O cérebro e a aprendizagem

                                                  Poti Chimetta Havrenne

                A aprendizagem é um fenômeno complexo e pode-se dizer que todas as regiões cerebrais estão envolvidas na aprendizagem.

               Em primeiro lugar há a necessidade de uma situação afetivamente propícia à aprendizagem.Uma situação associada a eventos desagradáveis pode impedir a atenção e assim dificultar a aprendizagem.

              O sistema límbico formado pelo núcleo amigdalóide, pelo girus do cíngulo, pelos núcleos do septo pelúcido, pelo fornix do hipocampo e pelos giros hipocampais parece ter papel fundamental nos estímulos interpretados como emocionalmente significativos; este sistema está localizado em região central dos hemisférios cerebrais e parece receber estímulos de ambos os hemisférios.

              A aprendizagem de habilidades motoras que posteriormente formará a memória implícita como por exemplo andar de bicicleta depende fundamentalmente dos córtex pré-motores de ambos os hemisférios cerebrais, mas obviamente também dos hemisférios cerebelares e do núcleo denteado do cerebelo, sendo as estruturas cerebelares fundamentais para a coordenação motora e pelo equilíbrio, juntamente com os núcleos vestibulares do tronco do encéfalo.

            Esta aprendizagem motora dependerá também da atividade integrada dos núcleos estriados, subtalâmico e substantia nigra responsável pela regulação extra-piramidal do movimento tornando-o mais delicado e preciso.

              A aprendizagem dependerá também da integridade dos cortes dos pólos frontais, que formam as zonas terciárias cerebrais segundo Luria que são importantes para   o planejamento e a organização das atividades da vida diária, bem como da integração entre as várias modalidades sensoriais e as atividades motoras.Assim uma lesão bilateral dos córtex pré-frontais torna a pessoa incapaz de qualquer tipo de aprendizagem por retirar dela a estruturação da memória e a formação de engramas  intermediários e importantes na organização do material a ser aprendido.

                 As zonas sensoriais primárias e secundárias do córtex são importantes também para a aprendizagem pois permitem a integração dos diversos estímulos originários das fontes de percepção em uma apercepção (reconhecimento do objeto origem dos perceptos), por comparação dos sinais perceptivos com padrões reconhecíveis guardados na memória de longo prazo.

                 Todas as áreas sensoriais originam estímulos capazes de ser associados a engramas já armazenados, assim por exemplo as sensações gustativas originárias de um alimento, podem ser associadas a um nome (por exemplo manga) e reconhecidos posteriormente quando encontrados novamente, por integração de várias modalidades sensoriais podemos associar a manga à cor amarela, ao odor da fruta, à sensação associada ao tato da fruta e assim por diante.

A importância dos hemisférios cerebrais nos processos de Aprendizagem 

          O hemisfério esquerdo parece estar mais relacionado com a percepção analítica e parcial dos estímulos, com atividades cognitivas, lógicas e racionais, bem como com as atividades verbais e manuais, enquanto o hemisfério direito associa-se à percepção global sendo mais sintético, ou seja capta o estímulo em seu todo e também se relaciona a atividades mais ligadas a estímulos  espaciais, sendo mais ligado a estímulos ligados a conteúdos emocionais.

             Parece haver diferença entre os gêneros no que se relaciona ao desenvolvimento hemisférico, mas não se sabe se essas diferenças são culturais ou de base anatômica, assim em países onde se pratica o xadrez com muita freqüência não existem enxadristas importantes do sexo feminino, do mesmo modo que existem muito poucas mulheres que foram geômetras importantes.Características como a linguagem parecem ser mais desenvolvidas em pessoas do sexo feminino.   

A Aprendizagem e as formas de memória

               A aprendizagem parece estar ligada à formação de memórias de longo prazo, assim a memória de trabalho, na qual por exemplo guardamos uma informação por poucos minutos apenas para poder utilizá-la no  momento como a de um número de telefone, não constituiria uma aprendizagem.

              A aprendizagem pode consistir na formação de uma habilidade motora como por exemplo tocar piano, constituindo assim uma memória implícita.As formas de aprendizagem associadas à formação da memória explícita, podem ser as episódicas como quando nos recordamos de fatos associados à nossa vida pregressa, podem estar relacionadas à memória contextual como quando organizamos nossas memórias e nossa aprendizagem num referencial espaço-temporal ou ainda podemos falar na aprendizagem associada à memória semântica, a qual é independente do contexto espaço-tempo  e funcionaria   como um conjunto de conhecimentos à semelhança do que ocorrem em uma  enciclopédia ( onde seriam guardados por exemplo os conhecimentos auferidos no ambiente escolar ) .

                 Teríamos ainda a aprendizagem ligada à metamemória que se relaciona à capacidade individual de avaliação da própria memória e a aprendizagem ligada à memória prospectiva que é aquela relacionada ao planejamento de atividades futuras, como quando imaginamos diversos cenários que ainda não aconteceram e tentamos prever com base em nossa experiência passada os possíveis desdobramentos da situação.

                   Uma outra maneira de classificar a aprendizagem seria em associativa como quando se ligam  novas percepções e conhecimentos a engramas já armazenados e não associativa como quando se criam novos conhecimentos a partir de perceptos observados.Tais situações corresponderiam aproximadamente  à assimilação e à acomodação descritas por Piaget, mas têm base comportamental.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LURIA, A.R. - Higher cortical functions in man.San Francisco :  Ed.Basic Books, 1966 : 513 pgs.

NUNES, B. - Memória - Funcionamento, perturbações e treino. Lisboa : Lidel, 2008 : 340 pgs.