O BOI TRAPALHÃO DA PONTE GRANDE (PONTE OTHON DE ALENCAR)

CRÔNICAS DE UMA CIDADE – SOBRAL “A CIDADE PRINCESA”

CAUSO DE NÚMERO 35

 

Inicia o mês de fevereiro na Distinta Cidade Januária de Sobral. Um causo inesperado toma conta na vida urbana e no transporte de passageiros, transeuntes daquela heráldica cidade. Aparece um boi no meio da ponte. Sim, isso mesmo que vos descrevo; um boi de raça Nelore, pesando mais de meia tonelada enfurecido, balançando a cabeça em plena ponte, desafiando quem é mais corajoso. O boi verso homem. Duas naturezas bem emblemáticas.

Não é a primeira vez que descrevo causo dessa maneira. Um foi contado em Literatura de cordel com o Tema “A história do Conde com o Boi voador.” Vou abrir um parêntese e contar uma de suas estrofes de meu cordel:

 

O Conde Nassau

Fundou a cidade Maurícia

Maior produtora de cana-de-açucar

Uma metrópole de Felícia.

 

Desembarcou na News Holland

Com arquitetos e engenheiros.

Começou a construção,

De uma grande ponte pra passageiros

 

Na travessia: A população

A empreitada: Um engenheiro Judeu

O mês foi Fevereiro

Que impressionou Conde D’eu.

 

Um pilar com pedras foi fincado

Na parte mais profunda do Rio

Capibaribe é seu nome,

Navegador de barco. Até navio!

 

Mas um causo impressionou

No “DIA DE SUA INAUGURAÇÃO”

O CONDE TEVE UMA IDEIA.

P’RA ATRAIR A MULTIDÃO!

 

Engenhoso era Nassau

Espalhou uma grande Notícia!

Faria um BOI VOAR!

EM SUA CIDADE MAURÍCIA.

Coincidência a parte o mês do acontecimento foi fevereiro.  A cidade de Sobral tem um relacionamento histórico, marcante desde sua fundação da Fazenda Caiçara com a renomada Recife dos escritores Mário Sette, João Cabral de Melo Neto, Joaquim Nabuco, Visconde da Boa Vista, Reginaldo Rossi e outros.

 

Fato que ocorreu na mesma época com o Fundador de Recife “Maurício de Nassau” – O Conde com seu boi voador para agarrar pedágio e pagar os empréstimos da tão famosa Ponte do Rio Capibaribe em Recife. Ele; o conde cumpriu sua promessa e fez o boi voar.

 

Quem vos interessar em ler o cordel até o fim é só acessar o tema acima. Vou voltar ao assunto que nos interessa sobre o “Boi trapalhão da Ponte Grande.”

 

Naquele dia de Fevereiro, um boi enfurecido aparece no meio da pista. Quem vinha do Bairro Sinhá Sabóia ao centro da cidade e passava pelo Sobral shopping, não podia atravessar a Ponte Grande. Fazia-se fila de carros, motociclista e pedestre à espera de um corajoso para enfrentar o boi trapalhão. Perdurava-se horas, até que um condutor em um carro de luxo enorme abre a porta e tenta enfrentar o boi trapalhão frente a frente. Abriu os braços, tangeu, bateu os pés, fez missão de ir para cima do tal boi e nada.

 

O boi somente balançava a cabeça e abanava as orelhas enfurecidas. Por aqui, no linguajá nordestino chamamos que o boi estava “Aremado”; mesma coisa de azoado, irritado, zangado, segundo o Dicionário da Língua Portuguesa. Isso acontece quando perde do resto de seu rebanho, ou o caboclo o enfeza.

 

De repente, sem mais nem menos o homem toma um susto. O boi trapalhão parte-lhe para cima e ele corre ao encontro dos carros e pedestre. O boi segue em frente, atropelando tudo o que vê; derrubando motociclista, jogando sua cabeça ao encontro dos carros, dos pedestres, do parapeito da ponte. Parecia uma arena em pleno palco mexicano. Em poucos minutos o estrago estava feito. O boi trapalhão seguiu rumo ao Bairro Dom Expedito descendo uma ladeira que dava para o rio Acaraú.

 

NOTA:

 

No dia 28 de Fevereiro de 1644, na Cidade Maurícia (RECIFE), um boi voador subiu ao céu em forma de Balão. O Conde Maurício de Nassau, com ajuda de marinheiros e uma grandes rodanas encabulou toda a população. O boi tornou-se letra de música de Chico Buarque, peça teatral e hino e Machinhas de Carnavais em Olinda e recife.

 

  • Wilamy Carneiro é historiador, escritor, poeta, professor e memorialista. Autor de Livros; dentre eles o Livro “Os Estados Unidos de Sobral.” “Tempo de Sol” e “Mais uma Vez.”