Introdução

Este artigo visa, apresentar um resumo do texto “Hermenêutica bíblica e a vida cotidiana”, de: Rui de Souza Josgrilberg, e com base no mesmo responder à seguinte questão: De que maneira seu cotidiano religioso e suas memórias cotidianas auxiliam na tarefa hermenêutica?

Préssupostos

O autor começa falando sobre a dimensão universal dos “eventos” da bíblia, partindo da narração do evento da criação registrados nos primeiros capítulos de Gênesis, passando a partir daí a tecer seus argumentos, ao iniciar citando sobre as múltiplas faces da vida religiosa que são marcadas por manifestações de eventos e assinalam tramas da vida, subtendidas como fios de uma textura.

 A exemplo das imagens relatadas nos eventos bíblicos, que revelam e representam o modo de Deus falar com seu povo. Consolidando isso autor cita Agostinho e sua visão analítica de que: “A bíblia está a serviço da vida tendo sido escrito por Deus dois livros; sendo o primeiro a criação, e outro livro a Bíblia”, sendo esta uma fonte para reaprendermos a escutar a Deus na vida que nós vivemos.

Sendo que a vida concreta nunca é colocada de lado, e sim há a necessidade da leitura mútua da “bíblia e da vida”, pois uma serve de figura ao outra, levando a grande tarefa hermenêutica, que é entender o mundo presente em contraste com o mundo bíblico, tendo como resultado um tapete da vida com uma face das revelações bíblica e outra de nosso próprio viver.

Tendo no dia a dia sua camada solo,  a vida segue-se como uma entrelaçado de relações e eventos, onde a entrada da bíblia em nossa vida se dá por mediação de formas institucionalizadas como: Igrejas, tradições, família, confissões etc. Tal  fato percebe-se segundo o autor através de um olhar na vida cotidiana.

O autor cita Carlos Mesters e sua exemplificação da bíblia como: (uma casa na qual todos entram e se reconhecem aqui e ali. Mas, essa casa de todos foi “protegida” por especialistas que construíram muros), sendo que de tais muros de proteção deveria ser derrubado, e os donos legítimos deveriam se apossar desta casa.

Tudo deve encontrar o seu respectivo lugar no mundo, sendo que há um mundo básico, o qual o pensador Edmund Husserl consolida, onde tudo acontece manifestando-se como um gerador e articulador de “um mundo... Muitos mundos... e a memória e cotidiano, tendo do outro lado a bíblia como testemunha de diversidade de mundos e culturas.

A noção de mundo cotidiano e ambiguidades é todo como um lugar que transcorre a vida, residindo nas ambigüidades muitas vezes a ocasião do mal, tal ambigüidades e exemplificado por personagens bíblicos, que embora tivessem uma vida de ligação com Deus, em certos momentos se comportavam mal, enfatizando ainda que a vida como teologia, e que a vida e vista na chave de leitura dos testemunhos bíblicos como um desdobrar-se interpretativo de nós mesmos.

Ao falar das muitas narrativas da bíblia, o autor a coloca no contexto do cotidiano e práxis, onde uma unidade ou uma subunidade num todo, sendo registros de memó­rias cuja finalidade principal, mesmo na variedade, é testemunhar algo, onde a palavra se transforma numa mensagem que interpela a pessoa para ser interpretada e respon­dida como se dissesse, creia. Nesse caso a palavra traz com ela uma incompletude se separada do ato. O Deus da Palavra faz da Palavra um performativo por excelência, onde o pleno entendimento só se dá quando a leitura e unida a prática, sendo uma: “leitura praticante do sentido”.

Ao falar do que significa “leitura praticante do sentido” o autor leva em conta o contexto comunitário, e exemplifica “êxodo”, que ao ser lido, pode ser praticado como luta por libertação insiste ainda o autor que a expressão e a mensagem são performativas, sendo o significado para ser compreendido e praticado. Crer, compreender, praticar, três verbos essenciais para uma leitura da Bíblia no cotidiano, pois a verdade bíblica não é só teórica, mas também práxis.

O autor fala da Bíblia no lado da práxis e suas performatividade que enlaça a palavra no fazer e o fazer enlaça a palavra com a vida, e enfatiza a leitura da bíblia em comunidade, pois segundo Agostinho temos que ler a vida com a Bíblia, o livro que fala da vida, levando a conclusa de que na hermenêutica bíblica; a Bíblia permanece em excelência, sendo não é só exercício da boa Palavra; é exercício da boa ação fazendo com que exista apenas duas realidades; Bíblia e vida.

A maneira que meu cotidiano religioso e minhas memórias cotidianas auxiliam na tarefa hermenêutica

Partindo da necessidade de se lê a bíblia como a vida e a vida como a bíblia posso colocar a questão acima dentro do grande âmbito da “leitura prática”, pois se tratando do cotidiano como meu mundo base, onde outros mundos são construídos; parto deste cotidiano que é a vida para o texto, onde há o “mundo do texto” que contrasto com meu mundo.

Sendo assim meu cotidiano religioso serve como um ponto de partida, onde minhas práticas religiosas me dão base para interpretar os relatos bíblicos, onde outros cotidianos foram vividos, nos quais posso identificar, (mesmo que como em espelho); em meu cotidiano religioso e assim lendo a bíblia como a vida, posso interpreta-la para minha própria vida.

Entendendo a hermenêutica como uma fusão de mundos e de horizontes, onde o meu mundo passa a estar fundido com o mundo bíblico, torna-se quase inevitável que meu cotidiano não influencie a tarefa hermenêutica. Por isso me esforço o máximo para viver uma religiosidade autêntica baseada nos testemunhos bíblicos.

Desta maneira minha vida e lançada sobre o texto bíblico, e ao interpreta-lo, ele também me interpreta, e de mão dos desafios advindos pela interpretação do texto bíblico vou reescrevendo minha vida, procurando vencer os desafios e sempre recorrendo ao texto bíblico novamente, e partindo sempre da minha própria vida e lendo a bíblia como a vida e a vida como a bíblia.

   De igual modo minhas memórias cotidianas, serve me como balisa, no sentido de que a partir de tais memórias, parâmetros fixo, marcos na vida, que me sevem de orientadores de objetivos, e ao lançar mão do texto bíblicos tais memórias auxiliam na interpretação, fazendo que o texto bíblico se abra diante de mim, pelo influenciar tanto de tais memórias, quanto do meu cotidiano.

Concluindo posso dizer que tanto meu cotidiano religioso, quanto minhas memórias religiosas são imprensidivel, na execução da tarefa hermenêutica, me levando também a concluir que tanto meu cotidiano, quanto minhas memórias, precisam ser bem diferenciadas e mediadas pelos princípios bíblicos, pelo fato de que; diante de uma nova tarefa hermenêutica há sempre uma nova interpretação que aponte para novos desafios.

Referências bibliográficas

Almeida, João Ferreira de. Bíblia Sagrada - Revista e corrigida. Ed. 1995: São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2004. 1564p.

Ramos, Luiz Carlos. A Pregação na Idade Mídia: Os Desafios da Sociedade do Espetáculo para a Prática Homilética Contemporânea .

Ramos, Luiz Carlos. Conversão da cabeça aos pés.

Josgrilberg, Rui de Souza. Hermenêutica bíblica e a vida cotidiana. Dispunivel em: https://www.metodista.br/revistas/revistas-ims/index.php/Caminhando/article/viewFile/2536/2644

[1] Pastor, teólogo e psicopedagogo institucional.