Genivaldo veio de muito longe mesmo. Chegou faz dois meses em Manilha. Não deixou a sergipana Viçosa para passear em terras fluminenses. Veio deixando por lá sua família, para ver se conseguia um emprego decente e dar uma vida melhor pra "patroa" Eliana, os filhos Gil, Lucas e Talita .Ele saiu de sua terra jurando que voltava. Talvez já possa cumprir com a palavra dada - foi mandado embora da firma instalada para aproveitar a onda dos "negócios do petróleo". Só conseguiu comprar um I-Phone, na qual botou uma capinha com a carinha do Fred, e as cores tricolores ao fundo.

 

 

E o Jadir? Também se deu mal. Vindo do sertão da Paraíba, tentava a sorte numa das obras do Comperj. Não deixou família, ao menos que assim seja visto a tia distante e o passarinho Tigrão, que deixou com um amigo de pinga e peladas - não necessariamente nessa ordem. "Amigo" esse que teimava em chamar a ave de Zé Bedeu, só para irritar o Bodão (assim ele chamava o Jadir).

 

 

Tem a Cleia (Jucicleia na certidão), que trabalhava na padaria do Juninho. "Peão adora pão com mortadela". Assim ele pensou quando resolveu abrir um estabelecimento voltado para o café-da-manhã dos trabalhadores da refinaria. Mas os paes murcharam com a quase falência do empreendimento. Jadir tomou um balão, sem dinheiro para pagar os empréstimos que teve que pegar para expandir seu promissor negócio. A "roubalheira daquela cambada de safado" foi fatal, segundo ele. Se foi isso não sabe, mas Cleia terá tempo suficiente pelos próximos dias para pensar a respeito: foi demitida, terá que "arrumar outra batalha". Mas o segundo grau incompleto, feito numa das piores escolas da região, não lhe ajuda.

 

 

O Neílton estava cheio de esperança. Mas agora esta com medo. Não sabe o que é pior: estar desempregado no Rio ou ter que voltar para o interior do Piauí. Está até pensando em vender dois tênis que conseguiu comprar com 4 meses de salário.

 

 

Tem também o Reginaldo. Bahiano. 80 quilos (e litros de cana) distribuídos em 1,75 de altura. Antes, bebia para esquecer a dura jornada marretando ferro atrás de ferro num calor escaldante. Agora, bebe por nada. Enquanto ainda há dinheiro. Estaria bebendo muito mais se a empresa, ao invés de sair gastando em propina, pagasse o que lhe é devido. A ele e a mais de trezentos operários.

 

 

E temos o Gelsom, que não tem como comprar o material escolar da filha. Presente de Natal? Nem pensar. E ainda tem mais uma, que ainda não chegou a idade escolar, mas que já deve saber o que significa a palavra lava-jato, lá no agreste pernambucano.

 

 

Esse é o verdadeiro exército de desempregados que o Comperj deixou chupando dedo. Todos sem exceção não aguentam mais tanta roubalheira. "Tem que dar uma coça em todo mundo". Não confiam mais nos políticos. Nem no Estado

 

 

É esse o exército que faz o jogo da direita, ao dizer que não pode haver roubo numa estatal.

 

 

Munidos de indignação, tiveram a audácia de fechar a ponte Rio-Niterói por duas horas. Muita gente torceu para que levassem muita porrada da polícia. O jornal O Globo lamentou que não tenha havido repressão por parte das forças que salvaguardam o direito de ir e vir, esse sim, o grande violentado da história.

 

 

A esquerda toda se emocionou com ato de tanta bravura. E por isso quer que a Petrobrás continue sendo do povo. Alguns ainda fazem questão de pregar que ela não pode ser privatizada, "nunca", pois ela foi feita para servir aos interesses do Brasil.