Resumo

O brincar é um recurso utilizado na aprendizado das crianças, sendo assim, os professores devem procurar utilizá-los em consonância com suas ações e de forma alguma fragmentá-lo e deixá-lo fora do contexto de sua sala de aula. Para tanto, esta pesquisa foi realizada na Organização Não Governamental (ONG), Associação Filantrópica Acácia Morena, localizada no município de Campo Grande/MS com crianças de 1 a 4 anos de idade. A metodologia utilizada foi a revisão da literatura e pesquisa de campo, durante o estágio na instituição, onde foram realizadas atividades e brincadeiras com os alunos em distintos contextos, utilizando a brincadeira cantada como ferramenta no aprendizado. O objetivo foi promover um entendimento sobre o brincar, pensando que essa prática na psicopedagogia cogita resultados positivos, associando a brincadeira ao procedimento de intervenção com intencionalidade de promover uma aprendizagem significativa. Dessa forma, no contexto escolar o brincar é atividade essencial para as crianças, pois brincando elas descobrem o mundo que as rodeiam, e acabam se inserindo em um contexto social. O brincar é fundamental no desenvolvimento motor, cognitivo, social e afetivo, além de ser um direito de toda criança.

Palavras-chave: Aprendizagem. Brincar. Educação Infantil

 

1 INTRODUÇÃO 

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, 1996) define que a Educação Infantil deve ser oferecida em creches ou em entidades equivalentes, para crianças de 0 a 3 anos de idade, e em pré-escola, para crianças de 4 a 6 anos.

Para tanto, o trabalho educativo que deve ser inserido nessas escolas ou creches, que atendem a Educação Infantil, requer segundo Dudek e Costa (2005), atividades que tenham mais significado e que permita ao aluno entender o mundo em que vive. Para os autores, o professor deve estar sempre o estimulando, levando-o a refletir, questionar, argumentar e experimentar, na expectativa de que a criança, desde pequena seja crítica, autônoma e criativa.

Partindo dessa premissa, se torna importante que a educação voltada para essas crianças tenham significado e que elas possam aprender de maneira lúdica, pois nesta fase, segundo Lazaretti (2009, p. 3114):

A atividade que a criança realiza, por meio da comunicação com os adultos e por mediação destes, da brincadeira, faz com ela se aproprie de forma ativa dos objetos humanos com o qual reproduz as ações humanas. É por meio de sua ação e em dependência das pessoas com quem ela está em contato que constitui seu modo de vida e este modifica, de acordo com a posição real que a criança ocupa, a partir da qual descobre o mundo das relações humanas. Portanto, seu desenvolvimento está condicionado pelo lugar efetivo que ocupa nestas relações.  

Segundo Borba (2007, p.12):

Se entendermos que a infância é um período em que o ser humano está se constituindo culturalmente, a brincadeira assume importância fundamental como forma de participação social e como atividade que possibilita a apropriação, a ressignificação e a reelaboração da cultura pelas crianças.

 

Neste sentido, a brincadeira é um recurso utilizado na aprendizado das crianças, sendo assim, os professores devem procurar utilizá-los em consonância com suas ações e de forma alguma fragmentá-lo e deixá-lo fora do contexto de sua sala de aula.

Para tanto, esta pesquisa foi realizada na Organização Não Governamental (ONG), Associação Filantrópica Acácia Morena, localizada no município de Campo Grande/MS e que atende crianças de 1 a 4 anos de idade, abordando o tema trabalhado no estágio “A Metodologia do Brincar na Educação Infantil”, com foco na brincadeira como forma de aprendizagem.

A metodologia utilizada foi a revisão da literatura e pesquisa de campo, onde durante o estágio na ONG foram trabalhadas brincadeiras e jogos com a finalidade de auxiliar na aprendizagem dos alunos. Também foram analisados diferentes comportamentos e atitudes da criança em relação ao brincar-aprender em distintos contextos, utilizando a brincadeira cantada como ferramenta.

O objetivo foi promover um entendimento sobre o brincar, pensando que essa prática na psicopedagogia cogita resultados positivos, associando a brincadeira ao procedimento de intervenção com intencionalidade de promover uma aprendizagem significativa.

Para atender esses pressupostos o presente trabalho pretende apresentar algumas considerações sobre a aprendizagem, além de conceituar o brincar e seus aspectos dentro do contexto da aprendizagem.

 

2 O BRINCAR NO CONTEXTO DA APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL

 

O brincar representa uma fase no desenvolvimento da inteligência, marcada pelo domínio da assimilação sobre a acomodação, tendo como função consolidar a experiência passada (DUDEK e COSTA, 2005).

Para Piaget (1971), a criança quando brinca, assimila o mundo de maneira própria e singular, não havendo compromisso com a realidade, pois sua interação com o objetivo não depende da natureza do objeto mas da função que a criança lhe atribui.

O brincar, de acordo com Rolim et al (2008), revela que é uma característica fundamental na infância, pois traz inúmeras vantagens para a constituição da criança, proporcionando a capacitação de uma série de experiências que irão contribuir para o desenvolvimento futuro dela.

Para Rodrigues (2009, p. 19) o brincar é:

Um importante processo psicológico, fonte de desenvolvimento e aprendizagem. Ele envolve complexos processos de articulação entre o já dado e o novo, entre a experiência, a memória e a imaginação, entre a realidade e a fantasia, sendo marcado como uma forma particular de relação com o mundo, distanciando-se da realidade da vida comum, ainda que nela referenciada. A brincadeira é de fundamental importância para o desenvolvimento infantil, na medida em que a criança pode transformar e produzir novos significados. O brincar não só requer muitas aprendizagens como também constitui um espaço de aprendizagem.

 

Dessa forma, é inevitável associar a aprendizagem da criança na educação infantil com o brincar e, neste contexto o professor é peça chave para estimular e desenvolver seus alunos durante o ato de aprender.

 

2.1 CONCEITO SOBRE O BRINCAR

 

            Para Rolim et al (2008, p. 176), ao consultar o dicionário nos deparamos com diversos significados para a palavra brincar, e todos eles nos passam a ideia de diversão, distração, agitação, faz de conta, porém, afirma que:

A brincadeira é o lúdico em ação. Brincar é importante em todas as fases da vida, mas na infância ele é ainda mais essencial: não é apenas um entretenimento, mas, também, aprendizagem. A criança, ao brincar, expressa sua linguagem por meio de gestos e atitudes, as quais estão repletas de significados, visto que ela investe sua afetividade nessa atividade. Por isso a brincadeira deve ser encarada como algo sério e que é fundamental para o desenvolvimento infantil.

           

Na teoria piagetiana, a brincadeira não recebe uma conceituação específica. Entendida como ação assimiladora, a brincadeira aparece como forma de expressão da conduta, dotada de características espontânea e prazerosa, onde a criança constrói conhecimentos (DUDEK e COSTA, 2005).

Para Vygotsky (2007), na abordagem histórico-cultural, brincar é satisfazer necessidades com a realização de desejos que não poderiam ser imediatamente satisfeitos. De acordo com o autor, quando as crianças estão brincando, elas utilizam a imaginação, que está muito presente, enquanto as regras ficam menos evidentes, porém ainda permanecem.

Vygotsky (1991) também afirma que o brincar, mesmo sendo livre e não estruturado, possui regras, sendo assim todo tipo de brincadeira, até mesmo o faz-de-conta possui regras que conduzem o comportamento das crianças. Ele cita um exemplo aonde uma criança que brinca de ser a mamãe com suas bonecas assume comportamentos e posturas pré-estabelecidas pelo seu conhecimento de figura materna, mesmo que ela invente a história, parte de uma relação social já vivenciada.

Para Vygotsky (1991) o brincar é essencial para o desenvolvimento cognitivo da criança, pois os processos de simbolização e de representação a levam ao pensamento abstrato. O autor levanta a ideia de que uma criança ao imitar e usar a imaginação para brincar, neste momento ela está aprendendo.

            Complementando o conceito dado pelos autores acima, de certa forma resumindo, segundo Almeida (2004), o brincar é uma necessidade básica e um direito de todos. O brincar é uma experiência humana, rica e complexa. Dessa forma, não há como negar esse direito aos alunos da Educação Infantil, pois a criança na faixa etária atendida nessa fase da educação necessita brincar.

 

2.2 O BRINCAR E A PRÁTICA PEDAGÓGICA

      

Kishimoto (2008) defende a ideia de utilizar jogos e brincadeiras na prática pedagógica do professor de Educação Infantil para favorecer a aprendizagem da criança. Para a autora é importante também levar em conta:

A prática pedagógica deve partir de referenciais teóricos que contemplem o desenvolvimento pleno da criança, no crescimento de suas habilidades para que efetivamente aproprie-se de conhecimentos básicos e que possam vir a construir outros saberes a partir desses. Esse é o projeto educativo que realmente traz significações ao ensino, pois visa primeiramente a aquisição e produção do saber, sem provocar violência tanto intelectual quanto afetiva, que inviabilizam toda a dinâmica do ambiente escolar (KISHIMOTO, 2002, p. 57).

 

De acordo com Fonseca (2005), o professor pode trabalhar esses conhecimentos básicos através de histórias contadas, as quais serão recontadas pela criança, com cenários e com personagens e, nesse sentido, estará possibilitando a ela a aquisição de conceitos que poderá utilizar nas suas relações sociais.

Contrapondo a questão do relacionamento social da criança, Winnicott (1975) diz que  ela brinca só e o adulto não deve interferir, a não ser que seja convidado. Esse brincar para o autor é simbólico e gera aprendizado.

Nesse sentido, Lyra (2016) diz que a criança age livremente no jogo de faz-de-conta dentro de uma sala de educação infantil, expressando relações que observa no seu cotidiano, a função pedagógica será garantida pela organização do espaço, pela disponibilidade de materiais e muitas vezes pela própria parceria do professor nas brincadeiras. Dessa forma, a autora garante que ao permitir a manifestação do imaginário infantil, por meio de objetos simbólicos dispostos intencionalmente, a função pedagógica subsidia o desenvolvimento integral da criança.

De acordo com Brougère (2002) o brincar não pode ser separado das influências do mundo, pois não é uma atividade interna do indivíduo, mas é dotado de significação social. Para o autor a criança é um ser social e aprende a brincar. A brincadeira pressupõe uma aprendizagem social. “A criança não brinca numa ilha deserta. Ela brinca com as substâncias materiais e imateriais que lhe são propostas, ela brinca com o que tem na mão e com o que tem na cabeça” (BROUGÈRE, 2001, p.105).

 

  1. REGISTROS DAS INTERVENÇÕES PSICOPEDAGÓGICAS

 

3.1 INTERVENÇÃO 1

 

3.1.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

  • Adquirir  noções de quantidade;
  • Memorizar sequência lógica e musical;
  • Interagir com o colega;
  • Cumprir regras estabelecidas para atividade;
  • Estimular a criatividade e ludicidade;
  • Ampliar vocabulário;
  • Relacionar numeral e contexto musical;
  • Explorar novos ritmos musicais e formas de expressão;
  • Desenvolver atenção, percepção.

 

  1. DESENVOLVIMENTO DA INTERVENÇÃO

 

As crianças ficaram sentadas em roda para que todas pudessem observar o que seria feito no centro da roda e também para poder ter contato com todos os colegas de forma coletiva, olhando as expressões de cada um e podendo interagir quando necessário.

Durante a atividade em roda foi perguntado quem conhecia um patinho, onde ele vivia, qual cor ele tinha, o que ele comia etc. Após esse momento das perguntas e da participação das crianças, foi colocado o tapete confeccionado em EVA.

O tapete tem o cenário de um lago, com montanhas, ensolarado e foi explicado para as crianças, que de acordo com a música, elas deveriam ir tirando ou colocando o patinho do cenário.

Então cantaram:

5 PATINHOS

5 Patinhos foram passear, além da montanha para brincar,

A mamãe gritouquá-quá-quá, mas só 4 patinhos voltaram de lá.

 

A mamãe gritouquá-quá-quá, mas só 3 patinhos voltaram de lá.

 

A mamãe gritouquá-quá-quá, mas só 2 patinhos voltaram de lá.

 

A mamãe gritouquá-quá-quá, mas só 1 patinho voltou de lá.

1 patinho foi passear, além da montanha para brincar,

A mamãe gritou, quá-quá-quá, mas nenhum patinho voltou de lá.

Puxa, a mamãe patinha ficou tão triste, onde será que estão meuspatinhos?

A mamãe patinho foi procurar, além da montanhas na beira do mar, a mamãe gritou quá-quá-quá e os cinco patinhos voltaram de lá.

 

A participação das crianças foi intensa, pois essa turma adora músicas e o que mais chamou atenção deles foram os patinhos e o cenário do tapete que ficaram encantadores.

 

  1.  INTERVENÇÃO 2

 

3.2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 

  • Participar de diferentes situações e ter contato com diferentes materiais em sala de aula;
  • Relacionar quantidade e numeral de acordo com o estabelecido;
  • Aprender de forma lúdica a contagem dos números;
  • Interagir com o colega e professor aguçando a observação e forma de realizar o que lhe foi proposto;
  • Conhecer diferentes ritmos musicais.

 

  1. DESENVOLVIMENTO DA INTERVENÇÃO

 

Nessa atividade, foi trabalhado os numerais, relacionando eles com a música e com a expressão de cada aluno. Havia uma caixa decorada para que as crianças explorassem o seu interior. As crianças tocaram na caixa e como na lateral foram colados números, algumas delas apresentaram várias suposições sobre o interior do objeto.

Dentro da caixa tinham mãozinhas, confeccionadas em EVA e que estavam lá pra ajudar a descobrir os numerais. Conforme era mostrado, espontaneamente as crianças imitavam o gesto da mão, e, juntamente com a professora começaram a contar os números e mostrar ao mesmo tempo o objeto. Para o momento ficar ainda mais divertido, lúdico e proporcionar o aprendizado foi cantada a música “Mariana”, que está presente no DVD da personagem “Galinha Pintadinha”, clipe do qual está no cotidiano da criança.

 

MARIANA

Mariana conta um, Mariana conta um, é um;

Ana viva a Mariana, viva a Mariana;

Mariana conta dois, Mariana conta dois, é um, é dois,é;

Ana, viva a Mariana, viva a Mariana;

Mariana conta três, Mariana conta três, é um, é dois, é três, é;

Ana, viva a Mariana, viva a Mariana;

Mariana conta quatro, Mariana conta quatro, é um,é dois,é três, é quatro, é;

Ana, viva a Mariana, viva a Mariana;

Mariana conta cinco, Mariana conta cinco, é um,é dois, é três, é quatro, é cinco, é;

Ana, viva a Mariana, viva a Mariana!

 

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

A brincadeira por si só já apresenta efeitos significativos de aprendizagem, pois nela a criança se expressa, se comunica, interage e consegue de alguma forma transferir e adquirir o conhecimento através desse momento. O professor é responsável pela intervenção e utiliza a brincadeira para direcionar sua prática pedagógica, mediando a situação a ser vivida com um objetivo a ser alcançado.

Na Educação Infantil o brincar é atividade essencial para as crianças, pois brincando elas descobrem o mundo que as rodeiam, e acabam se inserindo em um contexto social. O brincar é fundamental no desenvolvimento motor, cognitivo, social e afetivo, além de ser um direito de toda criança.

Dessa forma, as escolas e creches que atendem crianças de 0 a 4 anos, seus professores devem utilizar uma metodologia voltada ao brincar, pois a criança aprende brincando, ela é capaz de entender o mundo que a rodeia e interage nele.

 

5 Referências

 

ALMEIDA, M.T.P. Jogos divertidos e brinquedos criativos. Petrópolis: Vozes, 2004.

BORBA, A. M. A brincadeira como experiência de cultura na educação infantil. In: BRASIL/MEC – Revista Criança do professor de educação infantil – Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007.

BROUGÈRE, G. Brinquedo e cultura. 4ª ed. São Paulo: Cortez, 2001.

______. A criança e a cultura lúdica. In: KISHIMOTO, T. M. O Brincar e suas teorias. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002.

DUDEK, C. e COSTA, R. R. O brincar e a aprendizagem na educação infantil de quatro a seis anos.  Anais do V Educere, PUCPR, Curitiba, 2005.

FONSECA, S.. O brincar à luz da Psicopedagogia. Disponível em http://www.profala.com/arteducesp100.html  acesso em 28 de maio de 2016.

KISHIMOTO, T. O brincar e suas teorias. São Paulo: Cengagelearning, 2008.

LAZARETTI, L. M. Aprendizagem e desenvolvimento na primeira infância: destaque para os instrumentos culturais. In: IX Congresso Nacional de Educação e III Encontro Sul Brasileiro de Psicopedagogia, PUCPR, Curitiba, 2009.

LYRA, G. J. H. A importância de se trabalhar com a ludicidade na educação infantil. Disponível em: http://semanaacademica.org.br/system/files/artigos/a_importancia_de_se_trabalhar_com_a_ludicidade_na_educacao_infantil.corrigido_1.pdf, acesso em 12 de Agosto de 2016.

PIAGET, L. E. A formação do símbolo na criança. Tradução de A. Cabral e C. M. Oiticica. Rio de Janeiro: Zahar, 1971.

RODRIGUES, L. M. A criança e o brincar. UFRJ, Mesquita, 2009.

ROLIM, A. A. M; GUERRA, S. S.; TASSIGNY, M. M. Uma leitura de Vygotsky sobre o brincar na aprendizagem e no desenvolvimento infantil. Ver. Humanidades, Fortaleza, v. 23, n. 2, p. 176-180, jul/dez, 2008.

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 4ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

___________________. A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, Selo Martins, 2007, 7ª ed. (Psicologia e Pedagogia).

WINNICOTT, D. W. A criança e o seu mundo. Ed Zahar. 1975.

 

 Pós-graduanda em Psicopedagogia.