O CAUSO DO PÉ GRANDE DA RUA DOS COCOS

 

Por: ¹Wilamy Carneiro

 

Numa manhã de agosto, uma jovem desapareceu quando caminhava no passeio público. Maria da Graça, mais conhecida de Gracinha de repente desapareceu e o causo foi para no quartel do 3º BPM .

Seus pais, o capitão Valdomiro e Dona Zefinha sentiram a falta da filha após o relógio da Matriz bater 18h00min horas. Era justamente a hora da Ave-Maria.

A jovem Maria da Graça, que os vizinhos e familiares chamavam de Gracinha era uma jovem calada e mal saía de casa. Só acompanhava o capitão Valdomiro e sua mãe para a missa no sábado. Gracinha era menina de poucas amizades até mesmo na sua escola. Sempre calada ficava no seu cantinho.  

Desde que um dia recebeu um telefone em sua casa, para passear com a amiga Jália numa pracinha próximo sua casa que ficava na Rua dos Cocos.

Gracinha não queria sair de casa nesse dia, pois disse a amiga Jália que na noite anterior teve um sonho esquisito e nesse sonho um mostro grande corria para lhe pegar. Por volta das três da madrugada acordou sem fôlego e muito cansada.

Sua amiga Jália respondeu:

- Deixe disso minha amiga. – Isso é porque não tem costume de sair de casa e está a ver coisas de mais pensando besteragem.

Gracinha Disse-lhes:

- Ouvi falar que um homem de pé grande vem amedrontando as meninas no parque. Talvez por isso, sonhei e tive pesadelo desse homem correndo atrás de mim.   

- Estás a caducar Maria da Graça Queiroz Galvão. Disse Jália a sua amiga. Miga tu estás precisando é de um paquera novo. Se não saí de casa vai ficar para o caritó. Igualzinho fala minha avó Gertrudes.  

Aprendi com minha avó: “Moça bonita casa quando quer”. “Homem casa quando acha”.

 E completou:

- Sabendo que tu és filha do capitão Valdomiro, ninguém vai meter a besta de fazer alguma mal. Pelo que sei, o capitão Valdomiro é homem bom e muito valente. Doidim por ti mulherzinha de Deus.  

Maria da Graça, vendo a indignação da amiga, quis atender sua vontade e falou.

- Sabe de uma coisa Jália, você tem razão? Vou sair de casa, pois faz um tempão que não saio de casa e nem dou umas voltinhas na Praça da Lagoa da Fazenda.

Gracinha retornou a ligação e marcou com sua amiga Jália, o encontro para depois das cinco horas da tarde.

- Ficou tudo certo e confirmado entre as amigas para este horário!

No dia seguinte Maria da Graça se emperiquitou toda. Passou baton, coisa que não fazia muito tempo. Calçou seu tênis rosa choque.  Entupiu-se de perfume, usou uma tiara que a madrinha, Dona do Carmo lhe dera no seu aniversário de Quinze anos. 

Maria da Graça, saiu de casa sem avisar a mãe e seu pai, o Capitão Valdomiro, pois o capitão estava à  serviço no quartel. Parecia mais a Penélope Charmosa dos filmes de infância de Hanna Barbera.  Pegou sua sombrinha e bateu a porta calmamente.

Maria da Graça era menina obediente, crente a Deus, bela, charmosa e boazinha. Fechou a porta de casa num despertar que sua mãe Dona Zefinha não percebeu, pois era de costume Gracinha não sair de casa. Sua mãe até condenava a filha de ficar enfurnada que nem banana verde dentro do quarto.

Mas, o infortúnio apareceu. Já se falavam de um bicho que rondava pela rua dos Cocos apavorando a comunidade. Seu pai, o valente e destemido capitão Valdomiro tinha tomado conhecimento no quartel com seus comandados de causos que já se passara naquele local.

Despreocupado, Capitão Valdomiro não deu muita importância ao causo do Pé Grande que estava acontecendo na redondeza da rua dos Cocos. Ademais Dona Zefinha vivia a serviço de sua filha Maria da Graça, seu tesouro em vida. Gracinha era menina que não dava canseira aos seus pais.   

O falatório da redondeza diziam que o Pé Grande da rua dos Cocos já tinha feito cinco vítimas e algumas mães das adolescentes desaparecidas tinham feito o (B.O), Boletim de Ocorrência na Delegacia de Polícia. Foi assunto nos jornais e rádio de Sobral.   

Naquela hora Maria da Graça andou até a pracinha da Lagoa da Fazenda que ficava nas proximidades da Rua dos Cocos. Lá existia uma pequena floresta com árvores nativa da caatinga.

Ao chegar à praça, Gracinha não viu a amiga Jália. Gracinha então pensou!

- Talvez tenha dito a Jália o horário errado, ou me enganei com a hora marcada? Sem comprometimento esperou sua amiga num banco que estava no canto direito da praça, próximo a Lagoa e a dita floresta que era coberta de jurema, sabiás, oitizeiros e Pau-branco.

As horas se passaram e Jália, amiga de Maria da Graça nada de aparecer. A rua começou a ficar deserta. Distraída, e sem notar que já se passara mais de uma hora, Gracinha não percebeu que começava ficar escuro.

Botou seu diário numa bolsa a tiracolo e começou ficar desconfiada porque sua amiga não cumpriu com o encontro. Não podia telefonar o que tinha acontecido, pois o celular deixou carregando em sua escrivaninha.

- E agora o que faço, disse Maria da Graça. Meu Santo Antônio me acuda. Não disse minha mãe e meu pai está perto de chegar do serviço. Painho vai ficar danado de raiva, pois, sabe que não posso sair sozinha. Ainda mais a esta hora da noite  que já escureceu.

De repente ouviu um barulho vindo em sua direção pela floresta. Os pisados nas folhas secas chegavam aos seus ouvidos cada vez mais nítidos.

A mata fechada, o sol já se escondera na Serra da Meruoca detrás das montanhas. Queria correr, mas, suas pernas fincaram como um porte fincado na calçada. Trêmula, suando frio, nervosa quis gritar. A voz não saía da glote. Ficara embargada como um barco a deriva.

Capitão Valdomiro chega em casa e vai até a cozinha pra falar com Dona Zefinha, avisando-lhes que o cheiro de cuscuz chegou até a porta de entrada.

- Muié esse cuscuz abriu meu apetite. Acho que vou deixar o banho pra depois.

Dona Zefinha respondeu:

- Pois sim, Miro. Era assim de forma carinhosa que Dona Zefinha chamava seu marido. O café já está na garrafa e o leite quentinho no fogão. Acabei de fervê-lo. E gritou no rumo do quarto de Gracinha.

- Anda filha minha. Teu pai já chegou e o estômago está roncando. Quis apressar no jantar hoje mais cedo.

Viu que ninguém respondeu. Um silêncio tomou conta da alcova, quarto, até a cozinha da casa.

Capitão Valdomiro pulou da cadeira ligeiro como um gato selvagem e saiu correndo rumo à porta do quarto da filha.

- Valha-me minha nossa Senhora do Desterro. Bradou o capitão. Minha filha sumiu.

- Graciiiiiinhaaaa! Onde foi parar minha filhota.

A velha dona Zefinha soltou a cuscuzeira na pia e correu pra ver o que estava acontecendo.

- Minha Santa Chagas de Jesus. Raptaram nossa filha homem.

Os vizinhos correram pra ver os gritos de Dona Zefinha e do capitão Valdomiro. Curiosos apareceram como alma penada fazendo revelações do Pé Grande e das ultimas vítimas. Dona Zefina começou a chorar rogando a Deus pela sorte de sua filha.

Era a única filhinha que tinha. Não deixe fazer mal nenhum a minha filhinha meu São Francisco de Assis. Por tudo que é mais sagrado Mãe Santíssima salva minha filha.

Os soldados e cabos da companhia chegaram da comissão com a sirene ligada na casa do capitão Valdomiro. E só ouvia vozes.

- Cadê Maria da Graça apareceu. É verdade que Gracinha sumiu. Será que o Pé Grande pegou a menina? Essa menina nunca fez isso e deu pra sumir de repente.

- Ave-Maria dizia uma beata mais afastada vendo aquela multidão na casa do capitão Valdomiro.

Quando Gracinha quis correr e sabia que não podia, viu que saía dentro do mata fechada sua amiga Jália e pitoco, seu cachorrinho de estimação puxado pela coleira.

Um suspiro veio de dentro do peito. Estava branca como nuvem no céu em pleno verão.

- Jália quer me matar de susto amiga?  Quase caio aqui mesmo mortinha. Há tempos te espero e nem sinal de você.

Jália se explodindo de rir disse-lhe:

- Oh mulher medrosa. Valha-me Deus. Antes de ti cheguei primeiro. Pitoco  soltou-se da coleira e adentrou no mato atrás de um porco da índia. Para não perdê-la, tive que ir atrás dele. Esse meu cachorro dá-me um trabalho danado, tenho que passear com ele todo santo dia. Coitadinho, até os bichos bruto precisam sair e passear. Não achas mesmo Maria da Graça.  Por isso me demorei. Achas mesmo que não vinha.

Gracinha ainda consternada com a situação, apenas balançou a cabeça como forma de aprovação.  

- Ande cá, deixas te dar um abraço, disse Jália. Teu coração está pra sair da boca.  E completou:

- Não era minha intenção te deixar esperar por mim. Perdoa-me amiga. A culpa foi do Pitoco esse cachorro vadio e traquino.

Gracinha percebendo que já escureceu tomou prumo, passou a mão nos cabelos arrepiados, ajeitou a roupa e disse-lhe.

- Só te desculpo se você me acompanhar até minha casa. Há essa hora, meu pai deve ter chegado e sentiu minha falta. Vai brigar comigo. Se me vir contigo fica menos bravo e se acalma.

Jália acompanhou a amiga. As duas foram de mãos dadas, proseando, com gargalhadas, falando do sonho e dos falatórios do Pé Grande da Rua dos Cocos até chegar em sua casa.

Nada aconteceu com Maria da Graça. O pé Grande da Rua dos Cocos desta vez não apareceu graças às rezas e apelos de dona Zefinha a Nossa Senhora e todos os santos. Enquanto os desaparecimentos das jovens, ainda não fora desvendado pelo capitão Valdomiro. Ele homem destemido, busca o algoz de suas vítimas.

 

TEXTO E CRIAÇÃO DE WILAMY CARNEIRO. 

“O CAUSO DO PÉ GRANDE DA RUA DOS COCOS”.

 

Wilamy Carneiro é professor, poeta, escritor e cordelista. Membro da Academia de Letras dos Munícipios do Ceará. É Patrono da Cadeira de N° 97 do Município de Forquilha – Ceará.