O cotidiano e o tempo histórico

Todos os fatos e atos humanos acontecem e são registrados no tempo.

Mesmo sabendo que só existe uma sequência temporal, podemos organizar nossa compreensão do tempo, perceber e registrar os fatos, pelo menos de duas formas.

A primeira é aquilo que podemos denominar de tempo cotidiano. Trata-se do nosso dia a dia. É no cotidiano que vivemos e nos relacionamos com os demais viventes e coisas que enriquecem nossa vida. Sabemos que os grandes eventos interferem sobre a vida de todos, mas também sabemos que é ao nosso redor (em nosso cotidiano) que acontecem os fatos que nos envolvem. São eles que, real e diretamente, nos atingem de imediato e sobre os quais podemos intervir pois estão ao nosso alcance.

Mas também podemos perceber e falar a respeito do tempo em sua dimensão mais ampla. A isso podemos denominar de tempo histórico. Nosso cotidiano vai além daquilo que nos rodeia. Ele recebe interferências que se originam de eventos que nos ultrapassam e vão além dos nossos círculos de atuação. Alguns deles não nos afetam diretamente, mas a maioria deles determinam ou influenciam nosso cotidiano. Sobre eles raramente temos como interferir, enquanto indivíduos. A maioria desses fatos resultam de interesses de grandes corporações ou instituições e estão ligados a grupos econômicos e/ou políticos.

O tempo histórico também pode ser compreendido como o registro de alguns dos grandes fatos que se sucederam até chegar ao período em que vivemos, em nosso cotidiano. Esse longo tempo histórico, tradicionalmente foi organizado pelos historiadores em cinco grandes períodos: pré-história; antiguidade; idade média; idade moderna; idade contemporânea.

Também se divide o tempo histórico em períodos menores, que ajudam na localização temporal dos fatos. Trata-se dos séculos. Quando queremos saber de algum fato do passado, uma das primeiras perguntas que nos fazemos é: quando ocorreu? As datas, portanto, nos ajudam a localizar temporalmente os fatos. Entretanto os fatos ultrapassam as datas em que ocorreram, pois nada acontece espontaneamente, pois tudo tem uma causa e se prolonga nas suas consequências.

É claro que aos historiadores não interessa apenas saber a data em que ocorreu o fato. A esse pesquisador e para a ciência da história interessa, princialmente, saber o porquê de tal fato ter ocorrido dessa ou daquela forma; saber quais os personagens envolvidos; saber dos interesses que mobilizaram tais agentes a produzir tais fatos naquela circunstância. E, é claro, saber como esse fato se prolongou em suas consequências e a quem elas atingiram….

São essas algumas das indagações que mobilizam o historiador em sua leitura e interpretação dos fatos que se sucedem no cotidiano e no tempo histórico.

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Rolim de Moura - RO