"Carnaval é uma grandiosa cosmovisão universalmente popular de milênios passados... é o mundo às avessas" Bakhtin, 1970 

O carnaval que chegou aos nossos dias traz uma cultura que percorreu milênios de história, viu a era antes de Cristo, ganhou um novo sentido com a Igreja Romana, e passou a servir como momento de extravasar os desejos do corpo, hoje pouco se divulga a origem da festa e os motivos que levaram a Igreja, a adota-la como festa participante de seu calendário litúrgico. 

Na Grécia Antiga: as festas agrárias.

Registros de festas agrárias dedicadas aos deuses do Panteão grego datam de meados dos anos 600 a.C. festas onde o excesso de comida, bebida e orgias sexuais marcavam a comemoração em agradecimento por boas colheitas. Os deuses Baco, (deus do vinho e da loucura), e Momo (deus da zombaria), eram os principais homenageados nesse festival. Essa sociedade, como outras de sua época, eram marcadas pela grande dependência de boas colheitas, visto que não havia um comércio ativo, as colheitas fartas traçavam o destino de todos até a próxima colheita, e os homens dessa sociedade, acreditavam piamente que sua agricultura estava diretamente ligada ao “bom humor”, e a bonança divina. Justificam-se assim os festivais em culto aos deuses ligados a agricultura. No caso das festas de Dionísio e Momo, eram festas comemorativas, onde todos deveriam festejar e aproveitar a boa sorte anteriormente dada por eles, esse ciclo era importante para manter a boa colheita no ano que se seguia. 

A cultura romana e as influencias gregas.

Roma com uma história que se entrelaça em vários pontos com a cultura grega. o povo romano via nos homens Grécia um exemplo de civilidade a ser seguido, absorveram diversas características culturais, entre elas o Panteão de deuses, aos quais mudaram o nome e lhes concederam características mais belicosas, porem ritos e festejos se mantiveram. Roma era uma sociedade tão agrária quanto a grega, apesar de todas as conquistas territoriais e toda a efervescência cultural da Urbes, o verdadeiro motor econômico sempre esteve nos campos e na agricultura, por isso os ritos dispensados aos deuses ligados a agricultura nunca viram seu fim. As festas Bacantes, Baco o deus Dionísio da Grécia, também eram lembrados nas adorações, Saturno e Júpiter. As mesmas permissões eram concedidas, com excessos de bebidas e comidas, e a libertinagem entre homens e mulheres de todas as classes sociais, esses usavam mascaras para que não fosse possível a sua identificação, as maiores perversões era incentivadas. 

A Igreja e o Carnaval.

O Cristianismo era em sua origem uma seita do Judaísmo, seus adeptos eram perseguidos sem complacência, mortos para que servissem de exemplo aos demais. O império romano era o grande responsável pela caçada aos cristãos, desde o século I até o século IV quando a religião foi permitida pelo imperador Constantino, já era notável nesse período que a nova religião estruturada por Saulo, ou Paulo como ficou conhecido após sua conversão, seguia em crescente expansão, e não dava mais para ignorar o poder que se elevava. Constantino percebendo que seria de grande valor essa nova força ao Império, que seguia com diversas dificuldades Constantino converteu-se e passou ao cristianismo, porem até esse momento o politeísmo continuava a ser a religião oficial do Império e o Imperador adorado como deus. Motivo pelo qual os cristãos do passado eram considerados inimigos do Império, os mesmos se negavam a adorar alguém diferente do Deus pai, e o filho Jesus.

A nova religião foi oficializada como a religião do Império em 391. O Cristianismo passou a ser a religião in publica documenta, mas na pratica, o politeísmo ainda era aceito, e nos campos o culto aos deuses era bem maior do que à Cristo. Diversas atitudes foram tomadas para trazer os pagãos para a fé cristã, templos foram transformados em Igrejas, lugares sagrados passaram a receber oratórios ou cruzes para que onde antes havia culto aos deuses passasse agora a ser associada ao Cristo. O poder de Deus e por consequência de seus bispos eram superiores ao poder do Estado, e essa afirmação era levada a cabo em todas as circunstancias.

Porem como já foi dito anteriormente apesar de oficialmente ser a religião do Império, não se modifica verdadeiramente a fé de um povo através de documentos públicos, e a sociedade, principalmente a agrária, que havia crescido muito com as crises que vivia o Império, e o êxodo urbano vivido pelos Romanos em meados do século IV.

 Igreja Católica Romana quando oficializada passou a integrar diretamente o Império e seus bispos passaram a oficialmente receber um salário e ocupar um cargo publico, o Império que já havia visto o fim de sua expansão e há alguns séculos regredia, passou a ter um novo corpo de funcionários que fazia escoar ainda mais as verbas dedicadas a administração publica. Com uma crise sem controle o Império viu seu fim em 476 d. C, e com a queda do Império deu-se fim a uma civilidade, ou a romanidade como os romanos consideravam sua cultura.

Barbaros tomaram o trono do Imperador Rômulo no ano de 476 d. C e a Urbes de Roma foi abandonada, toda a população migrou para os campos, a Igreja que viu o fim do Império com grande pesar e medo de que com o fim do Império o fim dos tempos se aproximaria, notou que apesar da nova realidade e a total desestrutura política o “mundo” não acabou, e ela agora era a única instituição que restara na desordem. ela precisaria agora organizar a casa, e trazer para junto de si aqueles que não tinham a fé cristã como verdadeira fé.

Uma das atitudes tomadas pela Igreja foi trazer para dentro de seu calendário litúrgico a festa mais popular entre todas as camadas da sociedade. No ano de 590 a Igreja adota a festa de cultos agrários e os transformam na festa de despedida da carne, um período transitório entre o Tempo Comum e a Quaresma, período de quarenta dias que antecedem a Pascoa.

Carne Vales como foi nomeada a festa tinha duração de três dias, e a terça feira gorda, na quarta feira de cinzas inicia-se a contagem dos quarenta dias de quaresma, um tempo de abstinência as coisas da carne, onde os três pilares da fé cristã devem ser observados, a oração, a esmola e o jejum, sendo os três importantes para a reaproximação do homem a Deus. Para que se suporta- se de maneira satisfatória o período de recesso era permitido aos fiéis que no tempo do Carne Vales, excessos fossem cometidos. Tudo era permitido, apesar de que sempre ficou clara a posição da Igreja quanto aos pecados cometidos, eles não apoiavam libertinagens e excessos apenas absolviam os pecadores se a partir da quarta feira de cinzas as regras fossem seguidas. 

Conclusão

Entre outros artifícios a Igreja Católica Romana adotou e conferiu validade cristã a um culto pagão vindo da Grécia antiga, com objetivo de converter a fé pagã, abrindo mão de certas observações por um período tido como Tempo Comum, que antecede um tempo sagrado que é o da quaresma.

Seguimos até os dias atuais os festejos do carnaval, muitos sem o conhecimento de sua origem, não imaginam que o culto aos deuses pagãos está intrinsecamente mantido nas permissões que nos damos nos dias de Momo, haja vista um símbolo pagão.

Deve-se resaltar o caráter religioso da festa do carnaval, é um período de preparo do corpo para as dificuldades que os religiosos Católicos iram encarar na quaresma, que se inicia ao fim de três dias da mais pura libertinagem.

Referencias.

pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Carnaval&oldid=34050822

duplipensar.net/artigos/2007s1/historia-do-carnaval-de-culto-pagao-festa-popular.html

educaja.com.br/2010/02/o-carnaval-na-idade-media-festa-dos.html

ELIADE, Mircea. Dicionário das Religiões.2ª Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

GAARDER, Jostein; HELLERN, Victor; NOTAKER, Henry. São Paulo. CIA das Letras, 2000.