Não, não foi só uma trapalhada que o caseiro aprontou. Foram várias. A decisiva foi esta aqui:

Como procedíamos sempre, todo caseiro contratado recebia a moradia em uma casa dentro do sítio e um rancho mensal, carteira assinada, além de não pagar água nem energia elétrica. Assim, se passou com o trapalhão. Só que ele estava sozinho. Embora casado, só ele foi pro sítio. Muito bem. Após a primeira ocorrência dele autoferir-se com a foice, um certo dia, ainda dentro do primeiro mês, ele veio comigo e disse que queria ir embora. Que tinha sonhado – ou melhor, teria tido um pesadelo – com a sua mulher e que esta estaria lhes passando pra trás! Queria ir embora! , Fiquei sem ação. Longe de mim ser conselheiro sentimental, ou matrimonial! Choramingando ele repetiu esse episódio umas 2, 3 vezes na mesma semana! Ai, decidi:

– Ok. Estás dispensado. Arruma tuas coisas que o seu Chico, dono do caminhão freteiro de São Caetano te transportará de volta até Belém.

Acertei as contas com ele e combinei que na madrugada do outro dia seria a sua viagem de volta. O caminhão passaria às 05:30 horas e blá, blá, blá. A casa do caseiro era localizada bem perto do portão, na margem da estrada, portanto, daria pra ouvir sem problema, a chegada do caminhão. Por esse horário despertei com as buzinadas. Não me levantei, mas acompanhei de meu quarto o desenvolvimento da ocorrência. O seu Chico buzinou uma 3, 4 vezes, além de acelerar o motor, anunciando a sua presença! Mais tarde, quando me levantei, fui até a casa do caseiro e tudo estava como dantes. Ele, em pé na porta, com a cara mais deslavada, me diz que não acordou na hora… Não tive dúvida. Mandei ele pegar as coisas e colocar no carro que eu o deixaria naquele mesmo dia em Santa Isabel do Pará. De lá pra Belém ele que desse o jeito! Assim fiz. Saímos por volta das 09 horas. Quando passávamos próximos de Santo Antônio do Tauá, avistei uma caminhonete que vinha em sentido contrário. Mais próximo, alguém dentro dela acenou pra mim. Fiz que não vi e não parei. O veículo também não parou e seguiu em frente. Mais alguns minutos eu estava chegando em um posto de combustíveis localizado em Santa Isabel, bem na beira da BR-316. Lá estacionei e disse pra ele desembarcar e seguir pra Belém, conforme tínhamos combinado. Em seguida retornei para o sítio. Lá chegando, me deparei com uma cena inusitada: A caminhonete que cruzou comigo há pouco estava na entrada do sítio. Era a mulher do caseiro trapalhão. Conversamos, expliquei sem maiores detalhes o ocorrido e sugeri que se retornasse imediatamente, poderia encontrar o caseiro trapalhão ainda em Santa Isabel. Foi o que fez. Tchau, caseiro trapalhão!