A interdisciplinaridade representa um desafio crescido para nós educadores. Não por desconhecermos as interfaces dos conteúdos. Estas são até prazerosas de se estudar. A maior dificuldade está em vencer as nossas diferenças profissionais. Eis que explico. Determinadas matérias de matemática ou conteúdos de história que podem ser desenvolvidas junto a outras disciplinas demandam tempo, trabalho, projeto, uma breve saída da Zona de conforto onde as aulas são as mesmas já prontas e os conteúdos seguem o fluxo do material já elaborado. Demandam reunião. Planejamento. Pensar junto. Abrir mão de como eu quero trabalhar para o como nós queremos trabalhar. Demandam até conhecer um pouco das inovações tecnológicas possíveis de serem utilizadas.

Diante disto, encontramos uma classe de profissionais com a responsabilidade de ministrar conteúdos, muitos dos quais sabemos que terão pouca utilidade efetiva na vida do aluno, mas com uma ementa intensa, cheia de detalhes, de páginas de rodapé. E não faltam argumentos para justificar aumento de conteúdo em ementas.

Atentar para se concentrar mais na essência pode ser uma estratégia na fundamentação dos projetos. Estudar o que realmente é imprescindível ser aprendido, o que funciona como pré-requisito para permitir ao aluno desenvolver mais adiante sua autonomia, sua liberdade de pensamento e a condição de se aprender a estudar pode ser uma boa alternativa.

E quanto às diferenças? Onde elas entram?

Elas entram exatamente nos conteúdos que são importantes para uns e nem tanto para os outros. Naquilo que eu quero fazer, naquilo que o outro não quer que eu faça ou nem sempre quer fazer. Nas características de cada um, na forma como cada disciplina aborda um mesmo tema. No todo, nas partes... E é exatamente isso que me encanta na educação: as diferentes formas de perceber o mundo, a diversidade, a pluralidade, cada indivíduo com seu universo, com sua percepção do outro. Imagina aquele professor histórico revolucionário pensando num projeto geográfico com o calculista certinho envolvendo uma produção de trabalho corporal com a equipe do movimento...  entra a comunicação pois o que seria de nós sem ela...num pacote rico em diferenças físicas, quimicamente viável.

Percebem?

Essas diferenças nos fazem crescer. E às vezes o crescimento tem dor, tem diálogo, tem acordo, tem consenso mais que dissenso, tem uma certeza de que vai dar certo. Precisa dar certo. Só pode dar certo. Quando pensamos nisto nos lembramos do que carregamos de fato da escola que nós frequentamos. Conteúdos? Fórmulas? Equações? Carregamos aquilo que ficou armazenado no sistema Límbico, o que abstraímos pela emoção. O sorriso, o abraço, o projeto que todos ficaram exaustos, envolvidos e amaram realizar. Carregamos a roda de violão do recreio. O gol que fizemos quando o time estava prestes a virar. O amigo que deu uma grande força num momento muito oportuno. O professor que levantou nossa moral quando até a gente desacreditava que era possível.

Isto acalma quando meu coração se aperta ao ver os grandes desafios que enfrentamos. Acalenta minha alma e me nutre de esperança. Precisamos nos vencer. Precisamos juntos, buscar alternativas sérias para termos mais sucesso, para alcançarmos resultados verdadeiros com nossos alunos. É um dando a mão para o outro. Seu defeito é também o meu defeito, sua virtude é a minha virtude uma vez que eu só enxergo no outro aquilo que eu tenho em mim. E assim a gente caminha melhor, mais leve, percebendo que não estamos sozinhos, que há outros conosco. E um a um a gente chega ao todo que nada mais é do que a soma das partes.

Eu faço parte deste time. E você?