O DESABAFO DOS ANIMAIS
Por FRANCISCO SILVA JÚNIOR | 07/09/2018 | LiteraturaO DESABAFO DOS ANIMAIS
Francisco Silva Júnior
I
No sertão a minha rotina
Dia a dia é sempre igual
Cuidar da lida com o gado
Bem cedo, tirar leite no curral
Voltar pra casa à tardinha
É quase como um manual
II
Dormir cedo com as galinhas
Acordar com o cantar do galo
Campina e Cancão a cantar
Ao longe o relinchar do cavalo
O sol expulsando a noite
Na igreja o sino e o badalo
III
Todo dia é a mesma coisa
Não tenho o que reclamar
Até que num dia desses
Do quintal pus a escutar
Uma movimentação estranha
Incomum pro nosso lugar
IV
Corri e pela fresta da janela
Vi toda aquela arrumação
Galo, porco, boi e vaca
Convocando uma reunião
O Cavalo esticou a cabeça
E pediu uma explicação
V
Preciso saber qual a pauta
Pra gente se organizar
Nada de nivelar com o homem
Que não sabe o que falar
Enrola e nada decide
Se assim for, vou pinotar!
VI
Calma! Disse o galo
Tá tudo justo e acertado
A pauta e bem extensa
Com tema diversificado
Daremos vez e voz aos amigos
Que se sentem injustiçado
VII
Quem primeiro abriu o bico
Foi a galinha caipira
- Não aguento a comparação
A qual sou submetida
Se a mulher trai o marido
Logo a galinha é promovida!
VIII
Isso é uma baita injustiça!
Zangado o Boi começou a falar
Que busquem outro apelido
Estou chateado não vou negar!
Se a mulher trai o homem
De Touro vão lhe apelidar!
IX
Também estou indignado
Disse o Jumento a esturrar
Se o homem não sabe ler
E de ano não vai passar
Chamam logo de Jumento
Isso eu não posso aceitar!
X
De pé o cavalo aplaudiu!
O meu amigo tem razão
Também não fico pra trás
Tenho uma reclamação
Se o cabra é grosso e bruto
Chamar de Cavalo é a solução?
XI
O clima estava esquentando
Mas a Pomba interveio
Vamos com calma amigos
Sei que estão de saco cheio
Vamos direto ao ponto
Deixemos de arrodeio
XII
O Porco pediu a palavra
E expressou a sua dor
O homem suja o planeta
Queima e polui sem pudor
Depois o Porco sou eu
Isso é muito constrangedor!
XIII
A Pomba meio inibida
Falou com constrangimento
Fizeram-me símbolo da paz
E não tem paz nenhum momento!
Está muito feio para mim
Oh povo sem fundamento!
XIV
Já eram quase dez horas
E os bichos a se expressar
A Cobra levantou o rabo
Pedindo a vez pra falar
As atitudes dos homens
Estavam a lhe incomodar
XV
Maria uma mulher jovem
Sua profissão, professora!
Ensinava a ler e escrever
De aplausos merecedora
Mas a chamavam de Cobra
Uma atitude intrigadora!
XVI
Pois a Ana de Moisés
Mulher valente sem freio
Também a chamam de Cobra
Me causando um aperreio
Do lado bom e do mau
Me usam sem arrodeio!
XVII
Aproveitando a deixa
Da colega que falou
Também já não aguento
O que minha vida se tornou
Mãe Catita indignada
Dessa forma se expressou
XVIII
Os políticos fazem a festa
Com o dinheiro da população
Falta esgoto e segurança
Investimento na educação
São logo chamados de Ratos
Isso eu num aguento não!
XVX
O sol entra pela janela
Escuto o Galo a cantar
Percebo que era um sonho
Tão real, de assustar!
Os bichos ali no terreiro
Cada um no seu lugar.
XX
Somente a minha visão
A partir daquele dia
Mudou ao olhar os animais
Tenho respeito e alegria
Falo isso de coração
Sem nenhuma hipocrisia.