PERGUNTA: As imagens na Igreja Católica não são proibidas por Deus? O  católico não é idólatra?

Há séculos esse pergunta é feita, em razão da interpretação fundamentalista da Bíblia por parte de líderes de várias seitas cristãs. A interpretação fundamentalista é aquela que é feita “ao pé da letra”, não levando em consideração a época em que foi escrita, nem a região, nem as nuances da língua, nem o público ao qual era destinado aquele determinado texto.

O texto em que se baseiam aqueles que consideram idolatria o culto católico (e ortodoxo) às imagens dos santos, de Maria e de Jesus é o seguinte: “Eu sou o Senhor teu Deus, que te fez sair da terra do Egito, da casa da escravidão. Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem esculpida de nada que se assemelhe ao que existe lá em cima, nos céus, ou embaixo da terra, ou nas águas que estão debaixo da terra. Não te prostrarás diante desses deuses e não os servirás” (Ex 20, 2-5).

O texto foi escrito para o povo hebreu, recém liberto do Egito, que como sabemos, era panteísta, isto é, cultuava vários deuses. O povo hebreu, cativo durante décadas, assimilou a cultura egípcia que adorava seus deuses esculpidos em pedra, em ouro etc., correndo sério risco de também se tornar adorador de ídolos e, a proibição para eles estava muito clara: não esculpir imagens de deuses, não se prostrar em adoração diante delas e muito menos servi-las.

Para esse mesmo povo hebreu, Deus ordenou a confecção de imagens que simbolicamente conduziam à salvação futura através de Jesus, o Verbo encarnado: a serpente de bronze “Mas o povo perdeu a coragem no caminho e começou a murmurar contra Deus e contra Moisés: Por que, diziam eles, nos tiraste do Egito para morrermos no deserto onde não há pão nem água. Estamos enfastiados deste miserável alimento”. Então o Senhor enviou contra o povo serpentes ardentes que morderam e mataram muitos. O povo veio a Moisés e disse-lhe: “Pecamos, murmuramos contra o Senhor e contra ti. Roga ao Senhor que afaste de nós essas serpentes”. Moisés intercedeu pelo povo e o Senhor disse a Moisés: “Faze para ti uma serpente ardente e mete-a sobre um poste. Todo o que for mordido, olhando para ela será salvo.” Moisés fez, pois, uma serpente de bronze e fixou-a sobre um poste. Se alguém era mordido por uma serpente e olhava para a serpente de bronze, conservava a vida.”  Olhar para a serpente era um ato de fé. Veja a semelhança com a fé em Jesus crucificado.

Deus ordena ainda, a confecção da arca da aliança e de dois querubins, conforme Ex. 25, 10-22: “Farão uma arca de madeira de acácia, seu comprimento será ... Farás dois querubins de ouro e os farás de ouro batido ...”

Deus não é e, não poderia nunca ser, incoerente. Ele fala de coisas completamente diferentes, quando proíbe as imagens de ídolos e quando manda confeccionar imagens a serem veneradas. Ele não manda o povo adorar a imagem da serpente, nem a arca e muito menos os querubins; não diz que essas imagens são deuses, como dizia daquelas outras imagens proibidas.

O mesmo ocorre em nossos dias. As imagens dos santos, de Maria, de Jesus, dos anjos, não são deuses. Nós não as adoramos. Elas nos remetem ao objeto de nossa veneração: Maria, os santos e os anjos e ao objeto de nossa adoração: o Pai, o Filho e o Espírito Santo, um só Deus em três pessoas.

As imagens são para nós católicos, como as fotografias das pessoas que amamos; nós não amamos a fotografia, amamos aquela pessoa cuja imagem está na fotografia. As estátuas de nossos heróis nacionais, nos lembram a pessoa que merece ser homenageada pelos seus feitos; não é a estátua que tem méritos, mas sim a pessoa da qual ela é imagem.

Deus, quando ordena a confecção de imagens, como vimos, o faz por conhecer nossas necessidades sensoriais; precisamos de objetos que nos remetam ao espiritual. Temos nossa parte espiritual, mas não podemos negar a nossa carne e nossa mente, que através de imagens visíveis e sensíveis nos enviam ao invisível, ao intocável. Essa matéria, que são as imagens, nos ajuda a vislumbrar o espiritual.

O curioso é que algumas seitas que nos julgam e condenam por sermos idólatras, inventam coisas materiais para elevar as almas de seus devotos. Como não dizer que o menorá (espécie de castiçal dos rituais judáicos), usado em uma seita televisiva, não é uma imagem. Será que a cruz (sem o Cristo) e o “trono”, usados por outra seita, também não são imagens?

O Catecismo da Igreja Católica em seu número 2132 diz: “O culto cristão de imagens não é contrário ao primeiro mandamento, que proíbe os ídolos. De fato, “a honra prestada a uma imagem se dirige ao modelo original” como diz São Basílio, e, “quem venera uma imagem, venera nela, a pessoa que nela está pintada”, como afirma o II Concílio de Nicéia. A honra prestada às santas imagens é uma veneração respeitosa, e não uma adoração, que só compete a Deus”.

São Tomás de Aquino diz: “O culto da religião não se dirige às imagens em si como realidades, mas as considera em seu aspecto próprio de imagens que nos conduzem ao Deus encarnado. Ora, o movimento que se dirige à imagem enquanto tal, não termina nela, mas tende para a realidade da qual é imagem.”

Portanto, existe uma grande diferença entre imagem e ídolo. O ídolo é aquele que é adorado como deus (pode ser uma estátua como pode ser o próprio corpo, o dinheiro, o trabalho, o filho, o neto, a esposa, o marido, enfim, tudo o que for colocado acima de Deus); a imagem é a matéria que nos facilita a veneração daqueles que souberam amar a Deus e nos servem de exemplo, como os santos, os anjos e Maria, e à adoração ao Deus único e verdadeiro.