O CARNAVAL E A MUSICALIDADE

No Brasil temos a mais bela cultura musical do mundo, representada por sua variedade e diversidade rítmica e instrumental, desde os tempos do saudoso Chico Viola e da inesquecível Carmen Miranda até os dias dos veneráveis mestres Noel Rosa, Adoniram, Cartola, Lupcínio, Pixinguinha, Paulinho da Viola e Jacson do Pandeiro. Todos os instrumentos se fizeram e se fazem presentes na música brasileira, desde as primeiras décadas do século XIX, como o violão, a viola, a guitarra, o banjo, o cavaquinho, o pandeiro, o violino, a clarineta, a flauta, o saxofone, etc., os quais fizeram história acompanhando ou nas mãos dos grandes artistas de nossa música.
Através da cultura afro-brasileira, tivemos contato com os tambores e atabaques que, combinados com a vocalização e outros instrumentos ditos tropicais, produzem ritmos bonitos, e seus respectivos bailados, entre os quais o mambo, o frevo, o reggae, a salsa, a cúmbia, etc., bem aceitos em toda a América e outros continentes.
Nossos carnavais, até a década de 60, ainda reuniam a musicalidade de diferentes instrumentos, como a clarineta, o sax, o violão, o cavaquinho, etc.
Mas a partir do momento em que, por influência do carnaval carioca e do dito samba-moderno, foram abolidos dos nossos carnavais os instrumentos de corda e de sopro em sua combinação com os demais, ficaram apenas os instrumentos de percussão ou bateria, como bumbos, surdos, caixas, tarolas e baquetas, e esta festa perdeu o seu encanto musical original, salvaguardando-se, por sua variedade, o carnaval do nordeste e o ritmo baiano, com seus grupos carnavalescos e sua musicalidade como não há iguais, ainda hoje, no Brasil e no mundo.
Hoje, nas capitais do sul do Brasil e cidades do interior, em tempos de carnaval, convivemos unicamente com o ritmo das batucadas das ?escolas de samba? que, embora sejam do gosto e do agrado das comunidades, na verdade não nos mostram nenhuma melodia instrumental, mas apenas uma monótona e contínua ?bateção?, que fere, por horas a fio, os tímpanos de quem a escuta, e só proporciona um grande bem estar quando silencia.
Eu me lembro que nas décadas de 60 e 70 havia nos clubes, nos bailes de carnaval, a alternância dos ritmos e gêneros musicais, onde o frevo e as marchinhas eram intercalados com o mambo, a salsa, a cúmbia, o tango e o bolero, justamente para não cansar, ou para descansar de um tipo de ritmo ouvindo outro.
Hoje, nos carnavais de rua, a participação das escolas de samba é imprescindível, com a sua comissão de frente, sua sincronia e a bela coreografia dos passistas, cabrochas, baianas e porta-bandeiras. Mas só isso não é carnaval. Faltam os antigos ingredientes e,principalmente, a musicalidade, que se perdeu. Luciano Machado.