O burro
Por Henrique Araújo | 13/06/2009 | LiteraturaO BURRO
Cansado da labuta do dia a dia, dos corre-corres da cidade, fiz minha mala e resolvi passar umas férias na fazenda de um amigo meu. Eu já conhecia aquela fazendinha e muitas pessoas que residiam ali. Eu queria descansar a mente um pouco.
Quando cheguei lá, foi uma verdadeira festa. Eu tinha muitos amigos ali. Havia uma grande vila na fazenda, muitos porcos, cavalos, burros, bois, aves
Depois do descanso da viagem fui com o seu Jaspe dar uma voltinha pela fazenda. Queria ver a lavoura e a criação.
Embaixo de uma grande mangueira estavam arreando um burro. Um burro enorme, bem torneado, de cor marrom. Passei a gavar aquele burro. Pedro Paulo, que estava arreando o animal propôs que eu desse uma voltinha no animal, eu andaria mais rápido e cansaria menos. Eu não aceitei, mas houve muita insistência, inclusive do Jaspe, o proprietário da fazenda:
- Burrinho manso, burro de mulher.
Já que houve um consenso geral, resolvi montar. Foi a pior besteira que já fiz. Era um animal xucro, jamais fora montado. A peonada fez aquilo de propósito para ver como eu me saía. E o burro começou a pular e pula daqui, pula pra lá e eu em cima, me segurava em todos os lugares. E o burro sem parar. De repente começou a correr. Eu lá em cima gritando por São Pedro, Santo Antônio, São Serafim que tivesse dó de mim, pois ali seria o meu fim. Nenhum diabo de santo vinha me ajudar. E o burro peidava e eu lá em cima me danava. O burro suave e eu lá em cima derretia. E pulava o burro e me jogava pra cima e tentava sair de baixo. A minha bunda já não agüentava mais levar pancada. Ele desembestou-se a um pé de amoreira espinhuda bem fechado e baixo. Quando vi aquilo me assustei e pensei: você não é nenhuma besta, seu burro, pra passar direto naquela curva e entrar na moita de espinho. Claro que o burro não era besta, era um burro. Onde é que ele iria imaginar que teria de virar na curva? Passou direto e entrou no espinheiro.
O burro, que era mais baixo, passou por baixo. Eu fiquei pregado no espinheiro a dois metros do chão. No meu lado da frente ficou todo estatelado de espinho. Apalpei o meu trazeiro. Graças a Deus aí não tinha nenhum espinho. Não tinha, porque meu sangue esfriou um pouco e eu caí do espinheiro. Foi a pior. As folhas da amoreira são só de espinhos e desta vez eu caí
já levei uma paulada nas costas:
- Tarado, olha um tarado aqui - disse a velha.
- Que tarado nada, dona. Tarada é a onça que vem aí atrás.
Nem acabei de falar quando a onça pulou a janela. Pulei a janela do outro lado. Alcancei outras casas. Deixei a velha e a onça no interior da casa. Trouxeram-me para o hospital, estava mais morto que vivo.
Até hoje não sei o que aconteceu: se a onça comeu a velha ou a velha comeu a onça. Não pretendo saber mais disso, de maneira alguma.