O DECÁLOGO DA IGNORÂNCIA

A velha questão da inteligência humana associada indissoluvelmente à impossibilidade de se abarcar o conhecimento como constatação apriorística.


O apóstolo São Paulo confiava tão pouco na mente humana que um dia disse de si mesmo algo que ninguém, a rigor, ousaria dizer, exceto se em "estado alterado de consciência"... noutras palavras, louco. Ele sabia, com sólidas evidências, que a mente não é apenas culpada por mera ignorância, e esta, pela simples incapacidade natural de abarcar e assimilar a realidade exterior. Na verdade ele NÃO CONFIAVA na mente humana, pois ao longo da vida viveu situações onde ficou patente não apenas a rebeldia e rixa, mas a desconcertante desconfiança de que a mente era merecedora, uma vez que ela se comportava como uma "inimiga", uma "traidora", agindo como um carrasco desconhecido e irresponsável, retirando coisas úteis que poderiam salvar a vida do corpo e introduzindo coisas inúteis e perigosas à saúde física e psicológica.

Por isso Paulo disse "ainda que um anjo ou eu mesmo viesse um dia a dizer algo diferente do que estou dizendo agora, seja amaldiçoado". Veja a total descrença que o apóstolo tinha em relação ao futuro da Humanidade, e até no que diz respeito à preservação daquilo que ele estava escrevendo como registro da passagem de Cristo pela Terra, uma vez que não apenas acreditava piamente na inexorável destruição de qualquer matéria registrada em papiro, papel, madeira, tecido, etc. (como resultado da Lei da Entropia universal), mas também e principalmente na deterioração exegética e hermenêutica de tudo o que é transmitido de homem pra homem. Logo, era óbvio que ele fizesse o "estranho" pedido da Carta aos Gálatas no qual deixasse explícito que ninguém deveria confiar nem nele mesmo, caso ele viesse um dia a dizer algo diferente do que acabava de escrever.

Tudo isto faz lembrar aquilo que ficou conhecido como "O Pentagrama Shakespeareano", no qual o grande dramaturgo britânico falava (com a segurança de experimentação pessoal) da real impossibilidade de comunicação da experiência individual ou da virtual impossibilidade de se transmitir QUALQUER COISA de uma mente à outra, como se o ser humano tivesse ficado "incomunicável" desde que perdeu os atributos mentais de Deus pela Queda Edênica. Não é à toa que alguns oráculos dizem que um dos efeitos mais danosos da Queda foi justamente a perda da capacidade telepática humana.

Em vista disso tudo, traçamos o perfil do que seria a ignorância completa em seu maior grau na História Psicológica da Humanidade, organizando-a sob a forma de um "Decálogo" que se desdobra até o infinito, para dar ao leitor uma idéia mais "crua" do que tratamos aqui. Veja então...

O DECÁLOGO DA IGNORÂNCIA

1o) Não sabemos o que é a luz;
2o) Não sabemos o que é o espaço;
3o) Não sabemos o que é a matéria, nem mesmo um sólido;
4o) Não sabemos o que é o tempo;
5o) Não sabemos o que é uma estrela;
6o) Não sabemos o que ocorreu no passado;
7o) Não sabemos o que é a psiquê;
8o) Não sabemos o que é a vida;
9o) Não sabemos o que é a morte;
10o) Não sabemos o que somos;

...E, como se não bastasse, este decálogo é apenas um resumo do que ocorre de fato, pois, se soubermos analisar (pois isso também não sabemos), veremos que também...

...E O DECÁLOGO SE DESDOBRA...

11o) Não sabemos o que é o som;
12o) Não sabemos o que é movimento;
13o) Não sabemos o que é um buraco negro;
14o) Não sabemos o que é o magnetismo;
15o) Não sabemos o que são os animais;
16o) Não sabemos o que são as plantas;
17o) Não sabemos o que são os vírus;
18o) Não sabemos o que é o corpo humano;
19o) Não sabemos o que é a memória;
20o) Não sabemos o que é a intuição;
21o) Não sabemos o que é o amor;
22o) Não sabemos o que é a magia;
23o) Não sabemos o que é o sonho;
24o) Não sabemos o que é a sanidade ou a insanidade;
25o) Não sabemos o que é o natural;
26o) Não sabemos o que é o subnatural;
27o) Não sabemos o que é o sobrenatural;
28o) Não sabemos o que é uma coincidência;
29o) Não sabemos o que ocorre quando uma criança reza;
30o) Não sabemos o que são a sorte e o azar etc, etc.

...E com tanta ignorância crassa assim, ainda há uns de nós, que nem sabem quem são, que ousam arriscar a afirmação categórica, às vezes peremptória, de que isso ou aquilo é impossível, isso ou aquilo nunca ocorreu, isso ou aquilo não existe, isso ou aquilo é fantasia, isso ou aquilo é só imaginação, e usam muito o sempre, o nunca, o tudo, o nada, o infinito (todas coisas que nenhum de nós sabe o que são) para negar o óbvio e a realidade, que nós também não conhecemos direito.

Os próprios ignorantes, convenhamos, já nem parecem ignorantes (ou já não sabemos mais o que são), pois negar algo que não se conhece não é ignorância pura e simples. Será sem dúvida algo mais interior, mais "dia-bólico", e não "sim-bólico", quase anti-ecológico e egoístico ao extremo. Trata-se de pura presunção, mal dos males, o que faz desmoronar a árvore mais alta para que se renda à humildade do capim.

E nesta presunção antibiótica, não apenas julgam pessoas ? o que é uma pessoa? ? mas "garantem" que qualquer outra civilização, mesmo uma que tivesse nascido bilhões de anos atrás (e estivesse milhões de anos mais evoluída) JAMAIS poderia fazer uma viagem intergaláctica! Pode?

De fato, com tanta ignorância assim, o melhor mesmo é se afastar dessa gente, pois daqui há pouco eles vão dizer que você não existe e que você nem sequer enxergou o que acabou de ler.

Prof. João Valente de Miranda.
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