"Eu sou o caranguejo leite,
Respeite o meu viver,
Estou correndo perigo,
Não mexa comigo,
Que eu também quero crescer!"

Essa era a marchinha composta pelo Antônio Juraci Siqueira, poeta, escritor e educador, que puxava o Bloco do Caranguejo Leite no carnaval de Soure, Pará, anos atrás! De repente, veio a ideia de fazer no mundo dos Humanos, o que a Natureza faz nessa mesma época: o Carnaval! O Ucides, sai pra acasalar e pra crescer! E quando ele está crescendo, o corpo dele fica todo mole e leitoso, daí o nome de caranguejo leite, apelido recebido dos extrativistas dos manguezais, os caranguejeiros! Mas não é um leite da teta de búfala, não! É um leite de matéria orgânica e mineral que torna a carapaça, ou melhor, o exoesqueleto, ou ainda mais diretamente, a casca dele, mole e... leitosa, como se de leite fosse. Pois bem, o Bloco do Caranguejo Leite pegou as ruas e travessas da cidade. Composto por 2 carros, ou seja, uma carroça puxada por búfalo e uma velha caminhonete Toyota Bandeirante, que tinha o apelido de "Clorofila". Os brincantes iam atrás, sem abadás, mas com uma camiseta customizada do bloco. E cantavam: "Eu sou o caranguejo leite..." A fanfarra do Mestre Cupijó animava a todos. Na carroceria da velha Clorofila vinha a performance do Caranguejo-Leite. Um dos brincantes, assumiu o papel do caranga e em gestos quase eróticos e obscenos, se contorcia dentro de uma bacia, ao mesmo tempo que com uma cuia, tomava banho de leite, do mais puro leite de búfala, diga-se de passagem, simbolizando o crescimento do crustáceo. E o cortejo seguia alegre e feliz. Mais atrás, vinha a carroça do búfalo. Na sua carroceria, um caldeirão instalado sobre um fogareiro em brasas, oferecia o mais autêntico e revigorante, pra não dizer afrodisíaco, Caldo de Turu para todos! E a fuzarca seguia, alegre e feliz. A evolução era cadenciada, nem muito rápida, nem muito lenta. O destino era a Quarta Avenida, -- ou será a 4.ª Rua, onde estava instalado o palanque das autoridades para assistir ao desfile oficial. De repente, na altura da Décima Sexta Travessa quase esquina da 3.ª Rua, o inesperado aconteceu: O carro de búfalo que carregava o Caldo de Turu, sacolejou quando uma de suas rodas caiu em um incauto buraco derramando todo Caldo de Turu! Ugh! Ug! O cortejo parou. O caldo de turu inevitavelmente escorreu todo pro chão sujo sem a mínima possibilidade de ser sorvido... Sem chorar pelo caldo derramado, a trupe carnavalesca continuou. A performance, porém, do Caranguejo Leite, continuava à chamar a atenção dos observadores boquiabertos. Alguns mais afoitos e incrédulos, mandavam a molecada fazer a prova dos nove pra ver se realmente era leite que escorria do corpo do caranguejo, quer dizer do humano transfigurado em caranguejo. Finalmente, o bloco chega ao sambódromo de Soure, na Marquês de Sapucaí, digo, na Quarta Avenida, digo, 4.ª Rua.
 Apoteose triunfal do bloco com a carroça do búfalo sem o caldo do turu, mas com um caranguejo completamente leitoso e crescido, que seguiu alegre e feliz até a dispersão final do bloco cantarolando...
"Eu sou o caranguejo leite,
Respeite o meu viver,
Estou correndo perigo,
Não mexa comigo,
Que eu também quero crescer!"