O cérebro primitivo

 

Edilson Marcos dos Santos Junior[1]

Jaqueline Rocha Oliveira Vasconcelos[2]

Adriana de Cássia Nunes[3]

Cristiane Alves Neris de Oliveira[4]

 

Resumo

O encéfalo humano sempre foi alvo de investigação, e desperta interesse acerca de suas estruturas e funções, não só da medicina, mas de diversas áreas como a própria Filosofia, estendendo-se a abordagens multidisciplinares como a Neurociência. A partir disto busca-se no presente artigo demonstrar seu caráter evolutivo e adaptativo. Desta forma permanece a seguinte questão, como se deu o desenvolvimento do cérebro ao longo do tempo? De forma a cumprir os objetivos do mesmo, foi realizada uma revisão de caráter narrativo com o objetivo de levantar informações a respeito do caráter evolutivo do encéfalo do ponto de vista das ciências evolucionistas.

 

 

Palavras-chave: cérebro, primitivo, encéfalo, psicologia.

 

Introdução

O encéfalo humano sempre foi alvo de investigação, e desperta interesse acerca de suas estruturas e funções, não só da medicina, mas de diversas áreas como a própria Filosofia, estendendo-se a abordagens multidisciplinares como a Neurociência. “Evidências históricas apontam que até mesmo ancestrais pré-históricos compreendiam o encéfalo como órgão vital para a vida” (BEAR, 2017) e diversos outros intuíram a respeito de suas funções; Hipócrates (460-379 a.C.) no século V a.C. mesmo desprovido de instrumentos de exame e análise tal como tem-se hoje, fez inferências precisas a respeito da importância de tal órgão.

Segundo o mesmo, o cérebro é responsável pelos movimentos do corpo, pelo humor, prazer, melancolia, pessimismo ou lamentações. “No entanto, também já está claro que em outras regiões como no Egito antigo que, para eles, o coração, e não o encéfalo, era a sede da consciência e o repositório de memórias” (BEAR, 2017), ideias tais que, embora foram importantes para evolução do conhecimento sobre o encéfalo, não coincidem com as descobertas atuais como afirma Sadock (2017) “o cérebro é responsável pelos processos cognitivos, emoções e comportamentos, ou seja tudo que fazemos e pensamos.”

Todos estes processos que fazem do homem um ser pensante e mais, um ser social ocorrem em razão deste órgão, muitas questões foram respondidas, entretanto novas questões surgem a todo momento (OLIVEIRA, 2001).

Assim, constata-se a importância do cérebro como órgão constituinte de um sistema no corpo humano. A partir disto busca-se no presente artigo demonstrar seu caráter evolutivo e adaptativo. Desta forma permanece a seguinte questão, como se deu o desenvolvimento do cérebro ao longo do tempo?

É reconhecido por diversos cientistas que durante muitos milênios o sistema nervoso humano se desenvolveu, e o cérebro como um todo passou por processos de aperfeiçoamento, como o néocortex que se formou gradativamente pela evolução em torno do cérebro límbico, possibilitando a realização de tarefas associadas ao intelecto. É possível notar a partir do estudo evolutivo do cérebro humano que o mesmo é dividido em três partes distintas funcionalmente e estruturalmente: O cérebro reptiliano, responsável dentre outros, pelo comportamento sexual, alimentar, de sono vigília e agressivo; o cérebro límbico que se desenvolveu em torno do cérebro-R a partir dos mamíferos primitivos, constituindo o centro das emoções embora às emoções mais primitivas; e o néocortex, compreendendo a parte evolutivamente mais recente do cérebro (OLIVEIRA, 2001). Assim, supõe-se que seu desenvolvimento se deu em grande parte pela interação com o corpo e o ambiente (OLIVEIRA, 2001). Segundo, MACHADO (2013) “Os seres vivos, mesmo os mais primitivos, devem continuamente se ajustar ao meio ambiente para sobreviver”.

Em virtude dos fatos mencionados este trabalho tem por objetivo geral investigar a evolução do órgão responsável pela interação do homem com o mundo, isto é, o sistema nervoso e o cérebro como um todo. Além disso apresenta-se como objetivos específicos demonstrar as diferenças e semelhanças, a nível anatômico e funcional, encontradas em relação a um cérebro humano e o de outros animais, do mesmo e fazer uma análise de acervo bibliográfico que contemple o assunto em questão. Evidencia-se assim a relevância deste trabalho no âmbito social a partir do fato de que somente através da elucidação de tais fenômenos que ocorrem não só no homem é que questões como as propostas como por exemplo.

De forma a cumprir os objetivos do mesmo, será realizada uma revisão de caráter narrativo com o objetivo de levantar informações a respeito do caráter evolutivo do encéfalo do ponto de vista das ciências evolucionistas.

De acordo com Rother, 2007, as publicações em formato de revisão narrativa consistem em artigos amplos, próprios para descrever e discutir o desenvolvimento ou o "estado da arte" de determinado tema, sob ponto de vista teórico ou contextual.  E suma, elas são constituídas de análises da literatura publicada em livros, artigos de revista impressas e/ou eletrônicas na interpretação e análise crítica pessoal do autor.

 O estudo será desenvolvido a partir do que já foi elaborado dentro do tema, disponível em livros e artigos científicos.

Com a finalidade de atingir o objetivo dessa pesquisa, foram selecionados para a execução da mesma a Biblioteca Martinho Lutero, do Instituto Luterano de Ensino Superior de Itumbiara, onde foram encontradas as obras físicas; e revistas científicas e periódicos online, como o Portal de Periódicos Eletrônicos de Psicologia (PePSIC) e o Scielo.

Os critérios de inclusão foram: obras ou artigos que discorressem sobre o cérebro humano, evolução das espécies, neurociências, neuroanatomia do sistema nervoso e biologia evolucionista bem como antropologia., e que trouxessem a abordagem evolucionista como foco principal. Como critérios de exclusão, foram suprimidos aqueles que utilizavam o conceito dualista como entendimento do funcionamento do cérebro ou as obras que levantam apenas questões meramente especulativas e pouco fundamento teórico.

 

 

 

2.1 DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS – NÍVEL ANATÔMICO

Com base nos materiais bibliográficos disponíveis observa-se que, embora o tamanho do cérebro seja a diferença que se mostra mais notória no que se refere às distinções acerca do encéfalo humano ao de seus ancestrais ou de outros animais, esta não constituiu a única mudança observável, “a organização geral também mudou”.

Esta evidência pode ser constatada a partir da observação de estruturas internas do mesmo, que sofreram modificações e deixaram marcas que conduzem uma investigação que permite inferir acerca da neuroanatomia dos ancestrais humanos, deixando claro que além do tamanho do cérebro, outras estruturas evoluíram a partir da seleção natural.

Partindo do conceito de que a mente é um conjunto de módulos, isto é, um conjunto de estruturas que são a base para o funcionamento cognitivo, tais módulos foram constituídos ao longo da história evolutiva do homem permitindo-lhe capacidade para lidar melhor com problemas de sobrevivência e de reprodução.

Dessa forma, no que diz respeito ao funcionamento cognitivo entende-se atualmente que a partir desses processos diversos, como exemplo percepção, sensação, memoria e atenção, os animais podem se comportar de maneira complexa para além de um mecanismo reflexo, de maneira  a se sobressair em situações diversas, a saber a capacidade de resolução de problemas, evidentemente uma capacidade complexa e que o ser humano (e outros animais) domina , embora uns o façam mais eficazmente que outros (Eysenck, 2017).

Salvo casos de lesões ou outras disfunções neurológicas provocadas por pancadas, tumores, acidentes e etc., que trazem tal prejuízo ao indivíduo. Como afirma Futuya, a evolução das faculdades mentais humanas a partir de tais rudimentos, como o cérebro reptiliano citado anteriormente, certamente deve ter sido gradual, assim como a evolução do tamanho do cérebro.

Leonard; Robertson; Snodgrass, 2007 apud Diefenthaeler, 2013, afirmam que o cérebro no homem corresponde a três vezes o tamanho do cérebro do H. habilis, porém, seu crescimento foi marcado por períodos de aumento e mudanças expressivas de tamanho. Tal mudança também acarretou significativas mudanças para a biologia nutricional da nossa espécie, uma vez que grandes cérebros gastam uma quantidade maior de energia, fazendo com que uma proporção energética metabólica fosse direcionada para sua manutenção.

Dunbar (1992), constatou que o tamanho do neocórtex de uma espécie é proporcional ao tamanho do grupo em que se organiza. Assim, seu tamanho representa um limitante biológico a respeito do tamanho da rede na qual o indivíduo se relaciona. O esforço que é demandado para manter relações de cooperação aumenta a medida em que o grupo máximo de uma população se correlaciona com a capacidade cognitiva de seus integrantes.

Contudo outras modificações precederam esta modificação anatômica e funcional nos animais. A transição do hominídeo quadrúpede de vida arbórea e cérebro pequeno ao bípede onívoro de vida terrestre com cérebro cerca de quatro vezes maior foi acompanhada pela transição de uma dieta vegetariana a uma alimentação onívora-carnívora (VALENZUELA, 2007). 

De acordo com Lovejoy (1981), há cinco características que separam o homem moderno dos ancestrais, são elas, a encefalização, que se refere ao aumento do néocortex e maior desenvolvimento intelectual; o bipedismo, que junto com a posição ereta possibilitou a modificação da forma de utilizar as mãos e a ampliação do campo de visão, a dentição anterior reduzida, com predomínio de molares; a cultura material; a redução do dimorfismo sexual e estratégia reprodutiva diferenciada, onde os machos se enfrentavam menos entre si e as fêmeas preferiam os menos agressivos, que poderiam ajudar no cuidado da prole.

Algumas evidências interessantes advindas recentemente do campo da Paleoantropologia e ausentes da síntese apresentada por Christiansen e Kirby (2003). A recente descoberta de um espécime de hominídeo de cerca de 18.000 anos na ilha de Flores, na Indonésia, pode trazer algum esclarecimento acerca dos fatores causais e dos correlatos morfológicos relativos à evolução da cognição. O espécime foi classificado como pertencendo ao gênero Homo da família dos hominídeos e como pertencendo à nova espécie Homo floresiensis, muito provavelmente uma modificação das populações advindas durante as migrações de Homo erectus que, de acordo com as hipóteses tradicionais, deixaram a África e povoaram a Ásia continental e os arquipélagos do sudeste asiático. (CARVALHO, 2006)

O que chama atenção com relação a tal descoberta são evidências positivas de que os indivíduos de tal espécie estivessem envolvidos com atividades relativamente complexas de caça e de produção de tecnologia lítica, tendo, no entanto, cérebros diminutos, o que representa um contraste para os teóricos que apontavam apenas o aumento do volume cerebral como agente que fomentou o realce das funções cognitivas do homo sapiens sobre os demais da espécie homo.

O mesmo autor ainda enfatiza que tal volume cerebral está dentro das médias atestadas para os hominídeos mais "primitivos" do gênero Ardipithecus, assim como da média atestada entre os Chimpanzés (Pan troglodytes). Ainda assim, mesmo com tal tamanho reduzido, reconstruções do cérebro do espécime da ilha de Flores revelam um padrão de organização tipicamente hominídeo; demonstrando, por exemplo, lobos temporais e parietais diferencialmente mais largos além de um posicionamento de certos sulcos occipitais que revelariam um córtex associativo posterior extenso.

Que a evolução devesse selecionar cérebros maiores pode nos parecer óbvio. Somos tão apaixonados por nossa inteligência superior que presumimos que, em se tratando de capacidade cerebral, mais deve ser melhor. Mas, se fosse assim, a família dos felídeos também teria produzido gatos capazes de fazer cálculos, e porcos teriam a esta altura lançado seus próprios programas espaciais. Por que cérebros gigantes são tão raros no reino animal? (HARARI, 2015)

                        O autor aponta que cérebros grandes consomem uma grande quantidade de energia, além de demandar um crânio maior para protege-lo. No Homo sapiens, o cérebro equivale a 2 ou 3% do peso corporal, mas consome 25% da energia do corpo quando este está em repouso. Em comparação, o cérebro de outros primatas requer apenas 8% de energia em repouso. Os humanos arcaicos pagaram por seu cérebro grande de duas maneiras. Em primeiro lugar, passaram mais tempo em busca de comida, e em segundo, seus músculos atrofiaram.

 

 

2.2 O CÉREBRO A NÍVEL FUNCIONAL

As características anatômicas do encéfalo demonstram sua característica evolutiva no sentido de que passou por modificações ao longo da história da espécie humana e que estas características em parte fornecem pistas acerca da localização e determinadas funções encefálicas. Por exemplo, a região temporal do cérebro possui certa especialização em receber e interpretar estímulos auditivos, além da percepção de espaço. Nesta mesma região situa-se o aparelho auditivo, que recebe as vibrações sonoras e as conduz até as regiões de processamento deste tipo de estimulo.

Lesões na região temporal do encéfalo podem comprometer as mesmas funções (KRUSZIELSK, s.d.) mencionadas, isto é, as de receber e interpretar tais estímulos, causando a surdez. Assim percebe-se uma íntima relação entre localização e função. Contudo, Luria (ano) afirma que conceber a função cerebral como resultado do funcionamento de uma área em particular é impraticável. Luria (ano) exemplifica citando que “assim como a função respiratória não é propriedade apenas do pulmão, mas de todo o sistema respiratório, assim também é válido para a função cerebral”.

Desta maneira o autor assume a ideia de que a função cerebral faz parte de um sistema complexo, de maneira que não se pode reduzir atividades cognitivas complexas a apenas agrupamentos de neurônios restritos a uma unica área, mas que áreas encefálicas em particular seriam responsáveis por funções singulares assim como também estas áreas atuariam em conjunto, constituindo um sistema dinâmico e integrado, por meio da integração de tais funções. (KRUSZIELSK, s.d.)

Há módulos especializados em resolver determinadas situações, o que infere a existência de uma natureza humana universal, constituída de mecanismos psicológicos, frutos da evolução. Tais mecanismos são adaptações resultantes de um processo de seleção natural ao longo do tempo evolucionário.

Conjectura-se que tais módulos foram moldados pela seleção natural ao longo da pré-história humana, para que os antecedentes pudessem lidar de maneira mais eficiente com as dificuldades relacionadas à sobrevivência e à reprodução que enfrentaram durante sua existência. Dessa maneira, foi função da evolução se encarregar de privilegiar características que proporcionaram uma adaptabilidade maior para o organismo. (autor)

Fenômenos psicológicos como percepção, memória, imagem corporal ou atenção podem ser considerados produtos do processamento de diversas áreas cerebrais que, trabalhando em conjunto, proporcionam determinada função, sendo que cada zona cerebral individual contribui com um fator específico ao processo. Embora trabalhem em conjunto, a ideia proposta por Luria não é a de que estes processos trabalhem sempre ao mesmo tempo, mas que para um ocorrer outro processo também fez seu trabalho, como por exemplo, embora evocar memórias pareça algo fácil, é preciso que outros processos tenham ocorrido para que este esteja pronto para ser utilizado.

Se um estímulo visual for introduzido ao indivíduo e este estiver com a atenção voltada para outra atividade é possível que a evocação da memória daquele estimulo seja difícil ou até mesmo impraticável devido á propriedade da atenção de filtrar estímulos relevantes em determinado contexto, dificultando que outros estímulos sejam processados ao mesmo tempo (SANTOS, 2015). O que ocorre é que para que aquela memória seja armazenada de forma a ser evocada posteriormente é necessário que algum nível atencional, portanto de vigília, esteja presente. Receber o estimulo e evocar são dois fenômenos diferentes e que ocorrem de formas diferentes, contudo um está ligado ao outro de forma que esta união possibilita o perfeito funcionamento cognitivo de integrar o estimulo, memorizar e evocar seja efetivo (IZQUIERDO, 2011).

Outro exemplo que pode ser mencionado é o da leitura, onde o objetivo é ler e o resultado é a leitura em si, neste contexto os mecanismos utilizados são variáveis, uma vez que a leitura pode ocorrer por via fonológica (falando) ou mesmo semântica (ler mentalmente), utilizando assim zonas cerebrais diferentes. O resultado é o mesmo, pois o objetivo é ler, em contrapartida o processo mudou. Assim é possível observar como um sistema pode ser favorecido a partir da atividade de outros mais e como um depende do outro.

 

 

2.2.1 – FUNÇÕES VOLUNTÁRIAS E AUTÔNOMAS

O sistema nervoso é um dos sistemas complexos fruto da evolução e conta com capacidades incrivelmente versáteis para se ajustar às demandas do ambiente. Ficando responsável por coordenar todas estas funções mencionadas acima, desde pensamentos, memória, emoções que são de controle involuntário a processos voluntários como a própria respiração, movimento muscular e até mesmo o fluxo de pensamentos.

O mesmo sistema pode ser dividido em sistema nervoso central (SNC) e periférico (SNP). O sistema nervoso central corresponde a massa encefálica composta de tecido nervoso contido dentro da caixa craniana e pela medula, contido na coluna vertebral. O SNC se constitui, ainda na fase embrionária, a partir do tubo neural, que por sua vez tem origem em uma camada mais externa chamada ectoderma que surge doze dias após a concepção (CROSSMAN, 2007). A partir do tubo neural três vesículas surgem dando origem ao rombencéfalo, mesencéfalo e prosencéfalo.

Seguindo o período de desenvolvimento embrionário estas estruturas deverão se desenvolver para moldar o encéfalo. A partir daí as três vesículas se transformam em um conjunto de cinco vesículas, sendo acrescentada mais duas vesículas que são o mielencéfalo e o metencéfalo; do rombencéfalo se desenvolve o mielencéfalo, isto é o bulbo ou medula oblonga; o metencéfalo dá origem a ponte e o cerebelo enquanto que o mesencéfalo permanece com poucas modificações. O prosencéfalo da origem ao diencéfalo, onde contem o tálamo, um dos mais importantes centros de transmissão de vias sensoriais no sistema nervoso central e também o telencéfalo, que por sua vez compreende os hemisférios cerebrais (HALL, 1981).

Estas estruturas, no entanto, são separadas por um feixe de fibras o qual possibilita esta divisão encefálica. Este feixe de fibras é chamado de corpo caloso. Desta maneira entende-se o encéfalo como um órgão simétrico o qual apresenta as mesmas estruturas em ambos os hemisférios, com poucas exceções como a área de broca encontrada apenas no hemisfério direito. Os hemisférios também possuem suas divisões marcadas por giros e sulcos. Elas são basicamente cinco: lobo frontal, parietal, temporal, occipital e lobo da insula (OLIVEIRA, 2001).

 

 

Lobos frontais estão envolvidos em atividades chamadas funções superiores como capacidade de raciocínio abstrato, tomada de decisões, planejamento, solução de problemas, portanto participa também dos outros processos que possibilitam estas funções que são a atenção, processamento e expressão da linguagem e motivação.

Participa diretamente no controle motor voluntario, isto é, a capacidade de se exercer atividades utilizando os músculos voluntariamente, dentre outras. Lesões nestas regiões podem comprometer tais funções de acordo com as sub-regiões atingidas. A lesão na área de Broca que é em grande medida responsável pela expressão da linguagem, pode levar a afasias. Lesões no mesmo lobo podem tambem resultar em comportamento desinibido, irritabilidade, comportamento explosivo, além de conduta social inadequada.

Os lobos temporais possuem intima relação como funções como a memória, reconhecimento de objetos e faces, capacidade de entender a linguagem, processamento e percepção de informações sonoras. prejuízos como agnosias, prejuízo da memória e compreensão da linguagem podem ser resultado de lesões na região dos lobos temporais.

Os lobos parietais estão envolvidos na integração e percepção de informações somatossensoriais advindas de neurônios sensitivos localizados na pele, traduzindo-os em sensação tátil, pressa, temperatura e dor. Envolve-se também no processamento viso espacial, na atenção, orientação de espaço, além de representação numérica. A lesão destes lobos pode levar a perda da habilidade em localizar e reconhecer objetos e partes do corpo, chamada de heminegligência, dificuldade em discriminar a informação sensorial, desorientação e falta de coordenação.

Lobos occipitais são os únicos lobos aos quais podem ser atribuídas funções específicas: visão da cor, do movimento, da profundidade, da distância. Lesões nesta área podem levar alucinações, cegueira, falta de habilidade para perceber cores e sinestesia.

O lobo da insula se localiza mais internamente, coberto por partes do lobo temporal, frontal, occipital e parietal. Constitui -se, em parte, do sistema límbico, estando envolvido na coordenação das emoções. Participa também da sensação gustativa. E a lesão desta área pode prejudicar tal função.

Todas estas funções só é possível graças a velocidade das conexões sinápticas e a um córtex especial, capaz de integrar as informações estimulando e inibindo outras regiões do encéfalo. A camada mais superficial do encéfalo é o tecido nervoso, chamado de córtex. Um agrupamento extenso de corpos de neurônios e por isso ganham o nome de massa cinzenta. Mais internamente há fibras de neurônios que por serem revestidos de uma matéria lipídica, bainha de mielina. possuem coloração branca, ganham assim o nome de massa branca

A medula é um conjunto de fibras que se localiza no canal vertebral, partindo do tronco encefálico. Da medula partem 31 pares de nervos espinais, sendo eles oito pares de nervos chamados cervicais, doze torácicos, cinco lombares, cinco sacrais e um coccígeo. Em cada segmento da medula origina-se um par de nervos espinhais, formados por raízes dorsais sensitivas que conduzem impulsos nervosos aferentes e raízes ventrais motoras que conduzem impulsos nervosos eferentes (FRANCO, 2006).

A medula é construída tambem de um núcleo central de substância cinzenta, isto é, corpos de neurônios, e uma lâmina externa de neurofibrilas e substancia branca. Dentro da substancia cinzenta, há o corno posterior, corno anterior e o corno lateral. O corno posterior contem neurônios sensitivos, o anterior contém neurônios motores e o lateral contém os neurônios simpáticos pré-ganglionares (FRANCO, 2006).

O sistema nervoso Organismos unicelulares ou pluricelulares possuem capacidade de responder involuntariamente a estímulos ambientais. Embora o comportamento voluntario seja algo que possibilitou inúmeras mudanças no cenário da espécie humana é necessário que algumas funções permanecem de caráter automático (MACHADO, 2006)

E o sistema nervoso periférico é constituído de nervos espinhais ou cranianos, gânglios e terminações nervosas. Todos com propósitos claros: conectar as partes periféricas do corpo ao sistema nervoso central, o local onde se processa todas as informações recebidas e levar informações processas no mesmo até os músculos, órgãos e glândulas. O sistema nervoso periférico pode ser dividido em sistema nervoso somático e visceral.

Todos os nervos espinhais que inervam a pele, as articulações e os músculos que estão sob o controle voluntário são parte do SNP somático. Os nervos periféricos podem tanto levar as informações processadas no SNC para regiões periféricas como músculos e tecido da pele como levar aos músculos estriados esqueléticos o comando dos centros nervosos, resultando, pois, movimentos voluntários. Ele pode ser considerado funcionalmente parte do sistema nervoso central como sendo uma extensão deste (HALL, 1981). O SNP somático possui dois componentes que são os aferentes e os eferentes. O componente aferente conduz aos centros nervosos impulsos originados em receptores periféricos, informando-os sobre o que se passa no meio ambiente. O componente eferente leva aos músculos estriados esqueléticos o comando dos centros nervosos, comunicando-se com o SNC possibilitando os movimentos voluntários.

Sistema nervoso visceral é aquele que se relaciona com a inervação e controle das estruturas como órgãos internos, vasos sanguíneos e glândulas. Os axônios sensitivos das vísceras transmitem informações ou impulsos sobre as funções viscerais até o SNC, como por exemplo pressão arterial, quantidade de oxigênio arterial, dentre outras funções.

Sua função é crucial e teve grande importância na evolução das espécies. Visto que funções vegetativas controladas por exemplo pelo hipotálamo permite maior eficiência, permitindo que o indivíduo não precise se concentrar em tais funções, podendo então realizar outras atividades. Os axônios sensoriais viscerais transmitem informação sobre funções viscerais ao SNC, como pressão e conteúdo de oxigênio do sangue arterial.

A respeito das funções coordenadas involuntariamente, ou seja, automaticamente, cabe salientar outro componente que faz parte do sistema nervoso autônomo que é o sistema nervoso simpático e sistema nervoso parassimpático. Embora inicialmente pareça que trabalham separadamente por terem ações distintas, estes dois componentes atuam juntos para a harmonia do funcionamento de todo o organismo, para proporcionar a homeostasia.

O sistema nervoso somático simpático possui a função de estimular por meio das ligações de nervos aferentes, através dos quais sinalizará a tais tecidos recrutando-os para aumentar sua atividade, enquanto o parassimpático inibe tais atividades. Como exemplo a atividade simpática resulta em um aumento da frequência cardíaca, enquanto a atividade parassimpática a diminui (BEAR, 2017).

 

 

 

 

CONCLUSÃO 

A partir dos aspectos observados, é evidente que a evolução do encéfalo, bem como das funções cerebrais humanas trouxe ao homo sapiens uma capacidade que o proporcionou um salto evolucionário e o diferenciou dos outros animais, bem como de outros de sua própria espécie, como o homo neanderthalensis e o homo erectus.

Com relação ao tamanho, ao mesmo tempo que alguns autores considerem que um cérebro grande, somado à capacidade fabricar e utilizar ferramentas, uma capacidade superior de aprender e estruturas sociais complexas foram grandes vantagens evolutivas (HARARI, 2015), outros chamam atenção para determinadas espécies, também humanas, que desenvolveram impressionantes e surpreendentes habilidades mesmo tendo um cérebro relativamente pequeno diante dos demais de sua espécie (CARVALHO, 2006).

Kruszielski s.d aponta que, para Luria, a função cerebral não pode ser entendida como a função de uma área específica, do mesmo modo que a função respiratória não é de incumbência apenas do pulmão, mas de todo o sistema respiratório. Dessa maneira, subentende-se que ao analisar os aspectos evolutivos das funções do encéfalo, é necessário ter uma visão global acerca de todas as atividades por ele desenvolvidas, bem como sua interação com os demais sistemas do corpo.

“A função passa a ser entendida como um sistema funcional completo e complexo, sem reduzir uma atividade cognitiva complexa a uma ou poucos agrupamentos neuronais específicos.” Neste ponto, o autor faz nas entrelinhas uma crítica a estudiosos que se reduzem a “localizacionismos”, isto é, a linhas teóricas que buscam investigar e “recortar” o cérebro em partes, averiguar a função singular de cada uma dessas divisões, ao invés de analisar as interações que o todo oferece.

A proposta do sistema funcional é buscar onde está a falha no sistema funcional, qual a rota neuronal utilizada e porque ela não está sendo eficiente. Não se trata de associar uma área específica ou mesmo uma única função. Uma atividade mental complexa como é a leitura só poderá ser verdadeiramente compreendida em toda a sua complexidade. (KRUSZIELSKI, s.d.)

 

Considerações Finais

 

 

Durante muito tempo se especulou sobre as funções do encéfalo. Sobre como os seres humanos e os animais vivem se comportam e sentem e como é possível que tais funções permaneçam cada vez mais refinadas proporcionando uma interação quase perfeita com o mundo. A partir das informações obtidas foi possível analisar como o cérebro se desenvolveu e como ele opera; a partir de estruturas com milhares de células nervosas que transmitem impulsos a outros, formando uma rede de comunicação incrivelmente sofisticada.

Apenas com estudos voltados a compreensão da estrutura e função cerebral é que é possível entender processos fisiológicos como a emoção, pensamento, abstração, etc. por meio de comparações entre o cérebro humano e de outros animais é possível identificar a origem do mesmo e assim traçar maneiras objetivas de intervir como através de fármacos e cirurgias, bem como psicoterapia.

Assim é possível concluir que a seleção natural tem grande parte no processo de encefalização e desenvolvimento do mesmo.  Conclui-se ainda que o cérebro humano possui marcas em sua estrutura que evidenciam vestígios de como era anteriormente a sua evolução. Foi possível verificar também que o ser humano não foi sempre dotado de capacidade intelectivas que pudessem fugir ao que é esperado dentro de uma classe de espécies. Pelo contrário, por intermédio de um longo período estruturas que surgiam e eram vantajosas ao indivíduo conferiram-lhe maior adaptabilidade e consequentemente um aumento de sua espécie e assim sua perpetuação.

O ser humano não é a única espécie que possui estruturas cerebrais complexas. Assim como foi mencionado outros animais tambem dispõe de um encéfalo grande e com inúmeros neurônios. Entretanto as funções desenvolvidas no encéfalo humano são peculiares. Diante do presente trabalho pode-se observar que compartilhamos de uma estrutura cerebral e encefálica semelhante à de outros animais e que se assemelham tanto em nível anatômico como funcional. Haja vista os estudos feitos com animais e depois replicados em humanos.

 

Referências

BEAR, Mark F.; CONNORS, Barry W; PARADISO, Michael A. Neurociências: Desvendando o sistema nervoso. 4º ed. Artmed: Porto Alegre. 2017

CARVALHO, Fernando Orphao. Evolução da linguagem: consensos, controvérsias e algo mais. Ciênc. cogn., Rio de Janeiro, 2006. Disponível em . acesso em 13 de novembro de 2018.

 

DARWIN, CHARLES. A origem das espécies. Newton Compton. Brasil: Rio de janeiro

 

DIEFENTHAELER, Inés Beatriz Firpo. Das árvores às panelas no fogo: como nos tornamos humanos. Universidade Federal do Rio Grande do Sul: Porto Alegre, 2013

GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4 ed. São Paulo: Atlas 1946.

 

HARARI, Yuval Noah. Sapiens: uma breve história da humanidade. L&PM, 2015.

KRUSZIELSKI, Leandro. Teoria do Sistema Funcional. E. Disciplinas – USP, s.d. Disponível em .

 

LAKATOS, Eva Maria. MARCONO, Mariana de Andrade. Metodologia do Trabalho Científico: procedimentos básicos, pesquisa bibliográfica, projeto, relatório, publicações e trabalhos científicos. 7. Ed. São Paulo: Atlas, 2009

 

OLIVEIRA, Maria Aparecida Domingues de. NEUROFISIOLOGIA DO COMPORTAMENTO. 2º ed. Ed. ULBRA: Canoas 2001.

 

ROTHER, Edna Terezinha. Revisão sistemática X revisão narrativa. Acta paul. enferm. São Paulo, 2007. Disponível em . acesso em 19 de novembro de 2018.

 

 

[1] Graduado em Psicologia pelo Iles\ULBRA

[2] Graduanda em Psicologia pelo Iles\ULBRA

[3] Graduanda em Psicologia pelo Iles\ULBRA

4 Graduanda em Psicologia pelo Iles\ULBRA