(Sérgio Lisboa)

Sempre que alguém emite uma opinião, com raríssimas exceções, esta pessoa se manifesta em função do universo em que vive. Seus juízos passam pelas experiências que teve e principalmente por aquilo que ela representa. Escondidas sobre o manto da ética, as pessoas na realidade defendem um corporativismo muito forte.

Advogados lutam como leões para preservarem seu status bem como suas posições, assim como os médicos, policiais, professores, políticos, ladrões (já não tinha citado estes?) desempregados, sem-terras, religiosos, militantes políticos e até flanelinhas.

O suicida, que muitos pensavam que era um sujeito que não tinha amor pela própria vida, na realidade é o mais forte representante do corporativismo, levando consigo o seu corpo quando não vê mais saída na defesa dos seus interesses.

O mundo seria menos confuso se todos os especialistas, professores ou intelectuais informassem em que partido militam ou qual o seu trauma de infância em que assimilaram algum preconceito ou idéia fixa que teimam em não desgrudar de suas entranhas e sempre se manifestam ao primeiro sinal de adrenalina lançada na região sangüínea nos momentos acalorados de discussões ideológicas que tomam o seu corpo para emitir uma opinião ou uma verdade absoluta.

Quando as teorias tão arrogantemente defendidas caem e surgem as crises, especialmente as econômicas, a culpa é sempre de algo que não foi considerado, um detalhe esquecido, do Sobrenatural de Almeida ou do autor da teoria que agora, com a casa caída, todo mundo sempre soube que não daria certo. Ninguém questiona que talvez não exista uma receita de bolo para o que é certo.

Talvez até exista uma receita de bolo para a verdade, mas assim mesmo será preciso muito cuidado com a procedência e o prazo de validade dos ingredientes, senão o bolo se torna abatumado, isto é, duro e pesado por pouca fermentação da massa (Viu? Sempre é necessário um crescimento da massa).

Muito se repete por aí que a verdade quase sempre é dura e pesada, mas nem por isso precisa ser abatumada.

Aliás, o bolo da verdade abatumado é mais difícil de engolir do que o pãozinho quente da m