O companheiro, Geraldo Vandré

 

Edson Silva

 

Quando a música “Companheira” foi gravada por Geraldo Vandré, em 1968, eu tinha apenas seis anos, acredito que boa parte dos leitores sequer imaginava nascer. Se alguém tiver oportunidade de ouvir a singela canção, de letra reduzida e que em algumas partes parece mais ser um sussuro do artista, seria uma alusão à censura que impedia que o povo brasileiro soltasse o peito e a voz ? Nesta composição tem uns versos que me comovem sempre que os ouço. Eles me comovem pelo conteúdo e pela interpretação tão autêntica e triste do magnífico Vandré.

 

O compositor e cantor paraibano justifica a tristeza explícita de sua música com o fato de haver “...tantas vidas, que de seu nem vida tem...” Não é poético, não é bonito, não é triste ? Passaram mais de 40 anos e basta olhar para fora da janela do ônibus, do carro, do apartamento, basta não focar o próprio umbigo e continuaremos ver as tristes verdades que Vandré via em 68, no mesmo Brasil com tantos rótulos, como “País do Futuro”, do “Milagre Brasileiro”, do “Ame-o ou deixe-o”, do “País que vai pra frente”, dos “ Dos 90 milhões em ação pela Seleção”....

 

 

“Meu canto está tão contenteNunca mente o canto meu/Olho a vida bem de frente
O meu cantar nunca escondeu/Fala muito de tristeza/Que tristeza sempre vem/
Quando penso em tantas vidas/Que de seu nem vida tem/Mas agora sou feliz/
E meu canto bem me diz/Encontrei a companheira (companheira)/Paz para mim a vida inteira/Amada, companheira, derradeira...”

 

 

Edson Silva, 48 anos (8.1.62), é jornalista da assessoria de imprensa da Prefeitura de Sumaré.

 

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