O CARA DO SOM

Esperei muito e ele não chegou.

Ele tinha me prometido que faria o serviço hoje e eu acreditei. Cancelei tudo. Deixei até de fazer a minha caminhada. O tempo não estava lá essas coisas, mas daria para fazer a atividade física, mas como eu estava preso ao cara do som...terminei não indo mesmo.

Ele tinha marcado para as duas horas. Já eram quatro e meia e nada do cara chegar. Liguei uma, duas, três, quatro vezes e ele dizia: "estou chegando, estou chegando". Nunca entendi tão bem o funcionamento do gerúndio como hoje. Ele talvez não tivesse um conhecimento teórico sobre o gerúndio, mas sabia usar como ninguém. Essa estória de estou chegando... Bem, o cara não chegava nunca.

Resolvi, então, relaxar um pouco. E a minha forma de relaxar é escrevendo. Ainda não tinha terminado o meu artigo sobre as eleições. Tentei escrever, mas não estava muito tranquilo, tanque que, às vezes, errava um pouco. Na verdade, eu queria mesmo era resolver o problema do som. Então, parei de escrever.

Toca a campainha. Levanto-me rapidamente da cadeira na certeza de que era o técnico. Nada. Não era ele. Era apenas o vizinho que queria falar comigo sobre o aumento do condomínio.

Vou assistir a um filme, pensei. Fui até a estante e peguei um que tinha comprado faz duas semanas e não tive tempo de assisti-lo. Acomodei-me no sofá, peguei algumas bolachas e comecei a ver o filme. Cochilei um pouco. Quando me dei conta, já eram seis da noite e o cara do som ainda não tinha chegado. Bom, não sou tão paciente assim. Desisto, falei comigo mesmo. Chega. É muita falta de compromisso. Decidi. Fui ao meu quarto, peguei o meu tênis, coloquei a minha meia e fui fazer a minha caminhada. Mas quando menos espero, toca a campainha outra vez. Vou atender. Era o meu filho.