O Desenho Infantil e sua Influência no Processo de Aprendizagem da Linguagem Escrita com Crianças de Pré-Escola

Vivemos numa sociedade grafocêntrica, pois onde quer que estejamos nos deparamos com a escrita, por isso nossa sociedade é conhecida como a sociedade da cultura escrita, das palavras, da menção aos meios de comunicação: placas de sinalização, propagandas, letreiro de lojas, panfletos. Assim a escrita tem lugar no mundo urbano, onde nas ruas das cidade a escrita tem seu lugar de destaque, pois são inúmeras as solicitações e convites escritos e visuais nos enchendo a todo momento de informações e conhecimento.

De um modo geral, desde cedo, as crianças passam por diversas experiências com a linguagem escrita: vivem com adultos que utilizam a escrita com diferentes funções, frequentam a escola desde muito pequenas, manipulam portadores de escritas, são alfabetizadas mais cedo, enfim, o contato com a escrita se dá desde que nascem.

A escrita é uma linguagem considerada importante para evolução da humanidade, pois a partir do seu desenvolvimento, tornou-se um instrumento social a ser ensinado. Embora exista diferentes funções sociais atribuídas à escrita, podemos dizer que ela adquire um papel essencial em nossas vidas: escreve-se para registrar ideias, traduzir pensamentos, emoções, sentimentos e diferentes informações.

Nesse contexto podemos dizer que o papel da educação infantil seria o de disponibilizar as crianças as informações necessárias para que possam pensar sobre sua própria língua. E isso não deve significar, de maneira alguma, antecipar a escolarização, pelo contrário, não podemos considerar a língua escrita só como um produto escolar, “mas sim um objeto cultural, resultado do esforço coletivo da humanidade. Como objeto cultural, a escrita cumpre diversas funções sociais e tem meios concretos de existência” (FERREIRO, 2000, p.43). Ou seja, Segundo Ferreiro o contato com a leitura e a escrita tem objetivo de garantir que as crianças tenham o direito de pensar sobre o assunto, de explorar ideias sobre a escrita e a leitura, enfatizando a sua função social.

As pessoas “interpretam e produzem à escrita nos mais variados contextos (letreiros, embalagens, tevê, roupas, periódicos, etc.). Os adultos fazem anotações, leem cartas, comentam periódicos, procuram um número de telefone, etc.” (FERREIRO, 2000, p.43). Quando a criança depara-se mergulhada nesse mundo de representações escritas e ao mesmo tempo simbólico, busca entender a natureza destas em sua vida. 

Ao ser aguçada a criança observa o ambiente que está inserido e os objetos que tem contato, como também faz uma análise das pessoas que usam a linguagem escrita. De tal modo, antes mesmo de aprender a escrever, a criança já tem sua compreensão sobre a língua escrita e através de suas experiências já constrói algumas aprendizagens.

Em muitos momentos, a criança por ser muito dinâmica e curiosa, observa no seu cotidiano as letras, as palavras, os textos em revistas, jornais, livros de literatura infantil, cartazes, placas, embalagens, roupas, brinquedos, televisão, computador entre outros objetos. São milhares de informações escritas que desde muito cedo, a criança evidencia curiosidade a aprender e busca-se fazer existir.

Nesse sentido, quando a criança é inserida na educação infantil (pré-escola), ela já manipulou, verificou e constatou coisas escritas. Mesmo não sabendo o seu significado, acredita que a escrita quer dizer alguma coisa, ou seja, ela já possui a sua percepção sobre o mundo escrito. 

A alfabetização é uma fase extremamente importante na vida de uma criança, pois é nesse momento que ocorre o processo das técnicas necessárias para a aprendizagem da leitura e da escrita. Dessa forma, consideramos que a língua escrita tem um papel essencial no meio sociocultural. Ela é mais do que um ato de aprender de um código linguístico, manifesta-se então, como um sistema de representação usado para manter a comunicação entre as pessoas, como ainda para expressar o que estamos sentindo.

Evidenciamos que no ambiente escolar, a aquisição da língua escrita necessita de fundamentos científicos visto que “[...] em geral apresentamos a escrita para a criança, o ensino do mecanismo prevalece sobre utilização racional, funcional e social da escrita” (MELLO, 2005, p.26). Refletir essa questão remete a uma reflexão crítica sobre as tarefas oferecidas nas escolas, diversas vezes socializadas por meio do treino da escrita das letras ou do exercício das palavras e sílabas. Observando desta forma, o ato de escrever se torna mais mecânico, o qual propicia apenas a memorização das letras.

Nessa visão entende-se a funcionalidade e a aprendizagem da língua escrita não como uma tortura, que visa apenas a grafia de palavras, mas sim como uma aprendizagem significativa a partir dos conhecimentos já existentes para a criança, que naturalmente vai compreendendo para que serve o sistema de escrita.

O processo de aquisição da língua escrita é o ponto de partida para a criança dar significados o mundo ao seu redor. Impregnar-se do processo de alfabetização, o qual algumas crianças terão a oportunidade de vivenciar, umas revelam mais intensidade, outras mais dificuldades, pois depende do período e ritmo de cada indivíduo. Atentos às dificuldades, as confusões, desafios e vitórias que fazem parte dessa etapa de alfabetização, alguns teóricos começaram a estudar o caminho percorrido pela criança para apropriar-se da linguagem escrita. Podemos citar, por exemplo, Vygotsky (1984), Luria, Emília Ferreiro e Ana Teberosky (1999). Abordaremos a seguir as concepções teóricas desenvolvidas por Emília Ferreiro e Ana Teberosky.

Emília Ferreiro e Ana Teberosky conduziram uma boa parte das suas discussões sobre o processo de alfabetização. Seus estudos revolucionaram a área da linguagem, pois trouxeram contribuições teóricas e novas concepções acerca do processo de alfabetização, como ainda apresentaram novas ideias para explicar como a criança aprende a ler e a escrever. Dessa forma, o livro “A Psicogênese da Língua Escrita”, baseado em pesquisas sobre aprendizagem da leitura e da escrita e na concepção construtivista, propôs quatro níveis sobre o desenvolvimento da linguagem escrita na criança, são: níveis pré-silábico; silábico, silábico-alfabético e alfabético.

O nível pré-silábico caracteriza-se pelas escritas aleatórias realizadas pela criança que procura realizar a relação existente entre sua fala e sua grafia. No início a intenção da criança não é registrar no papel os aspectos sonoros de sua fala. A criança demostra então que ainda não compreendeu a relação entre o registro básico e o som da sua fala. Nesse momento a criança confunde o desenho com a escrita já que seu repertorio gráfico não reconhece sua verdadeira intenção ao desenhar ou escrever, nesse sentido o desenho aparece dando apoio a escrita e garantindo o seu significado, ou seja, segundo Ferreiro e Teberosk a criança pensa que para ler os textos do seu jeito precisa necessariamente das figuras e dos desenhos, já que através dos mesmos ela pode entender as letras contidas ali. Desse modo “as primeiras escritas infantis aparecem, do ponto de vista gráfico, como linhas onduladas ou quebradas (ziguezague) contínuas ou fragmentadas, ou então como uma série de elementos discretos repetidos (séries de linhas verticais ou bolinhas)” (FERREIRO, 2000, p.18). Ainda vemos uma pequena semelhança com o início das atividades gráficas. Essas escritas quebradas lembram os traços das garatujas feitos pelas crianças.

No segundo nível apresentado por Ferreiro e Teberosky, no Nível Silábico, a criança apresenta um grande avanço em relação ao sistema de escrita. A criança usa-se da estratégia de relacionar cada letra ou pedaços da escrita com uma silaba mencionada por ela, no início ela não se preocupa com a letra utilizada por ela, para corresponder à sílaba falada, ela pode escolher aletoriamente uma silaba e dizer que corresponde a sua fala.

De acordo com Emília Ferreiro, nesta etapa silábica a criança “evolui até chegar uma exigência rigorosa: uma sílaba por letra, sem omitir sílabas e sem repetir letras” (2000, p.25) Neste período, a criança chega a uma das fases mais importantes, pois tem uma mudança das quantidades de letras que devem ser escritas a partir das palavras mencionadas. A criança agora apresenta um amplo avanço, pois passa a ter noção sobre os valores sonoros da sua fala. Ainda neste nível silábico, “as letras podem começar a adquirir valores sonoros (silábicos) relativamente estáveis, o que leva se estabelecer correspondência com o eixo qualitativo” (Ibidem).

Segundo Ferreiro antes, as sílabas eram representadas por letras aleatórias, mas agora as letras escritas correspondentes às sílabas já possuem certa relação com a letra que faz parte daquela sílaba. Por exemplo, ao escrever a “BOLA”, a criança já associa à sua escrita a algumas partes sonoras de sua fala, tendo isso em mente, ela escreveria “BOLA” desta forma “OA”.

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