O delírio do destino.

Por favor, entenda a metáfora.

Não seja apressado.

Não gosto de Deus.

Mas reconheço que sem ele.

Eu não seria o que sou.

Então agradeço a Deus.

Mesmo não gostando.

Porque devo tudo a Deus.

Sabe qual o motivo de não gostar de Deus.

Muito simples ele não existe.

Por não existir passei a ignorá-lo.

Uma ideologia.

Senti enganado pela cultura.

 Mentiram para mim.

Acreditei na mentira.

Foi muito bom enquanto acreditava.

 Mas hoje sei que Deus não existe.

Motivo pelo qual passei a não gostá-lo.

Deus uma magnífica ilusão.

Mas ao descobrir que Deus não existe.

Descobri que tudo mais não existe.

Essa não existência é uma loucura.

O mundo é a representação da irracionalidade.

 Porque o mundo sem Deus ele não tem sentido.

 Nada tem sentido porque tudo caminha para o não ser.

Exatamente nada pode ser o mundo que não é.

Do mesmo modo o homem.

Também não sou.

Tudo que existe não existe.

Porque a existência não tem significado.

A vida é a mais absoluta alienação.

Por isso o melhor mesmo.

Seria não existirmos

Já que na prática não somos mesmo.

O ideal seria.

Comer.

Beber.

Dormir.

E fazer sexo para reproduzir.

Não ter ideologia.

Renegar todas as formas de cultura.

Porque cultura é antropologia.

Seria muito bom.

Se não tivéssemos a linguagem.

 Se não dominássemos os signos.

 Não inventássemos os raciocínios.

Se não existisse a lógica intuitiva.

 Se a substancia não apresentasse.

Na variabilidade de sua formalidade.

Se o sujeito não fosse produto da cultura.

Se fosse de fato possível o livre arbítrio.

Devo dizer mais uma coisa.

A natureza é atrevida.

Não tinha direito de fazer a vida.

Da forma que fez.

Aproveitou da não existência de Deus.

E não foi democrático com ninguém.

Transformou todos em pastos de todos.

E ficou divertindo com essa lógica.

De nada ser nada.

 Que coisa triste, mas tudo é dessa forma.

Quanto a mim, você é uma barata.

Depois de mortos.

Qual é a nossa diferença.

 Na perspectiva da natureza.

Não existe diferença.

 Tudo que existe tem como dever alimentar a natureza.

A vida é esse absurdo.

Existimos para alimentar a essencialidade.

Da natureza.

Esse é nosso futuro naturalmente triste.

Sermos eternamente a nossa negação.

 Presos a obscuridade da terra até desaparecermos definitivamente.

Edjar Dias de Vasconcelos.