O CAMINHO DA CONCHA

Meu labirito e liberdade? lá fui.
No caminho entre rosas e espinhos, pleno inverno.
Trieiro de terra vermelha, árvores, serôdia.
Começou a chover, cada gota que pingava em meu corpo,
Ultrapassava a carne, os ossos, a minh'alma. Que dor!

Fui pro rancho, estava lindo..céu e lua, guiavam-me.
Sem a maquilhagem, rosto nu e cabelos soltos. Descalço meus olhos de sinceridade.
Me sentei no caixote de madeira de acácia, pouco longe da casinha.
Cruzei meus braços como de costume, meu refúgio, minha cidadela.
Tinha fogo com matizes reluzentes, o cheiro do queijo, o sabor do vinho, ruídos inexprimíveis..
Tinha tudo.

Estava sozinha.
O outro caixote que geralmente fica ao meu lado,
com distância de mais ou menos meio metro, estava lá..são e só.
Um pouco frio, me abraçei apertado.
Pensei em muitas coisas.. ri muito, chorei muito,sem escandâlos, feito demente.
Ainda bem que estava sozinha. Queria que as lágrimas secassem com o tempo.
Que ninguém as tirasse, além de meus próprios dedos. É meu direito.

Me perguntei sobre A POESIA QUE DIZ SER MINHA, QUE NÃO A TENHO, A ÚNICA QUE PEDI, A ÚNICA QUE ME CANSA, ÚNICA DO TIPO, ÚNICA DO GÊNERO.. durante muito tempo. Foi um tempo milenar.
O tempo vem quando deixamos ele vir, deixei tudo. Tudo vir..veio até pedras à mais.

E em meio ao silêncio.
O rio me chamou pelo nome. Não suportei, fui.
Encontrei à margem, perto de um homem que sumiu de repente,"A concha."
Encontrei à no chão, em processo de enquistação.
Como sofria, pelo meio do qual a entidade ofensiva estava envolta,
de forma progressiva, por camadas concêntricas de nácar.Que dor!

Aguardava só mais um minuto; sabia que para ter, para ser ..aguardava.
Levei a concha para o outro caixote, o que ficava ao meu lado.. Eu mesma, não podia mais ficar ali. Fui..

..Ser a PÉROLA.