realidade social de todos os indivíduos e como ele repercute de forma desigual sobre as relações sociais e econômicas, assim como, suas consequências para o meio ambiente. Diante disso, também fomentar o desenvolvimento de um consumo consciente entre os estudantes. Nesse sentido, será apresentado de forma breve o contexto histórico da Educação Ambiental no Brasil, assim como a necessidade de trabalharmos algumas questões sobre o meio ambiente em sala de aula. Por fim, o presente artigo busca analisar a execução do projeto citado e seus resultados obtidos principalmente através do filme utilizado como recurso didático.
Palavras-chave:
Educação Ambiental, Recursos didáticos, Consumismo, Lixo.
*Mestre em História, professora da Rede Municipal de Ensino Fundamental de Santa Rosa/R.S.
Introdução
O presente estudo faz uma análise sobre como podemos desenvolver a Educação Ambiental na sala de aula e qual sua importância para a atual sociedade. Nesse sentido, será analisado um projeto interdisciplinar entre as disciplinas de História e Ensino Religioso referente ao dia “Mundial do Meio Ambiente” (05/06).
Cabe aqui destacar que esse projeto foi desenvolvido em Junho de 2024 com a turma do 9º Ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Nossa Senhora da Glória, localizada no município de Santa Rosa/RS. Sendo que essa turma é composta por doze adolescentes do sexo feminino e oito adolescentes do sexo masculino com uma faixa etária entre 14 anos e 15 anos.
Salienta-se que esse projeto interdisciplinar ocorreu durante, aproximadamente, uma semana. Nesse sentido, primeiramente foi apresentado para a turma o curta-metragem gaúcho “Ilha das Flores”. Em seguida, ocorreu um debate sobre as informações apresentadas no vídeo. E logo após, os estudantes elaboraram um resumo sobre o filme e responderam algumas questões de interpretação sobre o mesmo.
Dessa forma, o projeto visou proporcionar uma reflexão a respeito do consumismo presente na realidade social de todos os indivíduos e como ele repercute de forma desigual sobre as relações sociais e econômicas. Analisando também suas consequencias para o meio ambiente, principalmente através do lixo que produzimos e descartamos.
Para tanto, faz-se necessário fomentar o desenvolvimento de um consumo consciente entre os estudantes e evitar o desperdício. Assim como, também discutir o modo como a sociedade interpreta, valoriza e se utiliza dos meios de produção, bem como as conseqüências dessas ações.
Diante disso, no presente artigo será apresentado de forma breve o contexto histórico da Educação Ambiental no Brasil, assim como a necessidade de trabalharmos algumas questões sobre o meio ambiente em sala de aula. E por fim, será analisado a execução do projeto citado e seus resultados obtidos através do filme utilizado como recurso didático.
A Educação Ambiental e seus desafios: o consumismo e suas consequências
Foi a partir da década de setenta, que começaram a ocorrer transformações a cerca do debate sobre o meio ambiente em escala mundial. O desenvolvimento industrial e o processo de urbanização apresentaram seus impactos ambientais sobre os recursos naturais e sobre a vida das pessoas. E através de conferências e debates surgiram estratégias que tinham o objetivo de promover a Educação ambiental. Nessa mesma década, no Brasil, Gonçalves (1993), explica que:
[...], com a anistia, retornaram ao Brasil, diversos exilados políticos que vivenciaram os movimentos ambientalistas europeus e que vão trazer um enorme enriquecimento ao movimento ecológico brasileiro. (GONÇALVES, 1993, p.16)
É necessário destacar que na década de 1990, apesar da crise ambiental ter sido aprofundada no Brasil, principalmente através das mudanças climáticas, também nesse mesmo período é criado entre outros, o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e o Ministério do Meio Ambiente (MMA). Da mesma forma, foi promovida a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento no ano de 1992 (Rio-92). Segundo o Programa Nacional de Educação Ambiental-ProNEA (2005):
Durante a Rio 92, com a participação do MEC, também foi produzida a Carta Brasileira para Educação Ambiental, que, entre outras coisas, reconhece ser a educação ambiental um dos instrumentos mais importantes para viabilizar a sustentabilidade como estratégia de sobrevivência do planeta e, consequentemente, de melhoria da qualidade de vida humana. (Programa Nacional de Educação Ambiental, 2005, p.24)
É importante salientar que cinco anos após a Rio-92 é aprovado pelo Conselho nacional de educação os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). Aos poucos, nas escolas, os PCN serviram como subsídios na elaboração de projetos educativos para tratar temas denominados transversais, tais como: meio ambiente, a diversidade cultural e consumismo.
Outro avanço referente à Educação ambiental no Brasil ocorreu em 1999 quando foi criada a Diretoria do Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA) que vinculada a Secretaria Executiva do Ministério do Meio Ambiente desenvolveu diversas atividades. Destaca-se que em todo o país muitos professores foram capacitados através da implantação dos recursos de Educação Ambiental a Distância.
Em novembro de 2004, foi realizado o V Fórum Brasileiro de Educação Ambiental. “Realizada durante todo o evento, a atividade denominada “Conversando com as Redes” proporcionou aos participantes a oportunidade de estar em contato com as pessoas que formam as redes de Educação Ambiental de todo o Brasil”. (Programa Nacional de Educação Ambiental- ProNEA, 2005, p.31).
Apesar dos avanços da Educação Ambiental no processo educativo, vinte anos após os debates ocorridos na Rio-92 ainda existe muito a ser realizado. Nesse sentido, em 2012, foi criada a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (CNUDS) também conhecida como Rio+20.
Paralelo ao evento, também no Rio de Janeiro, ocorreu a Cúpula dos Povos que organizada por entidades da sociedade civil e movimentos sociais de vários países demonstrou uma maior preocupação com o meio ambiente. Destaca-se que atualmente também não existe um consenso sobre o entendimento de Educação Ambiental. Segundo Sauvé:
[...] apesar de sua preocupação comum com o meio ambiente e do reconhecimento do papel central da educação para a melhoria da relação com este último, os diferentes autores (pesquisadores, professores, pedagogos, animadores, associações, organismos, etc.) adotam diferentes discursos sobre a educação ambiental e propõem diversas maneiras de conceber e de praticar a ação educativa neste campo. (SAUVÉ, 2005, p.1)
Alguns teóricos acreditam que ela baseia-se nas relações entre as pessoas, sociedade e ambiente natural que por meio da interação se desenvolvem. Segundo Loureiro (2006):
A Educação Ambiental não deve ser apenas compreendida como um instrumento de mudança cultural ou comportamental, mas também como instrumento de transformação social para se atingir a mudança ambiental. (LOUREIRO, 2006, p.12)
Nesse sentido, as relações sociais devem ser transformadas pela Educação Ambiental. Buscando assim, uma sociedade justa que preze pela igualdade e seja responsável pelos seus atos sobre o ambiente.
Dessa forma, é impossível negar que diariamente quando acordamos começamos a consumir o mundo que nos cerca, por exemplo: através da água, dos alimentos e da eletricidade que utilizamos. Destaca-se assim, que o ato de consumir também é uma característica cultural.
Diante disso, dependendo da consciência das pessoas haverá diversos tipos de consumo, mas ele sempre ocorrerá. Segundo o mini Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa o consumo é: “1. Ato ou efeito de consumir, de gastar. 2. Uso de mercadorias e serviços para a satisfação de necessidades e desejos humanos”. (AURÉLIO, 2008, p.261)
Entretanto, sabemos que muitas vezes o ato de consumir das pessoas ocorre por impulso, afinal, somos constantemente impulsionados pelo modo de produção capitalista: produção, consumo e lucro. Sendo possível perceber que o objetivo final do sistema capitalista será sempre atingir o lucro proporcionado pelas vendas dos produtos consumidos por alguns membros da sociedade.
Dessa forma, as indústrias estimulam as vendas lançando moda e desenvolvendo sempre novos produtos no mercado. Por fim, através das propagandas e pela própria sociedade somos influenciados a consumirmos cada vez mais. Conforme as pesquisas de Bauman (2001):
[...] o formidável poder que os meios de comunicação de massa exercem sobre a imaginação popular coletiva e individual. Imagens poderosas, “mais reais que a realidade”, em telas ubíquas estabelecem os padrões da realidade e de sua avaliação, e também a necessidade de tomar mais palatável a realidade “vivida”. A vida desejada tende a ser a vida “vista na TV”. (BAUMAN, 2001, p.99)
Nesse sentido, muitas vezes em busca da ilusória felicidade proporcionada principalmente pela mídia somos estimulados a consumir de forma irresponsável e inconsequente. Assim, procurando satisfazer nossas “necessidades” nos tornamos consumistas atendendo às exigências de uma sociedade capitalista.
No nosso cotidiano, seja através do modo de produção, na mídia ou até mesmo nas ruas de nossa cidade, vivenciamos momentos de violência, competição, consumismo e desigualdade. Loureiro (2006) destaca que:
Quem tem recursos financeiros passa a ter uma esperança de vida ampliada, quem não tem fica jogado a própria sorte ou dependente da caridade de organizações ou pessoas solidárias às ajudas humanitárias. (LOUREIRO, 2006, p.30)
Contudo, desenvolver a sensibilidade e a solidariedade da sociedade sobre os atuais problemas socioambientais torna-se uma questão de sobrevivência para toda a humanidade. Segundo Brandão (2005):
Sobrevém o perigo de que ao “conquistar” e “utilizar” os recursos naturais em proveito próprio, a espécie humana possa estar gerando, pouco a pouco, mas em uma velocidade crescente, os cenários e as condições de sua própria destruição. (BRANDÃO, 2005, p.34-35)
Dessa forma, Brandão (2005) faz um alerta sobre o fim da humanidade que ocorrera possivelmente através da irresponsável forma como utilizamos os recursos naturais. Ele destaca que:
Em nosso tempo e, sobretudo, desde a Revolução Industrial, o poder dos seres humanos agirem sobre, contra ou a favor da Natureza foi multiplicado muitas e muitas vezes. E assim, multiplicado, ele tornou-se ao mesmo tempo uma razoável esperança e uma enorme ameaça. (BRANDÃO, 2005, p.80)
Nesse sentido, as relações capitalistas através da industrialização, produção, consumo, entre outras, são as principais responsáveis pela atual crise ambiental. Embora por lei todos tenham “o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado”, devido às desigualdades sociais, poucos possuem esse privilégio cada vez mais raro. Segundo Loureiro (2006):
No caso de uma sociedade desigual como a nossa, ciência e tecnologia acabam gerando bens e processos que reproduzem a situação de exclusão social e a lógica de exploração do patrimônio natural, em vez de serem socialmente apropriadas em base igualitárias. (LOUREIRO, 2006, p.50)
Diante dessa questão, precisamos praticar no nosso dia a dia um consumo com consciência voltado à sustentabilidade, ou seja, que permita a renovação da natureza. “Trata-se de aprender a utilizar racionalmente os recursos de hoje para que haja suficiente para todos e se possa assegurar as necessidades do amanhã”. (SATO & CARVALHO, 2005, p.37).
Sendo assim, para garantirmos os recursos naturais no futuro, precisamos modificar o nosso modo de produção e consumo, pois ambos contribuem de forma significativa para o desequilíbrio global.
Portanto, torna-se necessário reavaliarmos de maneira crítica a forma como somos estimulados para o consumismo e quais suas reais consequências para nossas vidas e para o meio ambiente. Precisamos compreender quais são nossas reais necessidades e diferenciá-las das necessidades criadas para obter status e reconhecimento social.
Destaca-se assim, que a atual sociedade baseada pelo sistema econômico capitalista sempre proporcionará novas estratégias para promover o lucro e garantir os interesses pessoais de alguns (banqueiros, industriários, donos de multinacionais, entre outros). Nesse sentido, podemos citar como exemplo, os produtos ditos como ecológicos ou sustentáveis que continuam fomentando a desigualdade social e o desequilíbrio ambiental.
Portanto, no cotidiano das nossas relações precisamos desenvolver práticas sustentáveis para escaparmos do consumismo imposto culturalmente e desse sistema econômico dominante. É importante mudarmos nossos hábitos individuais, mas também, “é preciso atuar (nos educamos) em esferas coletivas, políticas e problematizadoras da realidade, e gerar ações que revertam à lógica produtiva, a degradação e a ocupação das nascentes.” (LOUREIRO, 2006, p.54).
Para isso, é necessário a cooperação e o diálogo entre os diferentes grupos sociais para conseguirmos uma sociedade sustentável que atenda às necessidades básicas de todos, sem distinções e sem destruir o planeta.
A Educação Ambiental na Escola
Destaca-se que a implementação de políticas específicas sobre a Educação Ambiental no Brasil ocorreram principalmente a partir da Constituição Federal de 1988. Pois, no inciso VI do artigo 225 estabeleceu a necessidade de: “promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente.” (BRASIL, 1988)
Nessa perspectiva, através da Educação Ambiental, independente de qual corrente ambiental, pois todas também possuem zonas de convergência, as pessoas conhecem melhor o meio ambiente, melhoram sua relação com o mesmo e com seus semelhantes. Elas tornam-se seres mais conscientes de seus atos e de suas responsabilidades socioambientais. Segundo Loureiro (2006):
A Educação Ambiental não atua somente no plano das idéias e no da transmissão de informações, mas no da existência, em que o processo da conscientização se caracteriza pela ação com conhecimento, pela capacidade de fazermos opções, por se ter compromisso com o outro e com a vida. (LOUREIRO, 2006, p.24)
Nesse sentido, acredito que ser um educador envolvido com as questões ambientais é um grande desafio nessa atual sociedade capitalista, na qual, estamos inseridos.
A Educação Ambiental dentro do ambiente escolar tem uma importante influência na transformação da comunidade em que está localizada. No sentido de promover as mudanças necessárias ao comportamento do homem em relação à natureza e a sua natureza. Mostrando a importância que o meio ambiente tem e o quanto a comunidade é importante para a conservação deste meio. Loureiro (2006) destaca que:
O fato de sermos uma espécie biológica não esgota o ser humano enquanto ser social. Ou seja, um ser complexo construído pelas relações entre o biológico, o cultural, o econômico, o político e o histórico. (LOUREIRO, 2006, p.37)
Também entendo que através de ações locais podemos atingir o global. Trabalhar com a realidade de nossos alunos, partindo de uma educação problematizadora, para transformar a relação cultura-natureza. Nesse sentido, Loureiro (2006) também destaca que:
A Educação Ambiental promove a conscientização e esta se dá na relação entre o “eu” e o “outro”, pela prática social reflexiva e fundamentada teoricamente. A ação conscientizadora é mútua, envolve capacidade crítica, diálogo, a assimilação de diferentes saberes, e a transformação ativa da realidade e das condições de vida. (LOUREIRO, 2006, p.29)
Nesse sentido, devemos contribuir para a formação de cidadãos conscientes de suas responsabilidades com o meio ambiente, buscando sempre atitudes de melhoria em relação a ele (da mesma forma, a cidadania busca a justiça social). Destaca-se que a visão do mundo que o aluno possui, se manifesta nas várias formas de sua ação. Pois, ele tem a sua realidade e a partir dessa situação existencial, devemos dialogar sobre nossas práticas sociais. Considerando inclusive a falta de valores que produzimos e reproduzimos na sociedade.
Dessa forma, como educadores, precisamos orientar nossos alunos para que eles busquem suas interpretações e percepções sobre nossa atual sociedade, a qual, a cada dia torna-se mais competitiva e preconceituosa. Proporcionando também a eles outras interpretações possíveis para nossas relações no ambiente social e natural.
Dentro das nossas possibilidades devemos buscar conscientizar nossos alunos sobre a ética na Educação ambiental. Pois somos responsáveis pelos nossos atos, nossas ações refletem no ambiente em que vivemos.
Devemos buscar o desenvolvimento de nossos alunos, trabalhando principalmente valores e atitudes envolvidas. Sendo através de informações locais do ambiente, relacionando informações de outras localidades, podemos obter informações mais globais sobre a região. Assim, o contexto local pode servir como ferramenta da Educação Ambiental para uma transformação global.
Os Recursos Didáticos Utilizados Em Sala de Aula
Em nossas práticas educativas torna-se extremamente necessário trabalhar com a visão de mundo dos nossos alunos. Pois, dessa forma estaremos evitando a reprodução de uma educação dominadora que não respeita as memórias e os saberes de seus educandos. Para Arroyo (2011):
Quando revisitamos nosso lugar, nossa cidade, matamos saudades e encontramos surpresas. Cada vizinho nos conta uma história do lugar. Não podemos acreditar em tudo, mas nos faz bem ouvi-las. Reacendem nossa memória e nossa identidade. Somos o lugar onde nos fizemos, as pessoas com quem convivemos. Somos a história de que participamos. A memória coletiva que carregamos. (ARROYO, 2011, p.14).
Assim, também precisamos propiciar espaços de reflexão sobre as relações sociais existentes em nossa atual sociedade. “Vivemos dentro da e natureza, como seres naturais que somos, todas e todos nós. Mas em um mundo de natureza coletiva e socialmente transformado em um mundo de cultura”. (BRANDÃO, 2005, p.31). Necessitamos estimular cada vez mais o desenvolvimento da conscientização dos nossos alunos para as suas reflexões quanto agentes transformadores da sua realidade.
Nesse sentido, durante a execução do projeto, busquei de forma objetiva, nas aulas de Ensino Religioso e História, incentivar os sujeitos envolvidos a refletir sobre a prática de um consumo consciente. Sendo que, também é necessário salientar que o desenvolvimento e resultado desse projeto ambiental, representaram uma construção conjunta entre professora e alunos. “A sala de aula não é apenas um espaço onde se transmite informações, mas onde uma relação de interlocutores constroem sentidos” (SCHIMIDT,2010, p.57).
Dessa forma, entendo que o educador torna-se um facilitador para novas aprendizagens, permitindo aos alunos a oportunidade de desenvolverem sua sensibilidade a respeito das questões ambientais.
Todavia, o acesso a informações através do documentário utilizado no projeto e em conjunto com aulas dialogadas após a apresentação da produção cinematográfica foi uma condição fundamental para o desenvolvimento da educação ambiental.
Nesse sentido, os filmes podem ser utilizados como material didático. Como fonte de consulta que produzem saberes, orientam e vão ao encontro de determinados objetivos pedagógicos. “A intenção maior é identificar como o aluno apreende as imagens e suas representações” (BITTENCOURT, 2011, p.365). Sendo o filme um recurso didático que proporciona espaços de reflexão e por intermédio desse recurso, o professor deve estimular o desenvolvimento de uma leitura crítica sobre a obra cinematográfica.
Dessa forma, foi possível proporcionar momentos de reflexão sobre as imagens e diálogos apresentados no vídeo. Para tanto foi utilizado o seguinte filme:
Ilha das Flores (Jorge Furtado, 1989) “Este filme retrata a sociedade atual, tendo como enfoque seus problemas de ordem sociais, econômicas e culturais, na medida em que contrasta a força do apelo consumista, os desvios culturais retratados no desperdício, e o preço da liberdade do homem enquanto um ser individual e responsável pela própria sobrevivência. Através da demonstração do consumo e desperdício diários de materiais (lixo), o autor aborda toda a questão da evolução social de indivíduo, em todos os sentidos. Torna-se evidente ainda todos os excessos decorrentes do poder exercido pelo dinheiro, numa sociedade onde a relação opressão e oprimido é alimentada pela falsa idéia de liberdade de uns, em contraposição à sobrevivência monitorada de outros”. (Sinopse disponível em: http: //www.cdcc.Sc. USP.br/cav/doc45.htm.Acesso em 15/10/2011).
Sendo que após a apresentação desse vídeo, os alunos realizaram um resumo do filme e responderam as seguintes questões: 1. Quais são os problemas sociais e ambientais que podemos observar no filme?, 2. Na sua opinião, por que aquelas pessoas comiam depois dos porcos? 3. O que mais chamou a sua atenção nesse filme? Por quê?, 4. De que forma podemos reduzir o “lixo” que produzimos em nossa casa?
Em relação ao questionário acima citado os resultados foram os seguintes na pergunta: Quais são os problemas sociais e ambientais que podemos observar no filme? Os alunos destacam principalmente a desigualdade social, a extrema pobreza e o descarte impróprio do lixo no meio ambiente que gera poluição e doenças.
Embora com algumas dificuldades de interpretação, eles também conseguiram responder: Por que aquelas pessoas apresentadas no filme comiam depois dos porcos? Nesse sentido, os alunos perceberam que ao contrário dos porcos que tinham um dono para cuidar deles, aquelas pessoas não tinham ninguém por elas.
Todavia, também é importante destacar que merecem maior destaque as respostas da pergunta: O que mais chamou a sua atenção nesse filme? Por quê? Nesse sentido, logo abaixo, podemos analisar algumas respostas dos estudantes, os quais, foram identificados apenas com a inicial de seus nomes.
“O fato dos porcos virem antes que a população da Ilha das Flores, porque isso mostra que os seres humanos não colocam a própria espécie como prioridade”. (Aluna A. do 9º Ano)
“O fato que mesmo citando a liberdade e dizendo que é algo importante e privilegiado às pessoas, elas não têm condições de serem livres”. (Aluna I. do 9º Ano)
“A questão dos seres humanos comerem depois dos porcos, por conta que só por dinheiro as pessoas eram tratadas piores que os porcos, só por dinheiro”. (Aluno A. do 9º Ano)
Nesse sentido, a partir dos relatos dos estudantes, podemos observar que os mesmos demonstram uma percepção e uma análise crítica da sociedade em que vivem, com ênfase, principalmente, na problemática desvalorização da vida humana. Assim, “O melhor ponto de partida para estas reflexões é a inclusão do ser humano que se tornou consciente” (FREIRE, 1996, p.76).
Através desse documentário foi possível uma maior reflexão sobre a desigualdade social presente também no cotidiano de alguns alunos. Nesse sentido, precisamos “estimular a compreensão global da realidade em que se vive, a socialização da informação e o diálogo entre os saberes” (LOUREIRO,2006, p.54).
“Foi que, pelos porcos se alimentar antes que as pessoas, principalmente pelo fato de que o que eles comem pode ser o alimento que nós mesmos jogamos no lixo. Eu acredito que essa realidade não seja apenas no filme, pelo fato de que, em todos os lugares e regiões existem pessoas que sua condição financeira não seja uma das melhores”. (Aluna K. do 9º Ano)
A partir das respostas dos alunos podemos destacar que eles conseguiram inclusive colocar-se no lugar daquelas pessoas e despertaram outros valores em sua vida.
“As pessoas vivendo no lixão em meio aos porcos, comendo comidas estragadas, esmagadas pelos porcos, a situação delas me deu um grande choque de realidade principalmente por mostrar duas realidades totalmente diferentes”. (Aluna D. do 9º Ano)
“A diferença significativa das condições financeiras das pessoas. Sou uma pessoa da classe média, então tenho algumas condições boas. Fiquei espantada com a situação das pessoas da Ilha das Flores”. (Aluna J. do 9º Ano)
Destaca-se que a escolha desse documentário, deve-se ao fato de que as informações apresentadas nele não são veiculadas pela mídia, entretanto, estão presentes no nosso cotidiano. Geralmente elas são ignoradas pela sociedade, mas em outros momentos despertam reflexões.
“O modo como o narrador sempre relembra que somos seres humanos com telencéfalo altamente desenvolvidos e polegares opositores. Pois, me parece que ele quer deixar claro que nossa espécie é inteligente e mesmo assim, agem de modo insano”. (Aluna C. do 9º Ano)
Também é importante salientar e analisar algumas das respostas sobre a seguinte questão: De que forma podemos reduzir o “lixo” que produzimos em nossa casa?
“Uma maneira é o princípio dos 3 R’s: reduzir, reutilizar e reciclar. Também evitando o desperdício de alimentos”. (Aluno V. do 9º Ano)
“Transformar o lixo orgânico em adubo, usar os materiais recicláveis para construir coisas, etc.” (Aluno B. do 9º Ano)
“Reduzir o lixo é bem difícil, pois tudo que fizemos vira resíduo, temos que saber reaproveitar os resíduos e saber separar, porque pode ser motivo de enchentes” (Aluno G. do 9º Ano)
Nesse sentido, é possível perceber que em geral os alunos sabem como reduzir o lixo doméstico, principalmente através da reciclagem e da compostagem do lixo orgânico. Assim como, após assistirem as imagens do filme “Ilha das Flores” que demonstram a fome da população e desigualdade social, eles perceberam a necessidade de evitar o desperdício dos gêneros alimentícios.
No entanto, chama a atenção que nem todos os estudantes consideram ser uma tarefa fácil a redução do lixo doméstico, pois muitas de nossas ações diárias acabam inevitavelmente ocasionando a geração de resíduos.
Assim como, eles também demonstram uma consciência ambiental sobre as possíveis consequências de um descarte irresponsável dos resíduos, como por exemplo, o surgimento de enchentes. Sendo esse um fato que recentemente afetou praticamente todo o Rio Grande do Sul, causando inclusive perdas humanas.
Considerações Finais
O estudo demonstra que a partir da execução do projeto, no geral, os alunos perceberam e refletiram sobre as problemáticas sociais e ambientais apresentadas no curta-metragem: “Ilha das Flores”. Assim como, também compararam e analisaram as imagens com a sua realidade e o seu cotidiano, demonstrando inclusive empatia em suas respostas.
É importante destacar que a metodologia adotada sem dúvidas despertou a sensibilidade dos sujeitos envolvidos sobre os impactos humanos causados ao meio ambiente. A produção cinematográfica com temáticas em torno das questões ambientais proporcionou aos alunos ampliarem sua percepção sobre situações cotidianas, além de reconhecer as diferentes formas de discriminação e injustiças presentes no sistema capitalista.
Entretanto, entendo que promover uma reflexão sobre educação ambiental e desenvolver mudanças de atitudes é um processo lento e contínuo. Sendo necessário um envolvimento não apenas dos estudantes, mas também de todos os membros da sociedade. Cada indivíduo inserido na sociedade possui direitos e deveres com relação ao ambiente onde vive, com responsabilidade individual e coletiva, local e global exercendo assim, uma cidadania ambiental.
Por fim, podemos considerar que é necessário aprofundar o interesse pelo meio ambiente em todas as esferas da sociedade, pois cada um de nós deve se responsabilizar na elaboração e promoção de uma sociedade justa, humanitária e sustentável.
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