A palavra conservadorismo, é vista por muitos, principalmente no Brasil, como algo retrógrado e impensável para os dias atuais, mas o que acontece é que muitos não têm a mínima ideia do que seja conservadorismo político. O conservadorismo político moderno foi fundado pelo filósofo e político irlandês Edmund Burke (1729-1797), no qual possibilitou uma reação aos revolucionários franceses, que pregavam a destruição de tudo e de todos, e a construção do novo homem, não se importando com o derramamento de sangue que suas utopias levaram a França ao grande terror.Como dizia Michel Oakeshott, “ser conservador é preferir o familiar ao desconhecido, preferir o tentado ao não tentado, o fato ao mistério, o real ao possível, o limitado ao ilimitado, o próximo ao distante, o suficiente ao superabundante, o conveniente ao perfeito, a felicidade presente à utópica.”

               Os conservadores, não acreditam em sonhos e fantasias da construção de um mundo perfeito e harmônico, onde todos os seres viveriam felizes e satisfeitos, pois o homem é cheio de falhas e defeitos. Segundo Russel Kirk, em seus dez princípios conservadores, “o conservador acredita na existência de uma ordem moral perene. Ordem significa harmonia, há dois aspectos ou tipos de ordem: a ordem interior da alma, e a ordem externa da comunidade. Vinte e cinco séculos atrás Platão ensinou esta doutrina, mas mesmo os instruídos de hoje em dia acham-na difícil de entender.”

                Como bem reitera o escritor português, João Pereira Coutinho, “...um conservador tenderá a recusar essas fantasias, que partem de uma dupla falácia superiormente desmontada por Isaias Berlin: por um lado, a falácia de que os homens possuem uma natureza fixa e inalterável e que, por isso, desejam necessariamente as mesmas coisas;e; por outro lado, a falácia correspondente de que os valores mais caros à existência humana podem ser vivenciados na sua expressão máxima ( a máxima liberdade, a máxima igualdade, a máxima fraternidade) sem possibilidade de conflito entre eles.O conservadorismo político recusa os apelos do pensamento utópico, venham eles de revolucionários ou reacionários. Mas o conservadorismo não se limita apenas a recusar esses apelos utópicos, que fazem da fuga para o futuro (ou para o passado) um programa de ação no momento presente. O conservadorismo, por entender o potencial de violência e desumanidade que a política utópica transporta, irá também reagir defensivamente a tais apelos.

               É notório que as ideias conservadoras são bem mais prudente e racional do que as irracionais   criadas pelos revolucionários franceses, que do alto de suas abstrações filosóficas ceifaram a vida de inúmeras pessoas, sempre com o ideal da construção da sociedade perfeita e igualitária em todas as suas vertentes, e foi nesse caos que emergiu o conservadorismo político, como uma reação a barbárie e selvageria revolucionária. Como bem salienta Coutinho, as reflexões sobre a Revolução Francesa, foram escritas em 1789 e publicadas no ano seguinte, antes de os jacobinos começarem a guilhotinar os seus inimigos, reais ou imaginários, com assombrosa industriosidade.Burke vislumbrou nos princípios dos revolucionários o germe de abuso e violência que eles inevitavelmente plantariam na França. A revolução lançava-se na busca de uma perfeição terrena por meios exclusivamente humanos; tratava-se conforme ele a designou, de uma “revolução filosófica”, em que os revolucionários, alicerçados em doutrinas políticas abstratas sobre os “direitos do homem”, encaravam a comunidade como se esta fosse uma carte blanche para as suas visões da perfeição. Burke agiu contra a radicalidade de quem procura destruir o presente para inscrever, sobre as suas ruínas, novas formas reformista, que convidaria sempre a renovados atos de destruição.

             O conservador possui a plena consciência da imperfeição humana, dos desafios e dificuldades no ato de governar e administrar a vida e a nação, portanto é contra toda e qualquer atitude política utópica e romântica. O conservador é humilde e prudente, não possui nenhuma pretensão em “mudar o mundo pra melhor”, sabedor do grande processo histórico pela qual passou a sociedade até chegar aos dias atuais, e não cabe a nenhum iluminado, destruir toda a cultura e valores construídos ao longo de séculos e milênios, tudo em nome de uma hipotética sociedade perfeita e harmônica. Ser conservador, é não acreditar que o estado deva ser o provedor de todas as coisas, mas sim, que as pessoas, sejam as verdadeiras donas das suas vidas e dos seus negócios, sem a interferência estatal, regulando e impondo normas nas relações comerciais, sociais, e familiares, ser conservador é vê o estado sempre como uma ameaça e nunca como um Deus onipotente.

             No Brasil, as ideias conservadoras, ainda vivem ás margens do pensamento dominante esquerdista, aqui ser conservador é a mesma coisa de ser nazista/fascista, pois a esquerda através de muita doutrinação nas escolas e universidades, associou-se o pensamento conservador a ideia de autoritarismo e truculência, subvertendo o verdadeiro sentido da ideologia conservadora. Portanto, conservadorismo político é o combate diuturnamente das ideias esquerdistas que tanta destruição trouxeram ao mundo, ser conservador é defender a tradição e a continuação de todas as experiências trazidas de gerações passadas, e sempre que possível, fazendo as alterações e mudanças necessárias, mas sem destruir e nem aniquilar o passado e nem o presente.