FAFIPREVE - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Presidente Venceslau – SP AEPREVE - Associação de Ensino de Presidente Venceslau Reconhecida pelo Governo Federal O BRINCAR NA ESCOLA: Uma análise da importância do lúdico na aprendizagem ISABEL CRISTINA SILVA BELONI PRESIDENTE VENCESLAU – SP 2008 2 FAFIPREVE - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Presidente Venceslau – SP AEPREVE - Associação de Ensino de Presidente Venceslau Reconhecida pelo Governo Federal O BRINCAR NA ESCOLA: Uma análise da importância do lúdico na aprendizagem ISABEL CRISTINA SILVA BELONI Trabalho solicitado como parte do requisito para a Conclusão do Curso de Pedagogia. FAFIPREVE – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Presidente Venceslau. Orientadora: Prof. Maria José PRESIDENTE VENCESLAU - SP 2008 3 Beloni, Isabel Cristina Silva. . O BRINCAR NA ESCOLA: Uma análise da importância do lúdico na aprendizagem. Isabel Cristina Silva Beloni Presidente Venceslau: 2008. 20 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em Pedagogia) FAFIPREVE: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Presidente Venceslau – SP, 2008. Bibliografia. 1. 4 “A criança é feita de cem. A criança tem cem mãos cem pensamentos cem modos de pensar de jogar e de falar. (...) Cem alegrias para cantar e compreender. Cem mundos para descobrir Cem mundos para inventar Cem mundos para sonhar” Loris Malaguzzi Agradecemos A Deus, pelo maravilhoso dom da vida e pela capacidade de aprendizagem que nos deu de presente até o fim de nossas vidas. Aos nossos professores, que contribuíram com doses de sabedoria diária. Aos nossos amados filhos e esposos, pela compreensão e apoio constantes. Aos queridos companheiros de classe, que fizeram desta jornada de estudos um aprendizado humano, reconhecendo qualidades e aceitando as diferenças. Sentiremos saudades. 6 Dedicamos A todos os docentes preocupados em realizar um trabalho que faça a diferença na vida de cada criança por ele assistida. 7 BELONI, Isabel Cristina Silva. O BRINCAR NA ESCOLA: uma análise da importância do lúdico na aprendizagem (Trabalho Monográfico de Conclusão de Curso). FAFIPREVE: Presidente Venceslau. Orientadora: Profª. Maria José RESUMO O brincar leva a criança a explorar o mundo à sua volta, descobrir e compreender os próprios sentimentos e a si mesma, processo que a possibilita selecionar suas idéias e a construir as relações com os seus afins. Ela se torna, não obstante, capaz de modificar suas atitudes e ações por meio das interações que faz com o brinquedo. Partindo destas premissas, propôs-se realizar uma pesquisa a fim observar, descrever e estimular o emprego das atividades lúdicas nas atividades pedagógicas de instituições de educação infantil. O objetivo do estudo foi investigar as atitudes geradas no brincar e, com base nestas, fornecer mecanismos para que tais práticas venham a integrar definitivamente a grade curricular e favoreçam o crescimento e a identidade das crianças. Palavras - chave: Brincar; Atividades Lúdicas; Crescimento; Identidade. 8 SUMÁRIO INTRODUÇÃO...........................................................................................................09 JUSTIFICATIVA.........................................................................................................10 Capítulo 1 - A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR............................................................11 1.1 – Como e onde brincar na escola.........................................................................13 1.2 – O papel do professor.........................................................................................15 O “FAZ-DE-CONTA” NA APRENDIZAGEM...............................................................17 OPINIÃO DO EDUCADOR.........................................................................................19 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................20 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................21 9 INTRODUÇÃO Independente de época, cultura e classe social, os jogos e as brincadeiras fazem parte da vida da criança. Pedagogos e psicólogos estão de acordo ao afirmar que os jogos e brincadeiras infantis são uma atividade física e mental, que favorece o desenvolvimento pessoal, social e motor, de forma integral e harmoniosa. O brincar deve ser um dos principais objetivos da educação infantil. Brincando a criança desenvolve suas capacidades: cognitiva, motora, afetiva, ética, estética, de relação interpessoal e de inserção social. Nas brincadeiras as crianças podem desenvolver algumas capacidades importantes, tais como a atenção, a imitação, a memória, a imaginação. Amadurecem também algumas capacidades de socialização, por meio da interação e da utilização e experimentação de regras e papéis sociais. (BRASIL, 1998, p.22.) Os jogos e brincadeiras são oportunidades valiosas para a criança aprender a conviver com pessoas diferentes entre si, dividir brinquedos, assimilar regras, solucionar conflitos, experimentar papéis, usar a imaginação, a criatividade, expondo suas idéias e emoções. Tanto o brincar espontâneo como o brincar dirigido proporcionam o desenvolvimento e a aprendizagem. Brincando a criança tem a possibilidade de conhecer o seu próprio corpo, o espaço físico e social, as pessoas com as quais ela convive, conquistando a autonomia e construindo a sua identidade. Ao brincar a criança obtém a oportunidade de aprender conceitos, regras, normas e valores que, gradativamente irão construir sua cidadania. No primeiro capítulo deste trabalho iremos tratar da importância do brincar na escola: suas contribuições ao desenvolvimento e formação da cultura da criança. Além disso, iremos destacar a parte que cabe ao professor neste processo. Veremos o que e como ele pode fazer para avalizar um caminho de sucesso para a aprendizagem de seus alunos de forma lúdica e agradável. 10 O segundo capítulo colocará o “faz-de-conta” – esse mundo mágico da criança – como uma ferramenta pedagógica riquíssima e digna de ser explorada em prol do desenvolvimento psíquico e social da criança. 11 JUSTIFICATIVA Se entendermos que a infância é um período em que o ser humano está se constituindo culturalmente, a brincadeira assume importância fundamental como forma de participação social e como atividade que possibilita a apropriação, a ressignificação e a reelaboração da cultura pelas crianças. Portanto, tal Projeto científico justifica-se no fato de que, os espaços da educação infantil precisam garantir às crianças tanto suas necessidades básicas físicas e emocionais quanto as de participação social, de trocas e interações, de constituição de identidades e de ampliação progressiva de experiências e conhecimentos sobre o mundo. Essas diferentes dimensões se articulam por meio de um trabalho focado nas relações sociais entre adultos e crianças, e destas entre si mesmas. Já afirmava Howard Gardner que “(...) brincar é um componente crucial do desenvolvimento, pois, através do brincar a criança é capaz de tornar manejáveis e compreensíveis os aspectos esmagadores e desorientadores do mundo. Na verdade, o brincar é um parceiro insubstituível do desenvolvimento, seu principal motor. Em seu brincar, a criança pode experimentar comportamentos, ações e percepções sem medo de represálias ou fracasso, tornando-se assim mais bem preparada para quando o seu comportamento ‘contar’”. Quando proporcionamos o brincar, criamos um espaço para que as crianças experimentem e descubram o mundo, de maneira alegre, dinâmica e criativa. Oportunizamos que a criança seja feliz, seja humanizada. Já dizia Carlos Drummond de Andrade: “Brincar não é perder tempo, é ganhá-lo. É triste ter meninos sem escola, mas mais triste ainda é vê-los enfileirados em salas sem ar, com exercícios estéreis, sem valor para a formação humana”. 12 1. A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR O filósofo tcheco Jan Amos Komensky, ou Comênio (1592-1670), foi o primeiro teórico a respeitar a inteligência e os sentimentos da criança. Dizia ele: “Deve-se começar a formação muito cedo, pois não se deve passar a vida a aprender, mas a fazer”. Nas relações entre professor e aluno, Comênio escreveu que deveriam ser consideradas as possibilidades e o interesse da criança. O cientista suíço Jean Piaget (1896-1980), por sua vez, notificou que é pelas próprias experiências que a criança constrói seu conhecimento e o seu aprendizado. .“O conhecimento não pode ser uma cópia, visto que é sempre uma relação entre objeto e sujeito”. Também o médico, psicólogo e filósofo francês Henri Wallon mostrou que as crianças têm também corpo e emoções (e não apenas cabeça) na sala de aula. Segundo o francês, é por meio das emoções que a criança se relaciona com o mundo e se desenvolve. ”A criança responde as impressões que as coisas lhe causam com gestos dirigidos a elas”. O psicólogo bielo-russo Lev Vygotsky, ainda, defendeu uma teoria sociocultural do desenvolvimento, na qual a aprendizagem se constrói propondo desafios que desencadeiem avanços e estimulem a interação entre as crianças. São diversos conteúdos do brincar que proporcionam a interação com o viver diário, dentro do brincar simbólico. Assim ela supera dificuldades, aprende com elas e torna-se, verdadeiramente um cidadão. Afirmava: ”O saber que não vem da experiência não é realmente saber”. O corpo e os gestos são fundamentais para a formação geral do ser humano e cabe à instituição educacional oportunizar ao educando “o aprender brincando”, tema este, também priorizado por filósofos, pedagogos, psicólogos, médicos, cientistas e professores como citados acima. No ato de brincar, os sinais, os gestos, os objetos e os espaços valem e significam outra coisa daquilo que aparentam ser. Ao brincar as crianças recriam e repensam os acontecimentos que lhes deram origem, sabendo que estão brincando. O principal indicador da brincadeira, entre as crianças, é o papel que assumem enquanto brincam. Ao adotar outros papéis na brincadeira, as crianças agem frente á realidade de 13 maneira não – literal, transferindo e substituindo suas ações cotidianas pelas ações e características do papel assumido, utilizando-se de objetos substitutos. A brincadeira favorece a auto-estima das crianças, auxiliando-as a superar progressivamente suas aquisições de forma criativa. Brincar contribui, assim, para a interiorização de determinados modelos de adulto, no âmbito de grupos sociais diversos. Essas significações atribuídas ao brincar transformam-no em um espaço singular de constituição infantil. ( BRASIL,1998, p.27.) Brincar é um direito da criança, citado na Lei 8069 de 13 de Julho de 1990, Estatuto da Criança e do Adolescente, no seu capítulo II – do direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade, no artigo 16, a saber: “O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos: [...] IV – brincar, praticar esportes e divertir-se; [...]. O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil - volume 1- ressalta, ainda, que a prática da educação infantil deve se organizar de modo que as crianças desenvolvam as capacidades de brincar, expressando emoções, sentimentos, pensamentos, desejos e necessidades (p. 63). Assim sendo, a criança irá progressivamente construir uma imagem positiva de si, atuando de forma cada vez mais independente, com confiança em suas capacidades e percepção de suas limitações. 1.1 Como e onde brincar na escola É sabido que, a partir da LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394-96) a Educação Infantil é concebida como parte da Educação Básica. Desde então, as crianças com até seis (06) anos de idade, têm sido vistas sob outra vértice. É consenso entre os estudiosos que é preciso desenvolver as diversas linguagens da criança para que suas capacidades cognitivas sejam ampliadas. Estas devem respeitar a faixa etária dos alunos, tendo em vista seu desenvolvimento: não subestimar-lhes a inteligência e a capacidade, tampouco exigir-lhes além do que suas habilidades cognitivas lhes permitem compreender. 14 Para que isso ocorra é necessário que estejamos aliados a uma proposta pedagógica consistente. O professor da Educação Infantil deve periodicamente planejar e avaliar as atividades que propõe, preocupando-se em atender as necessidades da turma - a organização do tempo, dos materiais e da sala de aula são fatores imprescindíveis para uma rotina estruturada e de qualidade. Nas atividades de creche (que atende crianças de zero a três anos), identidade e autonomia são quesitos que devem ser, simultaneamente, assegurados por meio das atividades lúdicas. O ambiente da sala de aula deve ser organizado em cantos de atividades, de modo a favorecer o exercício de escolha do aluno, já que cada um escolhe onde e por quanto tempo brincar. Afixar espelhos na parede e explorá-los ludicamente e utilizar fotos das crianças junto ao nome para identificar seus pertences, ou ainda, expor em um mural as fotos da família são também exemplos de atividades condizentes à proposta, uma vez que favorecem a construção da autonomia da criança e sua identidade. O brincar amplia o universo da criança. Por meio do “faz-de-conta”, ela processa e assimila assuntos que lhe permitem compreender o mundo, bem como as relações sociais e os valores éticos (noções de hierarquia: a mãe e a patroa; profissões: o médico, a professora; adequação às leis: pede um brinquedo emprestado, mas sabe que deve devolvê-lo, pois não é seu). Por essa razão é importante oferecer um ambiente tão rico quanto possível: explorar os espaços da sala de aula, dos parques e pátios. Mesmo ao brincar livremente no parque infantil, a criança desenvolve habilidades e competências. O professor poderá, neste momento, observar a criança nas suas relações com os outros colegas, nas relações estabelecidas com os objetos, e ainda, nas descobertas e desafios que cada brinquedo do parque pode proporcionar. Muito embora a criança se simpatize com uma série de brinquedos, é importante que, nas atividades de sala de aula, estes sejam direcionados. Na préescola os jogos simbólicos e os jogos de regras possuem grande significado, pois possibilitam à criança apropriar-se da cultura. Embora o brincar seja livre e espontâneo, ele não é natural, mas uma criação da própria cultura. Seu aprendizado se dá por meio das interações e do convívio com as demais crianças. Portanto, é de suma importância prever tempo e espaço para que esta seja difundida por meio das brincadeiras no ambiente educativo. 15 1.2 O papel do professor É de suma importância que o professor certifique-se da importância do brincar como um recurso privilegiado de sua intervenção educativa. Longe de usá-lo como uma atividade isolada, o brincar deve fazer parte de um todo pedagógico; sendo inerente à rotina da sala de aula. Embora esta seja uma atividade espontânea, é necessário que o professor posicione-se interativa e ativamente sobre ela, buscando conhecer as crianças com as quais trabalha. Uma das tarefas mais importantes do educador é, conforme já citado, providenciar um ambiente agradável e convidativo para o jogo infantil. Deve potencializar este espaço para que a criança tenha oportunidades freqüentes para brincar e que este seja sinônimo de auto-realização. Ele deve estar atento para deixar à disposição das crianças material adequado suficiente que responda às suas necessidades, lembrando sempre que, tanto a qualidade, quanto a diversidade são imprescindíveis. Os brinquedos devem despertar o interesse e a curiosidade da criança; assim sendo, é dever do professor manter os brinquedos organizados e em boas condições de uso, incentivando sempre os alunos a fazerem o mesmo. É interessante pedir que as crianças separem os brinquedos em caixas quanto à forma, ao tamanho, ou ainda, quanto ao material. Desse modo, as crianças vão aprendendo noções de organização e classificação. Assim fazendo, o professor não protagoniza o papel central que domina um processo de intervenção, mas excita a mediação nas interações da criança com os objetos e o espaço. O educador deve ser sensível às manifestações e expressões dos alunos. Deve valorizar os jogos que realizam e enriquecer a atividade desenvolvida, introduzindo novos personagens ou novas situações que tornem o jogo mais rico e interessante para eles. Não é sadio incentivar a competição nas atividades lúdicas; todos devem expressar-se livremente sem a preocupação de ter algum tipo de aprovação ou punição. Cabe ao professor, não obstante, respeitar as preferências de cada criança e não forçá-la a realizar determinada atividade ou a participar de um jogo coletivo. Quando ocorrem conflitos e pequenas dissensões entre as crianças é o professor quem deve fazer a mediação, ensinando-lhes a chegar a acordos, a negociar e compartilhar. Até mesmo estes momentos de conflitos são importantes 16 na construção do auto-conhecimento e auxiliam os pequeninos a adequarem-se às regras sociais. Dentre outras, estas são as competências do professor no que tange ao direcionamento do brincar na sala de aula; brincar este que corrobora para uma convivência saudável e favorável ao aprendizado consistente. 17 2. O “FAZ-DE-CONTA” NA APRENDIZAGEM O “faz-de-conta” é uma das modalidades do brincar e merece atenção especial. São oportunidades valiosas para a criança aprender a conviver com pessoas diferentes entre si, compartilhar idéias, dividir brinquedos, assimilar regras, solucionar conflitos, experimentar papéis, etc. No faz-de-conta, a criança realiza um esforço de tradução. Ela não é velha, mas representa esse papel no jogo simbólico. Também não é um bicho, mas pode imitá-lo. Esse fingimento aumenta o repertório das diversas linguagens, como o desenho, a fala, a música e a dança. A criança descobre simbolicamente a importância do adulto em sua vida e as diferenças entre ambos. No faz de conta, as crianças aprendem a agir em função da imagem de uma pessoa, de um objetivo e de situações que não estão imediatamente presentes e perceptíveis para elas no momento em que evocam emoções, sentimentos e significados vivenciados em outras circunstâncias. Brincar funciona como um cenário no qual as crianças tornam-se capazes não só de imitar a vida como também de transformá-la. (BRASIL, 1998, p.22.) Deve-se estimular a imaginação infantil. Para isso o professor deve oferecer materiais dos mais simples aos mais complexos, podendo estes brinquedos ou jogos serem estruturados (fabricados) ou serem brinquedos e jogos confeccionados com material reciclado (material descartado como lixo), por exemplo: pedaço de madeira; papel; folha seca; tampa de garrafa; latas secas e limpas; garrafa plástica; pedaço de pano etc. Todo e qualquer material cria para a criança uma possibilidade de fantasiar e brincar. Bruno Bettelheim (2001) explica que através de uma brincadeira de criança, podemos compreender como ela vê e constrói o mundo – o que ela gostaria que ele fosse, quais suas preocupações e que problemas a estão assediando. Pela brincadeira, ela expressa o que teria dificuldade de colocar em palavras. Nenhuma criança brinca só para passar o tempo; sua escolha é motivada por processos íntimos, desejos, problemas, ansiedades. O que está acontecendo com a mente da criança determina suas atividades lúdicas; brincar é sua linguagem secreta, que devemos respeitar mesmo se não a atendemos. 18 A existência da fantasia nos remete à necessidade de desenvolver a imaginação e ao estabelecimento da diferença entre o real e o simbólico. Sugere-se que se inclua, no ambiente da própria sala de aula, ou na Brinquedoteca da instituição, se houver, um espaço dramático. Espera-se trabalhar com o desenvolvimento pleno da criança estimulando sua percepção, senso crítico e despertando suas emoções. O jogo dramático permite que a criança, no “faz-de-conta” trabalhe suas dificuldades, trazendo-as para a realidade social, uma vez que é experiências são trocadas a todo o momento entre os alunos. Progressivamente, a criança é suscitada a desenvolver mecanismos de liberação de sentimentos e características individuais. O professor deve apostar no uso de diversos materiais, tais como: panos, cordas, murais, caixas, espelhos, roupas, enfim, qualquer utensílio que auxilie a criança na liberação de sua fantasia e espontaneidade. Além de familiarizar-se com os mistérios do mundo, a criança adquire, por meio desta atividade, um certo grau de harmonia entre os impulsos de sua própria vida psíquica, de forma a trabalhar seus desejos e temores até integrá-los à sua personalidade. 19 OPINIÃO DO EDUCADOR por Neide Moraes Bonato* Piaget já dizia que o jogo é essencial na vida da criança. Acredito também que o brincar é fundamental para o desenvolvimento holístico de todo ser humano. Não meramente o brincar por brincar, mas o brincar orientado que favorece o crescimento enquanto indivíduo e a construção do conhecimento. É através do brincar que a criança assimila e passa a vivenciar regras no seu cotidiano; que aprende a se comportar de forma adequada, respeitando o espaço e o direito do outro; que interage no meio social e descobre que existe um mundo inteiramente novo a ser explorado. O “faz-de-conta” também possibilita que a criança “solte a imaginação”, expresse suas opiniões e libere seus sentimentos mais íntimos. Como educadora posso afirmar que o brincar na escola possui poder transformador. Crianças extremamente inseguras, introspectivas e com dificuldade de oralizar, através das brincadeiras, quer sejam em sala de aula, quer sejam ao ar livre, transformam-se em crianças seguras e, verdadeiramente, adultos autônomos em potencial. No brincar o aprendizado ocorre de forma prazerosa por meio das interações e do convívio com os demais. Minha experiência me fez entender que é extremamente importante e construtivo que o educador brinque junto com as crianças, mesmo que a brincadeira já tenha sido repetida variadas vezes. Ainda que as crianças conheçam as regras, sempre é possível que elas reinventem ou criem novas regras; e o professor deve estar ali, fazendo as mediações. Quando meus alunos e eu brincamos juntos, sinto a afetividade entre nós crescer sobremaneira; surge uma espécie de cumplicidade, uma interação entre os nossos mundos. Utilizar o brincar como ferramenta pedagógica demanda disposição e planejamento. Porém, ratifico: é fundamental para assegurar a eficácia da aprendizagem. * Neide Moraes Bonato é pedagoga; professora da Educação Infantil da rede municipal de ensino na cidade de Presidente Venceslau – S.P. 20 CONSIDERAÇÕES FINAIS Além de todas os benefícios que aqui foram citados, as brincadeiras devem servir como apoio pedagógico para o professor, tendo em vista que todas as crianças gostam desta atividade. É consenso entre os educadores que as crianças adquirem inúmeros conhecimentos e habilidades enquanto brincam; e as conjecturas postas aqui nos permitem comprovar esta teoria. Por ser um comportamento socialmente construído, a brincadeira ajuda a criança a entender a si mesma e ao universo na qual está inserida. Desse modo, brincar é um componente crucial do desenvolvimento, pois, através do brincar a criança é capaz de tornar manejáveis e compreensíveis os aspectos esmagadores e desorientadores do mundo. Como vimos, o brincar é um parceiro insubstituível do desenvolvimento; é seu principal motor. Em seu brincar, a criança pode experimentar comportamentos, ações e percepções sem medo de represálias ou fracasso, tornando-se assim mais bem preparada para comportar-se de maneira socialmente aceita quando atingir a fase adulta. 21 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGUIAR, C. M. Educação, Cultura e Criança. Campinas: Papirus, 1994. BENJAMIM, W. Reflexões: a Criança, o Brinquedo, a Educação. São Paulo: Summus, 1984. BORBA, Ângela Mayer. O brincar como um modo de ser e estar no mundo. In: MEC – SEB. Ensino Fundamental de nove anos: orientações para a inclusão das crianças de seis anos de idade. Brasília: Ministério da Educação, 2006. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Geral de Educação Infantil. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF/DPE/COEDI, 1998. v.1, 103p. BRASIL. Lei nº 8069, de 13 de Julho de 1990. 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