José Arilson Xavier de Souza
Professor Substituto do Curso de Geografia da UFT (Porto Nacional-TO); Mestre em Geografia-UFC.

LuzireneVituriano de Lima
Professora da Rede Pública de Ensino do Estado do Ceará; Pós-graduada em Metodologia do Ensino de História e Geografia.

Lenilton Francisco de Assis
Doutor em Geografia Humana pela USP, professor do curso de Geografia da UVA.

LUZ, CÂMERA, AÇÃO

Nos últimos anos, muito se tem discutido sobre o uso do Cinema[1] no âmbito escolar. Sob a tentativa de tornar o ensino mais dinâmico e atraente, as políticas educacionais e os segmentos escolares parecem abrir cada vez mais espaços para a inserção de novos mecanismos didáticos. Todavia, é certo que a escola brasileira e seus professores ainda precisam evoluir e superar concepções equivocadas sobre o caráter pedagógico da “sétima arte”[2].

  Mediante sua potencialidade de influenciar a sociedade pelos efeitos audiovisuais que buscam o entretenimento e a crítica, o Cinema pode ensinar para a vida, traduzindo uma riqueza pedagógica a ser explorada por diversas disciplinas escolares. Não fugindo a regra, no que toca à Geografia, reconhecemos o Cinema como uma ferramenta que muito tem a contribuir com o processo de ensino e aprendizagem espacial de professores e alunos. A sua telamágica proporciona viagens, para além da lousa e do livro didático, que facilitam o conhecimento do mundo pelo estudante.

Portanto, o presente texto defende o uso do Cinema pela escola e, em especial, no ensino de Geografia. Para tanto, realiza, de início, uma breve problematização da necessidade que a escola tem de se adequar para um uso plural de novas tecnologias, inserindo em seus “espaços de ensino” diversos gêneros textuais. Além de sua abordagem didática, o Cinema é reconhecido como um recurso de teor pedagógico, capaz de contribuir para a formação de um corpo discente crítico e reflexivo.  E assim, nesta trama, o Cinema é visto como um aporte ao ensino de Geografia, ao passo que abre discussões de direto interesse geográfico, transitando entre o cotidiano e eventos longínquos. Somada à parte teórico-conceitual, ao final, uma proposta de ensino-aprendizagem é construída a partir do curta-metragem Vida Maria.

O USO DE NOVAS TECNOLOGIAS E GÊNEROS TEXTUAIS NA ESCOLA

            Em um século marcado pela intensidade dos movimentos humanos, cada vez mais geridos pela técnica, ciência e informação, subjugados por trocas econômicas aceleradas, cresce a necessidade de a escola inserir em seu âmbito instrumentos que contribuam para um ensino condizente com os dias atuais. Não é mais possível fazer um ensino baseado em didáticas estanques e desprezar a crítica ao modelo de sociedade que quanto mais avança na modernidade do capitalismo, mais aumenta também o número de excluídos das suas benesses.

            Assim, a atual conjuntura social exige das escolas uma mudança ampla e concreta do fazer pedagógico, haja vista que esta assume, em alguns casos, o papel de fonte primária de integração social, tendo que amenizar a fragmentação da própria sociedade e consequentemente da família. Em meio a esse cenário, as novas tecnologias e os gêneros textuais (música, teatro, poesia, cinema etc.) podem proporcionar outros olhares sobre o mundo social, bancando ressignificações no plano pedagógico da escola, onde a aprendizagem ganha múltiplas facetas[3] e a sociedade, como a própria escola, tem que ser examinada também pelas suas possibilidades de erros e cegueiras (MORIN, 2000), que tanto dificultam o caminhar rumo à utópica justiça social.

            Refletindo em parte as culturas dos alunos, as novas tecnologias e os gêneros textuais assumem um uso flexível no domínio escolar, corroborando para estreitar laços de interação e integração entre métodos e conhecimentos (SANCHO, 2006). Como já possuem uma pré-disposição de aceitação por partes dos alunos, cabe ao professor consolidar aprendizagens significantes, tomando o cuidado de criar mecanismos que possibilitem o aproveitamento pela educação e evitando o uso indiscriminado das tecnologias por elas mesmas. As novas tecnologias e os gêneros textuais devem ser pensados enquanto didáticas em paralelo a um plano de ensino que valorize procedimentos e atitudes de valor humano.

            Torna-se preciso incomodar os alunos com a problematização de acontecimentos sociais. Sem isso, a escola perde o seu caráter fundador e de lócus de sistematização e reflexão da realidade. Neste sentido, a educação escolar brasileira, mesmo com a evolução conseguida nos últimos anos, carece ainda de avanços em suas propostas e práticas. Fugindo das formas tradicionais de ensino, no intuito de provocar interesses e impulsionar atividades construtivas, os currículos precisam fazer ligação direta com o cotidiano dos alunos, falando de realidades e mantendo aberturas para se discutir temas variados.

Sofrendo adaptações relativas ao momento vivido, a escola precisa fazer uso de recursos didáticos que possam ser instrumentalizados por uma diversificação da prática, dentro ou fora da sala de aula, filtrando e analisando as informações que chegam ao aluno via outros meios de comunicação, comprometendo-se a realizar reflexões teóricas e bem embasadas frente aos fenômenos estudados (SILVA, 2007). Um perfil de aluno crítico, capaz de “ler” e refletir sobre o seu espaço de vivência, deve ser buscado pelos professores que, para tanto, devem fazer uso de diversos gêneros textuais, em especial, do Cinema, como indica Thiel e Thiel (2009, p. 12)...