1 INTRODUÇÃO

O Curso de Pedagogia nos seus 75 anos de existência ainda busca e luta por sua identidade. Este trabalho teve como um de seus objetivos analisar e discutir a trajetória do curso que se inicia em 1939 e se estende aos dias atuais através do perfil traçado pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Graduação em Pedagogia, licenciatura, lançadas em 15 de maio de 2006 pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) do Ministério da Educação e Cultura do Brasil (MEC).

O interesse pela temática surgiu a partir de reflexões, debates e questionamentos feitos durante as aulas no curso de Pedagogia da Faculdade de Educação de Crateús (FAEC) e também, através das dificuldades enfrentadas por professores e alunos ao tentarem explicar e entender o campo de atuação, atividades extracurriculares e as diretrizes curriculares para o curso.

Dessa forma, o estudo ora proposto também se coloca na perspectiva de valorizar o curso de Pedagogia da FAEC que existe desde 1983, oriundo do processo de interiorização da Universidade Estadual do Ceará (UECE) que atende a 10 municípios do Ceará, dentre eles, Crateús. Ao longo de seus 31 anos de existência, tem formado profissionais que atuam tanto em escolas e órgãos da administração municipal, estadual, bem como no ensino superior da região.

Para a realização deste trabalho, a metodologia utilizada se deu através de uma pesquisa bibliográfica na qual, vários autores foram consultados, dentre eles: Carmem Silva (1999), Paulo Ghiraldelli (2009), José Carlos Libâneo (2010). Além desses autores foram utilizados documentos como: os pareceres 252/69, Parecer 05/2005, Parecer 03/2006 dentre outros que enriqueceram a reflexão e propiciaram maior entendimento e fundamentação teórica acerca da temática.

Na sua jornada de 75 anos o curso sobrevive às mudanças de uma sociedade capitalista, onde uma boa parte das instituições de educação inclusive no nível superior se tornou meras fabricas de diplomas. Mas, é esse curso que tem sua identidade tão questionada que durante tantos anos forma os profissionais capazes de lutar e questionar seu campo de atuação.

2 O CURSO DE PEDAGOGIA NO BRASIL E SEU CONTEXTO HISTÓRICO.

De acordo com Paulo Ghiraldelli Jr. (2006), somente com a modernidade[1] a Pedagogia se tornou aquilo que conhecemos, efetivamente, por Pedagogia. Foi a partir do século XVII que ela começou a deixar de ser a simples ‘condução da criança’, para transformar- se na ciência da Educação. 

Nesse sentido, a Pedagogia tem como objetivo principal a melhoria no processo de aprendizagem dos indivíduos, através da reflexão, sistematização e produção de conhecimentos. Como ciência social, a Pedagogia deve estar conectada com o saber produzido socialmente, bem como atender as normas educacionais de cada país no qual ela se insere.

No Brasil, a discussão em torno da criação de um curso de Pedagogia só veio à tona a partir da década de 30 do século XX, tendo em vista que nesse período existia uma grande discussão em torno da educação. Como bem mostra Andréa Martelli.; Elenita Manchope  (2004 p.02)

Os anos 30 produziram um fecundo debate em torno das questões educacionais. Diante de projetos antagônicos a respeito da construção da nacionalidade, a educação era valorizada por ambos como indispensável para a modernização do país. De um lado, os modernizantes, do outro lado, os reacionários- tinha na educação a realização da função ideológica, conforme os seus princípios para a sociedade brasileira.

A década de 30 do século XX foi marcada por várias mudanças políticas, econômicas e sociais em todo o mundo, devido à crise internacional da economia provocada pela quebra da bolsa de valores dos Estados Unidos da América (EUA) em 1929, levando vários países a enfrentarem forte recessão.

Entretanto, no Brasil esse período foi marcado pelo crescimento da economia, principalmente pelo aumento da indústria nacional que acabou rompendo com a política do café com leite predominante no período da Primeira Republica (1889-1930). Posterior a esse período, deu-se inicio a chamada “Era Vargas” que comandou o país de 1930 a 1945.

Ora, essas transformações ocorridas nos vários setores sociais, econômicos e políticos da época tornaram o mercado de trabalho mais exigente, impondo maior escolarização como uma das condições de acesso a ele, levando a população trabalhadora a se organizar e reivindicar o saber institucionalizado veiculado pelas instituições educacionais. Nesse sentido, essas mudanças na sociedade provocaram também alterações nas concepções educacionais surgindo a partir de então, a defesa da universalização da educação, da escola pública, laica e gratuita. Defesa essa pautada, sobretudo, pelo Movimento dos Pioneiros[2] da Educação Nova.

Nesse momento, as discussões educacionais se tornaram mais férteis tendo em vista o intenso debate entre diferentes vertentes da intelectualidade. De um lado, estavam os defensores da escola privada, no caso os empresários e principalmente a Igreja Católica; e do outro, estavam os defensores da escola pública como: Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo, Florestan Fernandes entre outros ligados à educação pública. Na realidade,

Esse grupo de intelectuais entendia que o emergente processo de industrialização necessitava de políticas educacionais que modernizassem a educação. Defendiam eles uma nova pedagogia que fosse eficaz na formação de cidadãos adequados a esse processo. Esses intelectuais davam muita importância à organização racional do trabalho ao ponto de valorizarem métodos de uma pedagogia que viabilizasse no meio escolar, a realização das máximas organizadoras exigidas pelo trabalho industrial. (EVANGELISTA, MORAES, SHIROMA, 2000, p. 19).

Para atender a essa nova realidade foi criada a Universidade de São Paulo, em 1934 e a Universidade do Distrito Federal em 1935, foram com a fundação dessas universidades que se organizaram e se implantaram as licenciaturas e o Curso de Pedagogia, estendidos para todo o país pelo Decreto-Lei nº 1.190 de 04 de abril de 1939, projeto do então Ministro da Educação Gustavo Capanema que esteve à frente do Ministério da Educação e Saúde durante oito anos (1937-1945). Seus projetos e programas para o Brasil no campo da educação, cultura e saúde marcam um momento histórico denominado Estado Novo regime político fundado por Getúlio Vargas em 10 de novembro de 1937, que durou até 29 de outubro de 1945,

Esse Decreto-Lei criou a Seção de Pedagogia na Faculdade Nacional de Filosofia, da Universidade do Brasil, que tinha por finalidades, dentre outras, a de preparar candidatos ao magistério do ensino secundário e normal e preparar trabalhadores intelectuais para o exercício de atividades técnicas. SILVA (1999, p.33) afirma que:

No início foram criadas quatro seções, secção de filosofia, secção de ciências, secção de letras e secção de pedagogia, entre as quais se distribuíam os cursos regulares de Filosofia, Matemática, Química, Física, História Natural, Geografia, História, Ciências Sociais, Letras, Pedagogia e Didática.  

O Curso de Pedagogia, nesse sentido tinha como objetivo central, a formação de um profissional apto para a atuação na educação pública, formado preferencialmente, na universidade. Contudo, se organizou com uma dupla função: formar bacharéis e licenciados para várias áreas, inclusive para o setor pedagógico. Para formação dos bacharéis ficou determinado à duração de três anos, e ficariam reconhecidos como “Técnico em Educação.” Ao licenciado, formação que se completava com um ano de estudos em didática, reservava-se o magistério nas antigas Escolas Normais, pois era um curso que não dispunha de um mercado profissional que o recebesse, ou seja, formavam-se pedagogos, mas esses, não tinham campo de trabalho para atuar.

Muito dos problemas do curso surgiram a partir dessas discussões configurando-se em um de seus muitos dilemas, ou seja, criou – se o bacharel em Pedagogia sem apresentar elementos que pudessem auxiliar esse profissional.

Assim, o curso de Pedagogia se firmava como importante instrumento para a formação de docentes no país. Entretanto, com o passar dos anos foram sendo necessárias alterações curriculares que se manifestaram na publicação do Parecer/CFE 251/62 que orientou que o curso de Pedagogia deveria destinar-se,

[...] à formação do "técnico em Educação" e do professor de disciplinas pedagógicas do Curso Normal, por meio do bacharelado e da licenciatura, respectivamente. O currículo para o bacharelado tinha um mínimo fixado em sete matérias, cinco obrigatórias ­ Psicologia da Educação, Sociologia (Geral, da Educação), História da Educação, Filosofia da Educação e Administração Escolar, e duas opcionais entre: História da Filosofia, Biologia, Estatística, Métodos e  Técnicas de Pesquisa Pedagógica, Cultura Brasileira, Educação Comparada, Higiene Escolar, Currículos e Programas, Técnicas Audiovisuais de Educação, Teoria e Prática da Escola Média e Introdução à  Orientação Educacional. Seria conferido o diploma de licenciado ao aluno que cursasse Didática e Prática de Ensino. (RIBEIRO.; MIRANDA.; 2013, p.02)

Na década de 40, o Brasil era governado pela chamada Segunda República ou República Populista (que se estendeu desde a deposição de Getúlio Vargas em 1945 até o golpe militar de 1964), porém, alguns autores consideram um dos momentos mais férteis no debate acerca da educação brasileira. Nesse sentido, pode-se dizer que a Constituição de 1946 refletiu o processo de redemocratização do país ao entender e defender a educação como um direito de todos.

Com o golpe militar de 1964 muitos educadores passaram a ser perseguidos em função de posicionamentos ideológicos, principalmente, porque o Ministério da Educação e Cultura (MEC) do Brasil firmou convênios com órgãos estrangeiros com o intuito de garantir assistência técnica e cooperação financeira que só se tornaram públicos em novembro de 1966, após intensa pressão política popular. Dentre os convênios, se destacou o firmado entre o MEC e a Agency for International Development (USAID), famoso MEC-USAID, explicitado através da lei 5.540/68 conhecida como Lei da Reforma Universitária.

Na realidade, tal convênio foi celebrado para reformar o ensino brasileiro de acordo com padrões impostos pelos Estados Unidos da América. Como afirma, Íria Sokolowski, (2013, p. 87)

Como decorrência da reforma universitária, o Conselho Federal de Educação aprovou o Parecer CFE nº 252/69 fixando mínimos de conteúdo e duração dos cursos de pedagogia. O Parecer do CFE aboliu a distinção entre bacharelado e licenciatura, determinando que além da formação dos especialistas em administração escolar, inspeção escolar, orientação educacional e supervisão pedagógica, o curso de pedagogia habilitaria para a docência nas disciplinas pedagógicas dos cursos de formação de professores. Ou seja, em qualquer uma das habilitações, os especialistas também seriam licenciados.

Em novembro de 1966 foi publicado o Decreto-Lei n. 53/66 que fixou os princípios e as normas de organização para as universidades federais. Este Decreto foi incorporado em 1968 na Lei n. 5.540 de 28 de novembro que entrou em vigor no governo de Costa e Silva,que governou de 1967 a 1969  que fixava normas de organização e funcionamento do ensino superior. Essa definiu, no artigo 30, os especialistas que atuariam nos sistemas de ensino, desenvolvendo funções de Administração, Planejamento, Inspeção, Supervisão e Orientação.

Segundo Catani e Oliveira (2002) a Reforma Universitária provocou mudanças nos cursos de formação de professores, os quais conferiam a função de Formar técnicos denominados “especialistas em educação”. Os especialistas deveriam exercer as funções de supervisão, orientação, administração, inspeção e planejamento. Assim, foram sugeridos cursos de curta duração (2 anos), a licenciatura (4 anos) e pós graduação entre 2 e 4 anos adicionais, implantação dos cursos básicos, sistema de créditos (o que implicava a dissolução dos cursos feitos em classes seriadas e a matrícula por série).

A vigência do Parecer CFE n. 252/1969 e da Resolução CFE no decreto 02/1969 perdurou até a aprovação da LDB 9.394/1996 tendo, portanto, vigorado por três décadas.

3 A LDB DE 1996 E O CURSO DE PEDAGOGIA: O QUE MUDOU?

     O Curso de Pedagogia passou a se configurar dentre os temas mais polêmicos a serem regulamentados pela legislação complementar em andamento no país, por que a lei 5.692/1971 alterou a concepção e os objetivos do ensino primário e médio, permitindo aumentar a carga horária acerca de disciplinas de caráter geral, essa lei preconizou um esquema de formação de professores diferenciados, assim enunciado no seu art. 30: Dentre eles está segundo Leda Scheibe, (2011 p. 95)

Exigir-se-á, como formação mínima para o exercício do magistério: a) no ensino de 1º grau, da 1ª à 4ª séries, habilitação específica de 2º grau b) no ensino de 1º grau, da 1ª à 8ª séries, habilitação específica de grau superior, em nível de graduação, representada por licenciatura de 1º grau obtida em curso de curta duração; c) em todo o ensino de 1º e 2º graus, habilitação específica obtida em curso superior de graduação correspondente à licenciatura plena.

 Neste sentido, o Parecer (76/75), acabava por desestruturar o exigido da profissionalização obrigatória no 2º grau, preparando mudanças legislativas mais profundas. A partir de então, o Conselho Federal de Educação (CFE), ainda por meio do conselheiro Valnir Chagas, preparou uma série de indicações, extinguindo o curso de Pedagogia no formato até então conhecido. O conselheiro elabora um documento, indicando como função do curso de Pedagogia a formação do professor para atuar nos anos iniciais de escolaridade, no entanto esse documento foi reprovado pelo CFE, por que não havia interesse por parte do estado de formar profissionais de nível superior para os primeiros anos da series iniciais.

O ministro da educação e cultura Eduardo Portella, que esteve à frente do ministério do dia 15 de março de 1979 a 26 de novembro de 1980 já enfrentava um de clima de insatisfação por parte dos educadores que se organizavam no sentido de intervir nas políticas de reformulação dos cursos de formação, marcadas pelas decisões do Conselho Federal de Educação. No bojo dessa mobilização, organizou-se:

Movimento Nacional pela Reformulação dos Cursos de Formação dos Educadores, iniciado com a criação do Comitê Nacional Pró-Formação do Educador (1980) e transformado em 1983 na Comissão Nacional de Reformulação dos Cursos de Formação do Educador – CONARCFE. Esta, por sua vez, resultou, em 1990, na criação da ANFOPE – Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação. (SCHEIBE, 2011 p.97)

Com a finalidade de movimentar professores e alunos em torno da reformulação do Curso de Pedagogia que, desde as Indicações de Valnir Chagas, estava em debate nacional, às atuações desses movimentos foram propicias por que algumas universidades passaram, então, a incorporar a formação docente para o início da escolarização como uma das possíveis habilitações do Curso de Pedagogia ou exigida como pré – requisito para as demais habilitações como habilitação em geografia, história etc.

A aprovação da Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional LDB, lei nº 9.394/96) teve um longo processo de tramitação, ou seja, desde a promulgação da Constituição de 1988, por iniciativa do então deputado Otávio Elíseo que um projeto de LDB foi apresentado na Câmara dos Deputados, tal projeto (1258/88) era o produto de discussões que ocorreram em todo o país em congressos, encontros, simpósios, seminários, etc., que reuniam entidades representativas do setor educacional. Na realidade, a proposta aprovada foi a de Darcy Ribeiro [3] e cujo relator foi o deputado José Jorge.

O Governo Federal na época comandado pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso que governou o país de 1995 a 2002, exigiu a aprovação até o final do ano de 1996, assim, em sessão realizada em 17 de dezembro de 1996, foi aprovado na Câmara o relatório contendo o texto final da LDB.

Com a aprovação da nova Lei n.º 9.394/96, começam a serem discutidos e implementado, assim, os cursos de formação dos profissionais da educação que vinham funcionando, agora objeto de reflexão e questionamento sob a nova LDB, neste momento de transição normativa, fixa, em relação aos Profissionais da Educação, diversas normas orientadoras: as finalidades e fundamentos da formação dos profissionais da educação; os níveis e o lugar da formação docente e de “especialistas”; os cursos que poderão ser mantidos pelos Institutos Superiores de Educação; a carga horária da prática de ensino; a valorização do magistério e a experiência docente. Assim, os níveis e modalidades da educação brasileira, nos termos dos artigos 21, 37, 39, 44, 58 e 78 da Lei n.º 9.394/96, se estruturam da seguinte forma:

Art. 21º. A educação escolar compõe-se de: I - educação básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio; II - educação superior. Art. 37º. A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria. Art. 39º A educação profissional, integrada às diferentes formas de educação, ao trabalho, à ciência e à tecnologia, conduz ao permanente desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva. Art. 44º. A educação superior abrangerá os seguintes cursos e programas: I - cursos seqüenciais por campo de saber, de diferentes níveis de abrangência, abertos a candidatos que atendam aos requisitos estabelecidos pelas instituições de ensino; II - de graduação, abertos a candidatos que tenham concluído o ensino médio ou

equivalente e tenham sido classificados em processo seletivo; Art. 58º. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais. O Sistema de Ensino da União, com a colaboração das agências federais de fomento à cultura e de assistência aos índios, desenvolverá programas integrados de ensino e pesquisa, para oferta de educação escolar bilingüe e intercultural aos povos indígenas, com os seguintes objetivos: I - proporcionar aos índios, suas comunidades e povos, a recuperação de suas memórias históricas; a reafirmação de suas identidades étnicas; a valorização de suas línguas e ciências;

Instituída a nova lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a 9.394/96, surgiu a necessidade de organizar os novos parâmetros e diretrizes curriculares de todos os níveis e modalidades de ensino inclusive para o Curso de Pedagogia.

O ano de 1990, também marcado como momento das reformas educacionais no país, é caracterizado por período de lutas relacionadas à educação superior e à formação de professores, particularmente após a aprovação da nova LDB em 1996.  Nesse contexto, o Curso de Pedagogia busca mais uma vez sua identidade por que cresce a criação de instituições com a finalidade de oferecer formação e preparação de professores para atuar nos anos iniciais de escolaridade, No entanto, as entidades ligadas à área da Educação, (os Institutos Superiores de Educação (ISE)) tentam retirar do Curso de Pedagogia a função de formar professores para a Educação Infantil e anos iniciais do ensino Fundamental. É o que afirma Zenilde Durli, Leda Scheibe (2011 p.99)

Os parâmetros legais estabelecidos pela nova LDB/1996 colocaram-se na contramão do pleito que o movimento dos educadores articulara. No artigo 64, a lei indica para o Curso de Pedagogia a condição de um bacharelado profissionalizante, destinado a formar os especialistas em gestão administrativa e coordenação pedagógica para os sistemas de ensino. Para a formação dos professores da Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental foi criada uma nova figura institucional, o Instituto Superior de Educação (ISE), e o curso Normal Superior.

A normatização do Curso de Pedagogia sempre foi muito polêmica. Segundo estudo realizado por Scheibe (2006) e Durli (2007), as atuais Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia (DCNP) foram instituídas pelos pareceres CNE/n° 05/2005 e CNE/CP n° 03/2006 e pela Resolução MEC/CNE n° 01/2006. Pois,

O Curso de Pedagogia destina-se, na sua atual formulação legal, à formação de professores para a educação infantil e os anos iniciais do ensino fundamental. Complementarmente, também ao desenvolvimento de competências para o ensino nos cursos de nível médio, na modalidade normal; ao ensino na educação profissional na área de serviços e apoio escolar; às atividades de organização e gestão educacionais; e às atividades de produção e difusão do conhecimento científico-tecnológico do campo educacional”. (SCHEIBE, 2007, p.44)

Entretanto podemos concluir que o profissional formado no curso de Pedagogia, desse modo, o pedagogo, é bacharel e licenciado ao mesmo tempo, o Curso de Pedagogia, numa compreensão sócio-histórica defendida pela Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação (ANFOPE) e entidades parceiras, funda-se em uma organização curricular estabelecida por sólida formação teórica e interdisciplinar oferecida em, no mínimo, 3.200 horas de estudos, distribuídas em pelo menos quatro anos letivos. Pauta-se também pela unidade entre teoria e prática, articuladas desde o início do curso, em um percurso curricular unificado, não prevendo habilitações e tendo a docência como base de sua formação.

As dúvidas e indefinições, porém, que ainda persistem na legislação podem e devem ser analisadas como provocações a serem superados por todos aqueles educadores compromissados com uma educação de qualidade para todos os brasileiros.

3.1 O CURSO DE PEDAGOGIA DA FACULDADE DE EDUCAÇÃO DE CRATEÚS

Falar do curso de Pedagogia, não é tarefa fácil, como podemos perceber sua trajetória é descrita em meio a dúvidas, críticas e questionamentos, com 75 anos o curso carrega uma grande bagagem deixando marco na história, mas precisamente na Educação.

Sua importância se faz notória graças a uma formação integral, onde campos de conhecimento como História, Psicologia, Sociologia, Filosofia, Matemática, psicologia dentre outras juntam – se em um só curso e forma um profissional preparado para enfrentar a escola tal qual está posta hoje: diversificada. Outra questão ressaltada nas diretrizes é a reafirmação das universidades como lócus privilegiado de formação de professores.

O Curso de Pedagogia da Faculdade de Educação de Crateús (FAEC) existe na região de Crateús desde 1983 reflexos do processo de interiorização da Universidade Estadual do Ceará (UECE), que atendeu a dez municípios do Ceará, incluído Crateús isso por que a região era carente na formação dos profissionais dessa área.

Ao longo dos seus 31 anos de história a FAEC já enfrentou muitas dificuldade entre elas o funcionamento do curso de Pedagogia que por quase 30 anos ficou em prédios emprestados pela prefeitura sobre péssimas condições de infra-estrutura, falta de professores e muitos outros problemas. Hoje esse campi conta apena com três cursos; Pedagogia, ciências biológicas e Química juntos conseguiram um prédio próprio mas ainda não é o bastante para atender outros cursos, portanto a FAEC continua tomando emprestado espaços em prédios da prefeitura.

Segundo o Projeto Político Pedagógico do Curso de Pedagogia – fluxo 2009.2 a formação acadêmica oferecida na FAEC/UECE atendeu a demanda da implantação da política educacional regional, que exige formação pedagógica para direção dos órgãos educacionais como CREDE 13 e Secretaria de Educação Municipal, bem como para as escolas de ensino médio e fundamental.

No ano em curso (2014), o Curso de Pedagogia da FAEC atende 450 alunos oriundos de Crateús e regiões vizinhas como Sucesso, Tamboril, Independência, Ipueiras dentre outras. Para tanto, a importância deste curso para nossa região é muito grande, além de rigorosa formação pedagógica. 

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho abordou aspectos importantes da trajetória do Curso de Pedagogia, destacando fatos relevantes da sua história que permitiram a análise das mudanças pelas quais o curso vem passando em seus 75 anos de existência.

Destaca-se como a principal transformação a passagem de um curso que formava o técnico em Educação à formação do professor. As polêmicas em torno desse curso ainda são muitas desde sua criação em 1939 até 2014 e, seus graduandos ainda sentem a necessidade de sua identidade e de seu real campo de atuação.

Durante todo este processo o Curso de Pedagogia clama por sua identidade. As discussões em torno do seu profissional se mesclam, como podemos perceber sua problemática nasce logo na sua criação ora forma profissional bacharel, em seguida licenciados.

Acreditamos que falta muito para se chegar a uma conclusão final, pois muitos graduandos que entram no curso de licenciatura em pedagogia apenas por falta de opção, acabam se destacando como profissionais que almejam e fazem mudanças no próprio sistema de ensino seja na educação infantil ou em outras modalidades como médio e o superior.

Enquanto a educação se fizer necessário a Pedagogia faz-se presente, porque sempre precisará desse profissional seja na escola, organização, direção e estabelecimentos privados.

O Curso de Pedagogia existe em Crateús desde 1983 com seus 31 anos tem contribuído de forma significativa para a nossa região, além de rigorosa formação pedagógica, favorece postura aberta e franca ao diálogo com instituições públicas e movimentos sociais, favorecendo uma práxis pedagógica de natureza crítica e reflexiva, considerando os educadores e educando de todos os níveis do sistema como sujeitos autônomos de seu próprio desenvolvimento, sem deixar de discutir a realidade com convicto propósito de fazê-los compreender as transformações que move a sociedade.

Esse trabalho destaca a trajetória do Curso de Pedagogia e pretende colher futuramente dados específicos que auxiliem na investigação acerca das lutas e resistências do Curso de Pedagogia da FAEC.

 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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[1] É o período histórico da civilização onde a razão é crivo e filtro indispensável a todo entendimento. Compreende-se entre o século XV e XIX e tem forte viés cientifico, onde Deus foi morto pelo homo científicos e substituído pela ciência humana.

[2] Foi neste período que as reformas organizacionais aconteceram com mais força nos Estados e também na educação. Junto deste movimento os reformistas da educação Anísio Teixeira, Lourenço Filho, Fernando de Azevedo e outros.

[3] Notabilizou-se fundamentalmente por trabalhos desenvolvidos nas áreas de educação, sociologia e antropologia foi um dos responsáveis pela criação da Universidade de Brasília.