Estudos arqueológicos apontam que a fabricação de vinho de uva é datada desde o período Neolítico, há 8.500 anos antes de Cristo. Uma esquipe do Centro de Arqueologia Química da Universidade da Pensilvânia nos Estado Unidos encontrou vestígios de jarros de vinho de 9 litros, na montanha de Zagros no norte do Irã. Por volta de 2.700 anos antes de Cristo, beber vinho era um hábito muito comum a ponto de vários Faraós serem enterrados junto a seus jarros.

A produção de vinho também possui referencias em livros sagrados, como por exemplo, em uma das passagens da Bíblia Sagrada, Noé produziu vinho a partir das vinhas plantadas após o grande diluvio. Podemos mencionar também a passagem em que Jesus, transforma água em vinho.

A cerveja, hoje tão comum entre os brasileiros, é uma bebida muito mais antiga do que se imagina. Arqueólogos de Cambridge na Inglaterra, por meio do uso da microscopia eletrônica, descobriram que os egípcios utilizavam malte para produzir açúcar, esse muito utilizado na fermentação, sendo assim os egípcios dominavam técnicas de fermentação e obtinham seu malte utilizando um tipo raro de trigo ao invés de utilizar o lúpulo.

Como podemos notar, o consumo de bebidas alcoólicas pelo ser humano é um hábito que o acompanha antes mesmo do surgimento da escrita, tornando- se um hábito que transcende o tempo, a cultura e a etnia.

Contudo, no início da história do consumo de bebidas alcoólicas, essas possuíam um baixo teor alcoólico pois dependiam exclusivamente da fermentação para sua fabricação. Com o uso da destilação, introduzida na Europa pelos povos árabes durante a Idade Média, surgiu uma variedade de produtos com alto teor alcoólico, como o whisky, cujo nome tem seu significado primitivo gálico traduzido como “água da vida”.  Esse destilado era usado como um medicamento poderoso, pois o homem do medievo acreditava que seu consumo dissipava as preocupações porque produzia um alívio imediato contra as dores.

Com o passar do tempo, já no século 18, durante a Revolução Industrial, a oferta de bebidas alcoólicas aumentou juntamente com seus problemas e, é após esse período que o uso excessivo começa a ser visto como um problema. No século 20, mais especificamente em 1962, a OMS classifica o alcoolismo como uma doença a ser tratada, inclusive constando- a na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde. Apesar de ser considerada uma droga lícita, seu uso, em muitos países, é limitado aos maiores de 18 anos.

Atualmente mais de 2 bilhões de pessoas consomem bebidas alcoólicas e muitas delas sofrem com seus efeitos. Segundo a Agência Mundial de Saúde, 4% das mortes no mundo estão relacionados com o uso de bebidas. Quando ingerida, a substância etílica começa a ser absorvida pelas mucosas da boca e finaliza sua absorção no intestino delgado, levando-a até a corrente sanguínea.  Cerca de 15 a 16 minutos após a ingestão os órgãos mais vascularizados como o cérebro, coração, fígado e rins já começam a sentir seus efeitos, sendo o álcool se transformando em veneno no sangue, pois a ação da enzima álcool desidrogenase, no fígado, transforma o em acetaldeído, uma substância altamente toxica.

 No cérebro ocorre a estimulação e liberação de serotonina, hormônio que estimula o prazer, humor e ansiedade, fazendo com que seu usuário fique desinibido e eufórico. No estomago o etanol irrita a mucosa estomacal, causando irritação, com isso provocando o vomito, uma atitude de autodefesa. O etanol também age também no sistema GABA deixando o indivíduo mais relaxado, além disso ocorre a inibição da liberação de glutamato, um neurotransmissor envolvido na atenção, emoção, aprendizagem e movimento. Tais ações levam o indivíduo a perda de autocontrole e coordenação.

Após o consumo de várias doses de álcool, o indivíduo começa a sentir uma vontade constante de micção, isso deve-se a ação etílica sobre o equilíbrio hormonal desregulando o sistema endócrino. A ação do etanol sobre a neuro hipófise inibe a liberação de um hormônio importantíssimo para o equilíbrio hídrico do corpo, o ADH (hormônio antidiurético), também conhecido como vasopressina. O ADH atua na permeabilidade dos túbulos coletores e renais (os rins são órgão que regulam a quantidade líquida e de eletrólitos no sangue, além de controlar a excreção de substâncias toxicas), promovendo a reabsorção de líquidos, evitando a desidratação.  

A inibição do neuro hipófise promovida pelo etanol impede a liberação  de vasopressina, sendo assim esse hormônio não é distribuído pela corrente sanguínea e ,consequentemente, não chegado aos receptores especifico V2 ,localizados na membrana basolateral das células dos túbulos de conexão e túbulo coletor, impedindo o processo de reabsorção de líquidos, e, consequentemente aumentando o volume urinário. De acordo com o Instituo de Nefrologia, O INEFRO, a hiperglicemia causada pelo consumo etílico leva o aumento da diurese por conta da utilização do álcool como fonte energética, aumentando o nível glicose não utilizada pelas células. Com o aumento constante de ingestão alcoólica, ocorre uma queda na produção de glicose pelo fígado, já que este não realiza suas atividades de forma efetiva devido a quantidade de álcool no tecido hepático. Os níveis glicêmicos não voltarão ao normal até que todo teor etílico sanguíneo seja eliminado do organismo

Mas a utilização de substâncias etílicas não é uma exclusividade do homem, estudos apontam que animais fazem uso de tal substância. Robert Dudley no livro intitulado de The Drunken Monkey, afirma que primatas são atraídos pelo cheiro do álcool, pois frutas mais maduras exalam um aroma etílico, afirma ainda que esses animais consomem o suficiente para alteração comportamental, mas não a ponto de ficarem embriagados.   

Outro estudo, desta vez publicado na revista da Royal Society Open Science, destaca um ataque de chimpanzés a um armazém em Guiné, onde os animais consumiram bebidas de teor alcoólico. Pesquisadores da National Academy of Sciences of the USA  relataram em um trabalho que alguns mamíferos consomem néctar de  um tipo de flor de palma, Eugeissona tristes, que possui um teor alcoólico de 3,8%, similar a cerveja.

Segundo Steve Morris, da universidade de Bristol, elefantes também possuem o hábito de consumir frutas fermentadas.  Cientistas da Universidade Ben Gurion do Negev afirmam que morcegos evitam consumir substâncias fermentadas, já que seu consumo pode afetar seu sistema nervoso levando os a acidentes durante o voo. Mas os animais não consomem a bebida como o homem, pois este a utiliza de forma a socializar-se com familiares e amigos.

Nesse sentido, podemos concluir que o álcool mesmo que esteja presente em nossa vida cotidiana, como em comemorações, festas ou reuniões, sabemos que seu consumo em excesso pode desenvolver várias enfermidades, tanto físicas quanto psicológicas, levando a problemas sociais graves. Seu consumo deve ser moderado porém não existe nenhum protocolo que garanta que seu consumo, mesmo que moderado, não cause nenhum dano no organismo.

REFERÊNCIA:

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  2. Consumo de álcool é comum no reino animal, mas o abuso é característica humana, segundo pesquisas,Ecycle.2015.Disponível em: https://www.ecycle.com.br/component/content/article/67-dia-a-dia/3449-o-uso-alcool-e-comum-no-reino-animal-mas-o-abuso-dele-e-uma-caracteristica-humana-.html   Acessado em:  26 de Nov.2019
  3. IHS. Estabelecimento de recomendações de hidratação para os Portugueses. Disponível em: http://www.ihs.pt/xms/files/newsletter_5/ESTABELECIMENTO_DAS_RECOMENDACOES_DE_HIDRATACAO_PARA_OS_PORTUGUESES.pdf Acessado em:  26 de Nov.2019
  4. Metabolismo do álcool,CISA,2019.Disponivel em <http://www.cisa.org.br/artigo/5536/metabolismo-alcool.php > Acessado em:  26 de Nov.2019
  5. ; LISBOA, S. F. S. . A ressaca: sintomatologia, fisiopatologia e avanços na terapêutica. Dor on line, v. 16, p. 1-1, 2016.
  6. Robert, John Young. Drunken monkeys? Only humans really don't know when they've had enough. CNN,2015. Disponível< https://edition.cnn.com/2015/06/11/opinions/drunken-monkeys-conversation/> Acessado em:  26 de Nov.2019