INTRODUÇÃO

O debate sobre um possível processo de desindustrialização no Brasil teve início nos anos 80, com a crise da dívida externa. Depois de se manter com uma taxa de crescimento médio de 7% ao ano no período de 1940 a 1980, houve uma queda brusca do crescimento econômico. O crescimento médio da economia neste período caiu para 2,9% (1980-89), ante 8,8% na década anterior, uma queda liderada pelo setor industrial. ( MEQUITA,2018).
Segundo Bresser – Pereira e Marconi (2008), a rápida abertura comercial e financeira da economia no começo dos anos 90,- iniciada pelo governo Collor - a combinação de juros elevados, câmbio valorizado e tarifas de importações reduzidas, retiraram de maneira não intencional os mecanismos que inibiam a “doença holandesa”.
O que parecia uma preocupação voltada para correntes estruturalistas, foi mais para o centro do debate em 2010, quando se percebeu que o setor industrial nacional havia estagnado.
Schymura e Pinheiro (2013) citam que há dois motivos principais pelos quais o risco da desindustrialização deva preocupar a todos, independente do viés ideológico. Em primeiro lugar, foi pago um valor muito alto pela sociedade brasileira. Imensos volumes de recursos públicos foram direcionados, boa parte do capital gerencial do governo foi canalizado (em detrimento de outras áreas importantes socialmente, como educação), para industrializar o país numa extensão e profundidade superiores da maioria dos países em desenvolvimento. Esse longo e tortuoso processo foi marcado por algumas experiências fracassadas, como a Lei da Informática.
O segundo ponto pertinente é a velocidade do processo de retração relativa do setor. A estagnação manufatureira alcançou entornos mais graves, a produtividade do setor ficou cada vez pior. Aliado a este o cenário de superoferta de bens industriais, após 2008, em função da baixa demanda dos países ricos e da superprodução dos países asiáticos, acelerou-se. Além disso, o Real sobrevalorizado historicamente soma-se a crescente salarial derivada do mercado de trabalho aquecido elevando um custo unitário do trabalho que suga a competitividade da indústria.
A desindustrialização acelerada no Brasil poderia ser avaliada pelo impacto que causa a sociedade: na perda de postos de trabalho; na qualidade do emprego; o impacto no crescimento potencial da economia e seus efeitos redistributivos de renda. Alguns estudiosos não cravam ainda que este seja o caso do Brasil, mas a retração da produção industrial desde 2010 colocou essa questão á mesa. Referente aos riscos de desindustrialização, destacam –se três situações potencialmente danosas á economia no caso da perda de participação do setor industrial no PIB: queda na produtividade devido ao efeito composição, diminuição do dinamismo econômico, como resultado de um menor encadeamento entre setores e queda das externalidades domésticas, associadas normalmente as áreas de pesquisa e desenvolvimento(P&D).(SCHYMURA e PINHEIRO,2013).
Bresser – Pereira, Nassif e Feijó (2015), destacam que o Brasil tenha sido um dos poucos países subdesenvolvidos a conseguir formar um parque industrial de expressão – os outros países são México e Argentina -, não conseguiu terminar seu processo de convergência tecnológica ( catching up), no mesmo patamar que outros países de níveis similares de renda per capita e indicadores sociais de bem estar de sua população. O Brasil teve inúmeros problemas que impediram de progredir nessa direção: crise da divida externa, inflação crônica até metade da década de 1990, câmbio sobrevalorizado nos anos 2000, entre outros.
O objetivo deste trabalho é analisar o quadro de desindustrialização no Brasil nos últimos anos e se suas causas divergem de um novo tipo de “doença holandesa” ou de particularidades especificas de nossa economia. Identificadas às possíveis causas, quais as prováveis soluções de reindustrialização da economia brasileira.
Para alcançar o objetivo principal do trabalho, será feito uma avaliação dos dois indicadores utilizados na literatura quanto á desindustrialização: a definição clássica de desindustrialização definida por Rowthorn e Ramaswany (1999), como sendo a queda persistente da participação do emprego industrial no emprego total de um país ou região. E a definição ampliada por Tregenna (2009), que somada à definição clássica, a desindustrialização é caracterizada pela redução do valor adicionado da indústria como proporção do PIB.
Desta maneira o trabalho está organizado da seguinte forma, além da introdução: o segundo capítulo apresenta uma revisão da literatura e será dividido em três tópicos; o primeiro sobre a importância do setor industrial na dinâmica de desenvolvimento de um país, nas perspectivas das correntes ortodoxas e heterodoxas. Um segundo tópico para a definição clássica de desindustrialização e aspectos teóricos. O terceiro e último tópico sobre “doença holandesa”, uma descrição á parte sobre doença holandesa é pertinente porque para alguns autores este fenômeno é a principal causa da desindustrialização recente do Brasil e ela pode se “manifestar” de diferentes maneiras.
O terceiro capítulo aborda o caso brasileiro, explorando as diferentes correntes acadêmicas que discutem a desindustrialização no Brasil. Um tópico para o enfoque de cada corrente. Uma terceira seção para a avaliação dos indicadores tradicionais de desindustrialização, apoiado na interpretação da base de dados agregados da economia brasileira, dados do IBGE ( Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística),IPEADATA, CNI( Confederação Nacional da Indústria), SCN’s (Sistema de Contas Nacionais), CAGED e RAIS foram consultados para a realização da análise.
O quarto capitulo é reservado para as considerações finais e conclusões sobre a desindustrialização no Brasil. [...]